COMENTÁRIOS
Fizemos algumas perguntas à Dona Edda, mãe de Márcia e como resposta obtivemos um relato que muito nos ensinará nos problemas da vida.
— O que aconteceu no dia do acidente? Descreva-nos.
Viajávamos de volta da casa de meus pais em Santo Antônio de Pádua, onde fomos comemorar a data natalícia de papai e entregar alguns convites a amigos e familiares para o casamento de Márcia e Horácio.
Eram 19:40 horas e chovia muito. Os vidros do carro estavam totalmente embaçados e nós na travessia da linha férrea na estrada Magé-Manilha, cuja passagem não tinha farol de sinalização que orientasse os motoristas.
Não lembro de mais nada. Apenas ao recobrar os sentidos ouvi minha filha Márcia Regina pedindo socorro, sentada ao meu lado no banco dianteiro. Eu fiquei desacordada por muito tempo.
Fomos colhidos pela composição ferroviária.
Do lado de fora algumas pessoas tentavam abrir as portas do automóvel e não conseguiam.
Eu, com o pulso esquerdo quebrado e com fratura exposta no braço direito, a muito custo consegui destravá-la para que nos socorressem.
Olhei para o volante e Horácio permanecia inerte. Faleceu na hora com violenta pancada no peito.
Soube mais tarde que minha filha Mara Rosângela, com o impacto, saiu pelo vidro dianteiro, ficando estirada no asfalto com o cérebro exposto.
Sentado atrás do lado esquerdo, Antônio José se esvaia em sangue.
Ao ser retirada, percebi que minhas pernas também estavam fraturadas. Notei que Márcia Regina e Antônio José ainda estavam vivos.
Socorridos e levados para um hospital na beira da estrada, pude então me comunicar com os familiares. Uma sobrinha médica e um amigo da família, nos transferiram para o Hospital Universitário Antônio Pedro, em Niterói.
Em delírio constante, após muito tempo, soube que Mara Rosângela escapara com traumatismo craneano e estava em outro andar.
Márcia, Horácio e Antônio José não conseguiram sobreviver.
Depois de muitas cirurgias em mim e em minha filha Mara Rosângela, continuamos lutando para manter o equilíbrio.
— Como era a Márcia na sua convivência?
Uma filha cumpridora dos seus deveres. Além da beleza física, trazia uma beleza interior que nos fazia admirá-la. Era muito meiga.
Nos seus 4 anos de idade, meu marido, militar da ativa, foi transferido para Lages-Santa Catarina. Voltamos após 10 anos para Niterói. Por dificuldades escolares, Márcia foi para Santo Antônio de Pádua para terminar o 1.º Grau. Morando na Vila Militar-Rio, no Meier, terminou o curso científico para, em seguida, fazer o vestibular para medicina, ingressando na UFF, Universidade Federal Fluminense.
— Como a Sra. foi ao Chico?
No leito, com as pernas e braços engessados, pensava muito. Martelava minha cabeça com perguntas.
Por que a minha filha e não eu?
Por quê?
Qual a razão?
Por que acabou a paz e a alegria em minha família tão de repente?
Por quê?
Nos intervalos, nas pausas, projetava-se em minha mente a figura de Chico Xavier, serena, tranquila, transmitindo segurança, bondade e paz. Era isso o que eu precisava, não pensava em outra coisa a não ser em minha desgraça.
Com as operações em mim e minha filha, a difícil locomoção, não tinha condições de enfrentar uma viagem tão longa. Mesmo assim, o meu desespero era tanto, apesar de passados quase seis anos, insistentemente, pedia ao meu marido que me levasse à Uberaba.
Não esperava obrigatoriamente uma mensagem de minha filha, mas a palavra de Chico, ele muito ajudaria no meu reconforto.
Sua bondade era a caridade de que eu precisava.
Suas palavras com certeza me fariam ressuscitar para a esperança.
Esse dia chegou.
Meu marido disse: “Querida, vou levar-te para Uberaba em julho. Marquei minhas férias.” Nesse mês, com a misericórdia de Jesus, estivemos em Uberaba.
