Aluno do curso de Edificações, em Belo Horizonte, Joaquim Afonso visitava sempre os familiares em Campos Altos - MG.
Numa dessas viagens ocorreu o acidente que lhe retiraria a vida física e o convívio mais próximo com os pais, Clóvis Carvalho e Jurandir Afonso Carvalho, e com os irmãos, Lídia, Adriana, Alessandra, Raquel e Júnior. Na foto que apresentamos, Joaquim Afonso aparece ao lado da sua irmã Adriana. [v. pág. 47 do livro impresso.]
Natural de Campos Altos, Joaquim Afonso desencarnou em acidente rodoviário no Natal de 1978, aos 19 anos de idade.
A seguir, apresentaremos algumas palavras de sua genitora e as duas mensagens enviadas pelo nosso jovem autor, através de Chico Xavier.
DEPOIMENTO
Com o inconformismo quase nos levando à loucura, pela perda do filho ainda tão jovem, os amigos buscavam consolar-nos por todos os meios possíveis.
Eu já ouvira falar de Chico Xavier, tinha mesmo vontade de conhecê-lo, mas em circunstâncias mais alegres. Foi quando minha mãe e meus irmãos se dispuseram a levar-me até Uberaba.
Fui, como quem nada quer, levada na esperança de um consolo maior; fazia um mês que meu filho partira. Recebi pequena notícia a respeito dele que me trouxe algum alívio.
Passados dez meses, voltei a Uberaba, mas foi na sétima vez que lá estive, um ano e quatro meses de sua desencarnação, que recebi a tão sonhada mensagem.
Onze meses após ter recebido a primeira carta, recebi a segunda, tão linda quanto a primeira. Aliás, nela, meu filho fala do mesmo modo que o fazia quando entre nós, pois, em suas cartas de Belo Horizonte, também perguntava por todos os irmãos, citando-lhes o nome, do mais velho ao caçula.
As páginas enviadas pelo querido Joaquim Afonso muito nos ajudaram, ensinando-nos a superar a difícil separação, deixando-nos a certeza de que continua conosco.
Jurandir Afonso Carvalho
PRIMEIRA MENSAGEM
1 Querida mãezinha Jurandir, peço a sua bênção, rogando igualmente a Deus nos proteja a todos.
2 Escrevo apressadamente, na certeza de que minhas palavras lhe trarão a tranquilidade precisa.
3 Mamãe, não se julgue culpada pelo fato de havermos regressado a Campos Altos, porque estivesse eu onde estivesse, aquele dia, 18 de dezembro, era meu dia de retorno ao Mundo Espiritual. n
4 Peço a sua calma e fique em paz a meu respeito. Preciso que suas lágrimas sejam de gratidão a Deus e não de mágoa.
5 Lamento que o Roberto e o Vandinho n estivessem na ocorrência, porque ambos são excelentes companheiros que recomendo ao seu cuidado e bondade.
6 Peço dizer ao papai Clóvis que estou bem. O meu avô Joaquim tem sido o meu segundo pai.
7 Mãezinha, recorde nossas queridas Lídia, Adriana, Alessandra, Raquel e o nosso Juninho, e procure estar tranquila. Deus nos protegerá.
8 Beijos de seu filho
Joaquim Afonso Carvalho
19.04.1980.
SEGUNDA MENSAGEM
1 Mamãe Jurandir, abençoe-me.
2 Sinto-a assim de tal modo sozinha que pedi aos mentores que nos dirigem o necessário consentimento para endereçar, ao seu coração querido, algumas palavras que consigam enfeixar os meus pensamentos numa carta mais longa.
3 Agradeço, mamãe, os seus cuidados e a sua saudade.
4 Os filhos e as mães estão interligados mesmo além da morte do corpo, através de fios invisíveis de amor que o tempo não desgasta.
5 Ouvi os seus pensamentos configurando indagações que me comoveram:
“Será, meu Deus, que outras mães situadas na vida com mais amplo reconforto, serão mais anotadas na Vida Espiritual? Por que não consigo romper as barreiras que me impedem ouvir o filho do coração?”
6 Mãezinha querida, para Deus não existem mães diferentes. Todas são obreiras da vida, atendendo aos imperativos das leis que nos regem.
7 Não existem mães abastadas ou mães esquecidas; todas são ricas de amor pela herança de compreensão e ternura com que o Céu as criou para a alegria da Terra.
8 Desejo, saiba que se não me comuniquei até agora, em resposta às suas expectativas, isso acontece em vista da organização de trabalho a que nos cabe atender.
