1 Mãezinha!
Quando nos acolheste nos braços, sentiste que o coração se te estalava no peito, à feição de harpa repentinamente acordada por mãos divinas.
2 Rias e choravas, feliz, crendo haver convertido a regaço em ninho de estrelas.
3 Aconchegaste-nos ao colo, qual se trouxesses uma braçada de lírios que orvalhavas de lágrimas.
4 Quantos dias de ansiedade e ventura, sorrindo ao porvir, e quantas noites de vigília e sofrimento, receando perder-nos!…
5 O tempo avançou laureando heróis e exaltando sábios, entretanto, para o teu heroísmo oculto e para a tua sabedoria silenciosa nada recebeste do tempo, senão as farpas de pranto que te sulcaram o rosto e os cabelos brancos que te aureolaram a existência.
6 Depois, mãezinha, viste-nos crescidos e transformados, sem que o amor se te alterasse ou diminuísse nas entranhas do espírito.
7 Muitos de nós fomos afastados de teu convívio, lembrando fontes apartadas de um manancial de carinho, na direção de outros campos…
8 Outros se distanciaram de ti, à maneira de flores arrebatadas ao jardim de teus sonhos para as festas do mundo.
9 Ninguém te percebeu o frio da saudade e nem te viu o espinheiro de aflição atrás dos gestos de paciência, mas, nunca estiveste só…
10 Deus te ensinou a cartilha da ternura e a ciência do sacrifício, clareou-te a fé e sustentou-te a coragem…
11 Quanto a nós, parecíamos desmemoriados e distraídos, no entanto, sabíamos, com toda a nossa alma, que as tuas preces e exemplos nos alcançavam os caminhos mais escuros, soerguendo-nos da queda ou sustando-nos o mergulho no abismo, à maneira das fulgurações estelares, que orientam os passos do viajor, quando a noite se condensa nas trevas…
12 E, ainda hoje, nos instantes de provação, basta que te recordemos o amor para que se nos ilumine o rumo e refaçam as forças.
13 É por isso, mãezinha, que em teu dia de luz, enquanto a música da alegria te homenageia nas praças, nós estamos contigo, no aconchego do lar, para ouvir-te de novo as orações de esperança e beijar-te as mãos, repetindo: bendita sejas!
Meimei