A viagem levou 13 horas, o meu desconforto era abafado pela alegria em meu coração.
Chegamos em Uberaba numa quarta feira muito cedo e conseguimos localizar a sua residência e o Grupo Espírita da Prece.
No dia seguinte, ao passarmos em frente à residência do Chico, havia uma caravana de espíritas da cidade de São Paulo, pudemos acompanhá-los a uns 30 quilômetros da cidade para uma sessão em Centro Espírita [em Peirópolis].
Nesse dia, tomamos um ligeiro chá após a conclusão dos trabalhos e aí cumprimentamos o Chico ligeiramente.
Na sexta-feira fomos ao Grupo Espírita de Prece e soubemos por algumas pessoas que sábado também teria reunião espiritual.
Antes de principiar a reunião, convidada para tomar um passe, com dificuldades de locomoção, trouxeram-me uma cadeira onde fiquei sentada na varanda do Centro.
No final da reunião, anunciavam se havia alguém que fosse familiar da Márcia Regina.
Minha felicidade era tanta que minhas pernas perderam o pouco de forças que tinham para me locomover.
Meu marido buscou-me e fomos junto ao Chico para ouvir a carta de Márcia que nos deu imensa felicidade. Ao voltarmos para casa, não éramos mais os mesmos. Nova vida recomeçava.
Chico Xavier é um nome que falamos com muito respeito. Por gratidão e reconhecimento, deveríamos imitá-lo na sua dignidade, serenidade e caridade.
Seus livros representam a presença de Deus e de Jesus em nossos lares.
Os Amigos e Benfeitores Espirituais, os Arautos da Divindade, buscam nesse canal encarnado a pureza que a Doutrina Espírita representa. O Reino de Deus na Terra.
Se ontem protestávamos, hoje agradecemos a Deus o muito que recebemos pelo pouco que representamos na obrigação cristã.
Chico, continue por misericórdia, a ser para nós, o intermediário de Deus.
MENSAGEM DE MÁRCIA REGINA
1 Querida mãezinha Edda e querido papai Elicê, um momento surge em que os filhos se reencontram com os pais e creio que o melhor a fazer, de meu lado, é imaginar-me novamente criança e pedir-lhes a bênção. 2 Quase seis anos se passaram; mas os sinais do acidente ficaram conosco.
3 Vejo mãezinha, graças a Deus, em plena recuperação, depois das cirurgias que acompanhamos com atenção e notamos a nossa Mara bem disposta e refeita.
4 Tanto a dizer depois do desastre que nos surpreendeu por dolorosa provação. 5 Sinceramente, na condição de protagonista da ocorrência, nada sei porque a amnésia me obscureceu totalmente os raciocínios. Nada pude fazer senão entregar-me aos fatos que se verificaram acima de nossa vontade. 6 Não tive cérebro, senão para uma ligeira oração, na qual rogava o amparo de Jesus.
7 Depois, mais nada. Acordei na Boa Esperança, respirando o ar puro que me alcançava os pulmões. 8 Quis gritar de felicidade, supondo-me segura e restabelecida, depois de algum tratamento que me haveria escapado à observação, mas duas senhoras se abeiraram de mim e me pediram reserva e silêncio. 9 Uma delas me recomendou chamá-la por vovó Maria e a outra me solicitou identificá-la por irmã Juliana e partiram para o diálogo em que me reconheci desencarnada, na condição de pessoa ausente de qualquer serviço de identificação na experiência física.
10 Diante de meu assombro as duas me conduziram em carro simples para um parque hospitalar, onde adquiri força para efetuar as perguntas para mim necessárias e inevitáveis. 11 Vim a saber que o nosso Horácio e o amigo Antônio José se encontravam internados em casa de absoluto descanso mental, já que se recusavam a aceitar a realidade da própria desencarnação, à maneira de alienados e, somente mais tarde, consegui os primeiros contatos com ambos, tentando rearmonizar-lhes os pensamentos. 12 Sabem os pais queridos que não me seria possível tão grande transformação sem lágrimas que me lavassem o coração partido de dor.