9 Quero dizer-lhe que sabemos quanto lhe custa a viagem de nossa casa até aqui e acompanho os seus sonhos de acalentar-nos um diálogo no qual posso repetir quanto a amo…
10 Observo o seu carinho, poupando cruzeiro a cruzeiro para sua jornada.
A saudade faz prodígio em suas lutas econômicas, a fim de realizar esta romaria de carinho e de fé na imortalidade.
11 Ouço o papai Clóvis a comentar a sua coragem, indagando se você acredita realmente na sobrevivência de seu filho…
12 Compreendo a humildade de suas respostas e os seus pedidos de aprovação, formulados com a timidez respeitosa ao companheiro querido que me deu a existência, em nome de Deus, em sua companhia.
13 Não admita que o papai Clóvis se omita por menosprezo à sua fé. O sofrimento nele é semelhante a uma nascente de pranto mais profundamente instalado nos recessos do seu espírito criativo e valoroso.
14 Deixemos ao papai a escolha do tempo que nos possibilite a conversa escrita, mas façamos isso com o apreço e o carinho que ele nos merece.
15 Entendo hoje com mais segurança a luta do homem de bem, chamado pelas circunstâncias a manter e resguardar uma família numerosa. Nós, porém, oraremos juntos em lugar dele. E falaremos do amor com que lhe seguimos os passos e com que rogamos a Jesus protegê-lo sempre.
16 Mãezinha Jurandir, não permita que a saudade se faça nuvem nos seus pensamentos. É verdade que voltei cedo à Vida Diferente em que me vejo, mas isso não quer dizer que estarei inútil.
17 Meu olhar encontra o seu, quando você imagina me ver na verde extensão da paisagem que emoldura Campos Altos e escuto seu coração a indagar sobre o ponto do espaço em que estará seu filho liberado da experiência física…
18 Não pergunte por isso, porquanto, onde o amor se encontra, aí se reencontram constantemente os que se amam.
19 Tenho melhorado e venho procurando colaborar consigo para que a nossa Lídia e a nossa Adriana, a nossa Alessandra e a nossa Raquel, com o nosso caro Juninho, se desenvolvam felizes.
20 Peço-lhe, guarde intactas nossas esperanças. Não me recorde no acidente em que meu corpo tomou a feição da roupa estragada a golpes violentos da adversidade. Tudo passou.
21 Lembre-me em nossa alegria e em nossa confiança nos dias que são justamente os de agora. Somos felizes de maneira diversa daquela com que esboçávamos o futuro que é hoje o presente.
22 Não se creia menos protegida, porque lhe falta a presença de um filho dentre a meia dúzia de corações que o Senhor lhe confiou.
23 As irmãzinhas amanhã estarão jovens, estudando e trabalhando, e o nosso querido Júnior será um esteio de paz e amor em nossa casa.
24 Pense em vida que não desaparece, porque em verdade, mamãe Jurandir, só existe vida palpitante em toda parte.
25 Aos nossos caros amigos Roberto e Vandinho, companheiros de minha excursão última, as minhas saudações fraternais, com a certeza de que prosseguiremos em abençoada união espiritual.
26 Ao papai Clóvis, o abraço que desejaria doar com os meus melhores sentimentos de respeitosa gratidão. Sei que ele tomará conhecimento de minhas palavras, refletindo-me a mudança, mas me identificará no íntimo, observando que me encontro no anseio de acertar com meus deveres cumpridos, na trilha que ele sempre esperou que fosse a minha estrada no cotidiano.
27 Mãe querida, muito obrigado por seu amor e por sua ternura constante.
28 O vovô Joaquim e a vovó Maria Similiana n aqui se acham comigo e se fazem lembrados à família com os agradecimentos habituais.
29 E enviando muitas flores de carinho ao Júnior e às irmãs queridas, deixo em seu coração ansioso de mãe todo o coração repleto de saudades e esperanças do seu filho,
Joaquim Afonso Carvalho
21.03.1981.
Caio Ramacciotti
Paulo de Tarso Ramacciotti
[1] D. Jurandir vivia martirizada pela saudade e pela ideia de culpa, quanto ao acidente que envolveu o filho, evidentemente sem outra razão que não o carinho e o zelo de genitora amorosa. Joaquim Afonso a tranquiliza do Plano Espiritual.
[2] Roberto e Vandinho, companheiros que se encontravam no mesmo veículo acidentado. Ambos residem em Campos Altos.
[3] Joaquim José Afonso, avô materno, desencarnado em 1959. Maria Similiana, bisavó, há mais de 50 anos na Vida Maior.