1 — A vida é sombra de ilusão funesta…
Exclamava chorando, ao fim do dia.
— Lodo, miséria e pó, na noite fria…
De toda lide humana é quanto resta.
2 — E o amor, a beleza, e o sol em festa?
— Cinza e nada!… — a mim mesmo respondia.
— E o pesadelo estranho da agonia
Nos tormentos da angústia que me empesta?
3 Pranto e dor estrangulam-me a garganta…
Nisso, porém, a morte calma e santa
Vence o gelo da treva que me invade.
4 Partem-se algemas… Luzes brilham perto.
E, deslumbrado, escuto, enfim liberto,
A divina canção da Eternidade.
Antônio Nobre
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