13 Através das benfeitoras a que me referi, fiz as primeiras visitas à família e observei o que sofreram a mãezinha e a nossa Mara com os bisturis dos cirurgiões, entretanto, ao passo que me reconfortavam ao vê-las em vagaroso reajustamento, sofri ao notar a revolta que lavrava entre os nossos.
14 Encontrei a oração por luz acesa no coração da mãezinha Edda, mas ouvia as imprecações do Marcos e da Mara, dos meus avós e tios com imensa amargura. 15 A filosofia do vovô Procópio, a dor da vovó Juracy e as reclamações da vovó Edina me espantavam.
16 Sei que a bondade de Deus desceu sobre nós e sobre a nossa casa e, mais consolada, registro a felicidade de havermos encontrado no René e na Mariza Terezinha excelentes irmãos que nos prestaram valioso auxílio junto à Mara e ao Marcos Luiz e, por isso, estou mais animada para prosseguir no trabalho de restauração da fé em Deus no coração de nossa gente. 17 As preces da tia Ruth e da tia Maria começaram a me fornecer sólidos alicerces à própria renovação e, por isso, mãezinha Edda, venho rogar-lhe a sustentação de seu ânimo firme, para a vitória sobre as provações que as Leis da Vida nos impuseram, naturalmente com razões que mais tarde conheceremos. 18 Estou quase feliz, não fossem as saudades que me senhoreiam os sentimentos.
19 Para tristeza minha, o Horácio e o Antônio José ainda se entregam à rebeldia, dificultando as melhoras que tanto lhes desejo, no entanto, confio na intervenção da Bondade Divina, em favor deles e em nosso benefício. 20 Precisamos lembrar os acidentados e mutilados que não encontraram qualquer socorro e saibamos agradecer a Deus as bênçãos recebidas.
21 Nunca nos faltou o amparo do mundo e a proteção dos Mensageiros de Jesus e, por isso, não posso esquecer a nossa dívida de profunda gratidão aos Poderes do Céu. 22 Lutando pelas melhoras dos amigos a que me referi, ainda fixados em difíceis processos de inconformação, ainda não pude tratar de mim própria, em matéria de progresso espiritual, mas não perco a esperança e venho abraçá-los com o meu carinho e reconhecimento.
23 Querido papai Elicê e querida mãezinha Edda, não consigo escrever mais. 24 A emoção é uma trave na garganta e as lágrimas me impediriam a coordenação das ideias que, porventura, eu quisesse manter para continuar neste relatório familiar. 25 Por isso, peço aos dois, papai e mamãe, receberem o imenso amor e o carinho imenso, nos muitos beijos da filha sempre mais reconhecida.
Márcia Regina
ESCLARECIMENTOS
Pais: Elicê Wally Vollú e Edda sardenberg Eccard Vollú - Rua Presidente Backer, 75, apto. 502. Niterói. RJ.
Irmãos - Marcos Luiz Eccard Vollú, Mara Rosângela Eccard Vollú, acidentada com traumatismo craneano, sobreviveu milagrosamente.
Maria - Vovó Maria Luiza, bisavó materna de Edda Sardenberg Eccard Vollú, falecida em 1938.
Horácio - Noivo de Márcia Regina, com casamento marcado para 20.01.1979.
Antônio José - Antônio José de Oliveira, namorado de Mara Rosângela.
Procópio - Procópio Eccard Salles, avô materno.
Juracy - Juracy Sardenberg Eccard, avó materna.
Edina - Edina da Silveira Vollú, avó paterna, madrasta de Elicê.
René - René da Mota, marido de Mara Rosângela. Na época ele não era conhecido da família. Mara casou-se 5 anos após o acidente.
Mariza Therezinha - Mariza Therezinha Vollú, irmã de Elicê, tia de Márcia Regina.
Tia Ruth - Ruth Eccard Salles, irmã do avô materno Procópio Eccard Salles.
Tia Maria - Maria Eccard, irmã de Procópio Eccard Salles.
Rubens S. Germinhasi