O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Viveremos sempre — Familiares diversos


5

Nerci Maria Cardoso

Nascimento: 03 de março de 1963.
Desencarnação: 13 de fevereiro de 1983.
Idade: 20 anos.

COMENTÁRIOS


Esta mensagem de Nerci é uma demonstração da vida real, como ponto vital das crenças religiosas.

Como aceitá-las e dimensioná-las na vida humana?

Enquanto Nerci era esclarecida por sua avó Maria Nazária, que ela não conhecera em vida, da sua situação espiritual o mesmo não acontecia com o seu noivo Márcio, encaminhado a uma Instituição Evangélica Espiritual.

Acreditava estar vivo e que nada sofrera, apenas estava em recuperação.

Para o seu esclarecimento, foi preciso ser encaminhado a reuniões de perguntas e respostas para, em grupo, compreender a sua nova realidade.

Nesta carta de Nerci, encontramos pontos de esclarecimentos espirituais importantes.

Mostra que devemos preparar-nos para a volta ao Mundo Espiritual, não só os que já estão na Doutrina mas, também, a orientação familiar, mesmo aos que não aceitam as palavras como verdadeiras.

Na hora do acerto de contas com os débitos assumidos, servirão esses pequenos momentos como lembranças para o alívio e a confirmação das palavras de que foram objeto.

Nerci e Márcio desencarnaram quando voltavam de uma festividade carnavalesca. Não que fossem assíduos foliões, mas naquele ano desejaram conhecer de perto esse tipo de alegria.

Dos cinco ocupantes do veículo, Nerci e Márcio nos bancos dianteiros sofreram todo o impacto da colisão ocasionada pela pista escorregadia, descontrolando o mesmo, direcionando-o de encontro a um poste ali existente.

Nerci desencarnou no local e Márcio cinco dias após. Os outros três ocupantes nada sofreram.

Dois meses antes, seu primo José Demathê Filho desencarnou também em acidente automobilístico em 11.12.1982.

Sua tia, dona Iraides Camillo Demathê, mãe de José, por ter recebido pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, em 13.12.1985 a mensagem do seu querido filho, com a felicidade e a compreensão adquiridas e, solidária à dor de sua irmã, convidou-a para irem até Uberaba.

Lá com certeza encontraria a paz, mesmo sua irmã sendo católica praticante.

Assim fizeram e, por sua vontade, dona Izaildes chegou ao Chico Xavier em 25.4.1986, quando amenizou o seu desespero.

Recebeu o lenitivo para as suas dores.

Nerci lá estava presente.

Pode-se notar que os nomes citados nesta mensagem, não são comuns, fáceis de ser ouvidos, no entanto, estão citados como prova inconteste e que fez dona Izaildes compreender que a vida continua, estando sua filha no aconchego familiar espiritual e, nos momentos possíveis, com a família terrena.

Nova vida, outro ânimo.

Para os familiares de Dona Izaildes, Chico Xavier é o novo marco em suas vidas.

Um ser humilde, simples, um anjo de bondade.

Um instrumento enviado à Terra pelas mãos do Mestre Jesus para alívio dos sofrimentos alheios e grande benfeitor da humanidade. Este Ser que está entre nós para nos ensinar o Evangelho de Jesus.




MENSAGEM DE NERCI MARIA


1 Querida mãezinha Iza, sempre querida mãezinha Izaildes.

2 Apesar do tempo decorrido ainda me vejo sob incrível saudade e sob o enorme espanto com que vi o Márcio e eu desligados do corpo naquela noite. 3 No entanto, eu mesma estava inerme, quebrada, vencida e não conseguia sequer mover os dedos.

4 Uma sensação esquisita se apoderou de mim e reconheci que havíamos, pelos Desígnios de Deus, encontrado a estação terminal de nossas existências e, mentalizando as minhas orações nos restos de lucidez com os quais poderia contar, caí num desmaio, embora desenvolvesse todos os potenciais de minha vontade de Carnaval. 5 Antes de sair procurava eu em seus olhos a aprovação necessária, entretanto, psicologicamente lhe observava apenas a inquietação que eu trazia no íntimo.

