O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Vozes do Grande Além — Autores diversos


30 n

O Homem e o Tempo

Terminávamos as nossas atividades na noite de 5 de janeiro de 1956, quando fomos tomados de grande alegria. Pela primeira vez em nossa casa, compareceu o grande poeta português Antero de Quental n à manifestação psicofônica, e, usando mímica e inflexão singularíssimas, ditou os dois sonetos intitulados “O Homem e o Tempo” que, ainda hoje, nos tocam profundamente a sensibilidade.


I


 1 Disse o Homem ao Tempo: — Ó gênio triste!

  Onde a tua caverna horrenda e escura?

  Por que trazes velhice e desventura

  À minha carne que te não resiste?


 2 Abomino-te a clava estranha e dura

  Que dilacera tudo quanto existe!…

  Por que razão me segues, lança em riste,

  Estendendo-me as noites de amargura?


 3 Por que fazes o riso envolto em pranto

  E derramas o fel do desencanto

  No doce vinho da felicidade?


 4 Quem és tu? Monstro ou deus, arcanjo ou fera?

  Onde o ninho de sombra que te espera

  Nos remotos confins da Eternidade?!


II


 1 Mas o Tempo exclamou: — Ergue-te e lida!…

  Sou o pajem divino que te exorta

  A seguir para os Céus, de porta em porta,

  Amparando-te os passos na subida…


 2 Eras apenas larva indefinida

  Quando arranquei-te à treva fria e morta.

  Desde então, sou a luz que te transporta,

  De forma em forma, para a Grande Vida.


 3 Dou-te alegria e dor, miséria e glória,

  Para que guardes, puro, na memória,

  O amor de Deus que, em tudo, anda disperso…


 4 Louva o trabalho que te imponho aos dias.

  Sem meus braços irmãos não passarias

  De um verme preso às furnas do Universo.


Antero de Quental


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir