Continuando, quanto possível, a série de estudos da mente desencarnada, em posição de sofrimento, além do sepulcro, na noite de 15 de março de 1956 nossos Benfeitores Espirituais trouxeram à comunicação o Espírito da jovem Hilda, n suicida em reajuste, que nos ofertou interessantes apontamentos em torno da sua situação.
1 Amigos:
Há duas palavras com significação muito diferente na Terra e na Vida Espiritual.
Uma delas é “consciência”, a outra é “responsabilidade”.
2 No Plano físico, muitas vezes conseguimos sufocar a primeira e iludir a segunda temporariamente, mas, no campo das Verdades Eternas, não será possível adormecer ou enganar uma e outra.
3 A consciência revela-nos tais quais somos, seja onde for, e a responsabilidade marca-nos a fronte com os nossos merecimentos, culpas ou compromissos.
4 Enquanto desfrutais o aprendizado na experiência humana, acautelai-vos na conceituação dessas duas forças, porque o pensamento é a energia coagulante de nossas aspirações e desejos.
Por isso, não fugiremos aos resultados da própria ação.
5 Fala-vos humilde companheira que ainda sofre, depois de aflitiva tragédia no suicídio, alguém que conhece de perto a responsabilidade na queda a que se arrojou, infeliz.
6 O pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que colocamos na casa de nossa mente.
7 De instante a instante, a corrupção se dilata e atraímos em nosso desfavor todos aqueles elementos que se afinam com a nossa invigilância e que se sentem garantidos por nossa incúria, presidindo-nos a perturbação que fatalmente nos arrasta a grande perda.
8 Obsidiada fui eu, é verdade.
Jovem caprichosa, contrariada em meus impulsos afetivos, acariciei a ideia da fuga, menoscabando todos os favores que a Providência Divina me concedera à estrada primaveril.
9 Acalentei a ideia do suicídio com volúpia e, com isso, através dela, fortaleci as ligações deploráveis com os desafetos de meu passado, que falava mais alto no presente.
10 Esqueci-me dos generosos progenitores, a quem devia ternura; dos familiares, junto dos quais me empenhara em abençoadas dívidas de serviço; olvidei meus amigos, cuja simpatia poderia tomar por valioso escudo em minha justa defesa, e desviei-me do campo de sagradas obrigações, ignorando deliberadamente que elas representavam os instrumentos de minha restauração espiritual.
11 Refletia no suicídio com a expectação de quem se encaminhava para uma porta libertadora, tentando, inutilmente, fugir de mim mesma.
12 E, nesse passo desacertado, todas as cadeias do meu pretérito se reconstituíram, religando-me às trevas interiores, até que numa noite de supremo infortúnio empunhei a taça fatídica que me liquidaria a existência na carne.
13 Refiro-me a essa hora terrível e inolvidável, para fortalecer em vosso espírito a responsabilidade do pensamento criado, alimentado, e vivido…
14 No momento cruel, um raio de luz clareou-me por dentro!…
Eu não deveria morrer assim, — comecei a pensar.
Cabia-me guardar nos ombros, por título de glória, a cruz que o Senhor me confiara!…
15 Imensa repugnância pela deserção, de súbito, iluminou-me a alma; entretanto, na penumbra do quarto, rostos sinistros se materializaram de leve e braços hirsutos me rodearam.
16 Vozes inesquecíveis e cavernosas infundiram-me estranho pavor, exclamando: — “É preciso beber.”
17 A bênção do socorro celeste fora como que abafada por todas as correntes de treva que eu mesma nutrira.
18 Debalde minha mão trêmula ansiou desfazer-se do líquido fatal.
19 Esvaíram-se-me as forças.
Senti-me desequilibrada e, embora sustentasse a consciência do meu gesto, sorvi, quase sem querer, a poção com que meu corpo se rendeu ao sepulcro.
20 Em verdade, eu era obsidiada…
Sofria a perseguição de adversários, residentes na sombra, mas perseguição que eu mesma sustentei com a minha desídia e ociosidade mental.
21 Corporificara, imprevidente, todas as forças que, na extrema hora, me facilitaram a queda.
22 Conservando a ideia lamentável, acabei lamentando a minha própria ruína.
Em razão disso, padeci, depois do túmulo, todas as humilhações que podem rebaixar a mulher indefesa…
23 Agora, que se me refazem as energias, recebi a graça de acordar nos amigos encarnados a noção de “responsabilidade” e “consciência”, no campo das imagens que nós mesmos criamos e alimentamos, serviço esse a que me consagrei, até que novo estágio entre os homens me imponha a recapitulação total da prova em que vim a desfalecer.
24 É por essa razão que terminamos as nossas frases despretensiosas, lembrando a vós outros que o pensamento deplorável, na vida íntima, é assim como o detrito que guardamos irrefletidamente em nosso templo doméstico.
25 Se somos atenciosos para com a higiene exterior, usando desinfetantes e instrumento de limpeza, assegurando a saúde e a tranquilidade, movimentemos também o trabalho, a bondade e o estudo, contra a dominação do pensamento infeliz, logo que o pensamento infeliz se esboce levemente na tela de nossos desejos imanifestos.
26 Cumpramos nossas obrigações, visitemos o amigo enfermo, atendamos à criança desventurada, procuremos a execução de nossas tarefas, busquemos o convívio do livro nobre, tentemos a conversação robusta e edificante, refugiemo-nos no santuário da prece e devotemo-nos à felicidade do próximo, instalando-nos sob a tutela do bem e agindo sempre contra o pensamento insensato, porque, através dele, a obsessão se insinua, a perseguição se materializa, e, quando acordamos, diante da própria responsabilidade, muitas vezes a nossa consciência chora tarde demais.
Hilda