6 Notei que a senhora e meu pai consentiram que eu fosse, mais pelo Márcio, sempre correto nas atitudes, do que por mim mesma que trazia comigo muita inexperiência. 7 Era a primeira vez que eu me ausentava de casa para uma festa daquela natureza e não me sentia satisfeita comigo própria.

8 Despedi-me buscando-lhe ansiosamente a alegria que eu mesma não experimentava e vesti-me com sobriedade, tal qual a senhora desejava.

9 Tudo, porém, estava sem graça para mim e, se mostrava algum contentamento, era pelo noivo querido que não merecia qualquer nota de pessimismo em meu procedimento.

10 Não consegui encontrar significação em quadro algum que me caía sob os olhos e, com isso, foi com satisfação que aceitei o caminho da volta para a casa.

11 A marcha do carro era regular, mas eu não sei se o Márcio, habituado às reuniões elevadas pelo sentido evangélico que os pais imprimiam às escolhas para os encontros com os amigos, observei-o entristecido e como que, intimamente insatisfeito com ele próprio.

12 Amigos vinham em nossa companhia mas não conseguiam a nossa adesão aos diálogos que mantinham. Chegou o momento que considero de supremo testemunho de fé.

13 O Márcio sentia que se amontoavam obstáculos à frente e, num instante em que se viu em apuros para governar a máquina, vi que ele pisou no acelerador, um tanto nervoso e diferente, e o resultado é o que não precisamos recordar minuciosamente.

14 Estávamos ambos à frente e fomos os primeiros e depois vim a saber que fomos os únicos a ser colhidos ou defrontados pelo poste que, de certa forma, nos esmagou de maneira irremediável.

15 Compreenderá o seu coração materno que fiz quanto possível para socorrê-lo e para não me enfraquecer. De nada mais tomei conhecimento, pois me via reduzida a um trapo de criatura sem qualquer recurso para me preservar ou me defender…

16 Percebi que o melhor para mim seria entregar-me àquela inconsciência que me invadia a cabeça e à insensibilidade que me tomava o corpo de assalto e rendi-me à intimação daquele sofrimento com a minha confiança em Deus.

17 Não sei como classificar o fenômeno que me envolvia mas, para simplificar, digo-lhe que dormi e conformei-me.

18 Não tive tempo de pensar nos pais queridos e nos queridos irmãos, por que fora conduzida, de inesperado, à triste situação dos que se sentem claramente despojados de tudo quanto supõem possuir.

19 Desconheço a conta dos meus dias de descanso ou de inércia enfermiça. Não sei bem, mas acordei num dia claro, guardando o meu coração escuro e magoado pela incerteza que me acorrentava espiritualmente a uma dor, cuja força não supusera existir.

20 Aproximou-se de mim a generosa protetora que me disse ser nossa parenta e chamar-se Maria Nazária. Ela se inclinou, abraçou e beijou-me no leito em que me achava prostrada, entendendo decerto que eu não dispunha de qualquer energia para movimentar-me.

21 Minha voz jazia como que escondida na garganta, mas a audição continuava firme.
Ouvi-lhe as palavras de bênçãos e comovi-me quando me chamou por “neta do coração”.

22 Ela compreendeu que a palavra ainda não me fora restituída e não insistiu em dialogar comigo. Apenas me solicitou calma e repouso, e acentuou que chegaria a ocasião de conversarmos livremente.

23 Este dia apareceu quando meus órgãos vocais me pareceram reconstituídos e, só então, tive as informações desejadas acerca do acidente de que fôramos os frágeis protagonistas.

24 Perguntei por Márcio e a vó Maria Nazária me esclareceu que ele se encontrava num Instituto Evangélico para tratamento das sequelas que lhe ficaram intensas quanto ao desastre havido. 25 Pedi para que me permitissem uma visita ao nosso lar de Joinvile, mas a benfeitora me explicou que isso levaria tempo, de vez que os processos emocionais negativos poderiam talvez me visitar o cérebro combalido, mas consentiu em acompanhar-me para rever o nosso Márcio que se achava sob proteção segura, mas durante várias visitas que lhe fiz não demonstrou reconhecer-me e, com grande assombro para mim, não acreditava que houvéssemos passado pela morte do corpo.

26 Afligi-me por tudo isso, no entanto, apareceu o momento em que ele me reconheceu, como quem acordava de uma estranha alucinação.

27 Revelou alegria e pareceu-me seguro de si, entretanto, persistia admitindo que não havíamos passado pela desencarnação e sim que fôramos internados em casas especializadas para recuperação de acidentados.   28 Isso perdurou por meses, até que compareceu em minha companhia a reuniões dedicadas a perguntas e respostas, e, achando-nos em grupo, viu-se com mais facilidade para abrir-se à realidade espiritual.

29 Nesse ponto de minhas experiências já havia visitado a nossa casa por várias vezes, abraçando os pais queridos e registrando-lhes a dor, ao lado dos irmãos que permaneciam em minha saudade incessante. Nerian, Nerli, Nerceli, Ci e o Cláudio Luiz, todos os irmãos queridos me pressentiam a presença, no entanto, não me viam, nem escutavam.

30 A vovó Maria Nazária me proporcionou esclarecimento sobre a nova dimensão vibratória em que nos achávamos e tenho procurado aprender a trabalhar e a servir com ela, tentando o esquecimento de mim própria e aceitando o Márcio, sempre que se nos faz possível a reaproximação, com as dúvidas dele acerca dos destinos da alma.

31 Felizmente, agora estou com os pés no chão da realidade e agradeço as preces e os pensamentos carinhosos de meus pais e de meus irmãos, dos amigos e pessoas estimadas que ainda me recordam.

32 Peço-lhe dar as minhas notícias à dona Vânia, que considero igualmente por mãe do coração e conto com as suas preces em meu favor e em benefício do Márcio.

33 Creiam que as pessoas submetidas à provação de acidentes semelhantes ao que sofremos, despertam aqui nem sempre concordes umas com as outras.

34 Parece-me que aí na Vida Física é fácil aparentar uma condição íntima que não é precisamente a nossa, sem qualquer ideia de fingimento.

35 Trata-se de um problema da personalidade porque, por aqui, pelo menos na região que nos oferece moradia à minha avó Nazária e a mim, não conseguimos ocultar qualidade alguma do que somos, porque tenho a impressão de que em qualquer encontro o pensamento voa, ou se derrama dentro de nós.   36 Isso alterou um tanto meu relacionamento com o querido Márcio, mas espero que ele se reajuste e que sejamos duas pessoas pensando pelos mesmos prismas.

37 Querida mãezinha Isaildes, perdoe-me a carta longa, mas a vovó julgou necessário que me exprimisse sem qualquer omissão de mim mesmo.

38 Esperando que o seu coração de mãe e meu pai estejam tranquilos a meu respeito, beija-lhes as mãos queridas, com muito afeto aos meus irmãos, a filha saudosa mas sempre confiante na proteção de Deus.

39 Sempre a sua

Nerci




ESCLARECIMENTOS


Pais: Atahir de Deus Cardoso e Izaildes Camillo Cardoso - Rua Gustavo Schocheller, 1118. Joinvile. SC.


Irmãos - Nerian José Cardoso, Nerli Celso Cardoso, Nerceli Cardoso, Nerlici Santa Cardoso, Cláudio Luiz Cardoso.

Maria Nazária - Avó materna, desencarnada em 27.05.1950.

Márcio Baumer - Noivo, desencarnado cinco dias após o acidente.

Vani Baumer - Mãe de Márcio Baumer.


Rubens S. Germinhasi


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir