Depois de prolongada ausência, o Espírito de Dias da Cruz n compareceu em nosso grupo, na noite de 29 de setembro de 1955, e, controlando as faculdades do médium, pronunciou notável estudo em torno da autoflagelação, estudo esse que passamos a apresentar.
1 Meus amigos:
Embora não nos seja possível, por enquanto, apreciar convosco a fisiologia da alma, como seria desejável, de modo a imprimir ampla clareza ao nosso estudo, para breve comentário, em torno da flagelação que muitas vezes impomos, inadvertidamente, a nós mesmos, imaginemos o corpo terrestre como sendo a máquina da vida humana, através da qual a mente se manifesta, valendo-se de três dínamos geradores, com funções específicas, não obstante extremamente ligados entre si por fios e condutos, de variada natureza.
2 O ventre é o dínamo inferior.
3 O tórax é o dínamo intermediário.
4 O cerebelo é o dínamo superior.
5 O primeiro recolhe os elementos que lhe são fornecidos pelo meio externo, expresso na alimentação usual, e fabrica uma pasta aquosa, adequada à sustentação do organismo.
6 O segundo recebe esse material e, combinando-o com os recursos nutritivos do ar atmosférico, transmuta-o em líquido dinâmico.
7 O terceiro apropria-se desse líquido, gerando correntes de energia incessante.
8 No dínamo-ventre, detemos a produção do quilo.
9 No dínamo-tórax, presenciamos a metamorfose do quilo em glóbulo sanguíneo.
10 No dínamo-cerebelo, reparamos a transubstanciação do glóbulo sanguíneo em fluido nervoso.
11 Na parte superior da região cerebral, temos o córtex encefálico, representando a sede do Espírito, algo semelhante a uma cabine de controle, ou a uma secretária simbólica, em que o “eu” coordena as suas decisões e produz a energia mental com que governa os dínamos geradores a que nos reportamos.
12 O ser humano, desse modo, em sua expressão fisiológica, considerado superficialmente, pode ser comparado a uma usina inteligente, operando no campo da vida, em câmbio de emissão e recepção.
13 Concentramos, assim, força mental em ação contínua e despendemo-la nos mínimos atos da existência, através dos múltiplos fenômenos da atenção com que assimilamos as nossas experiências diuturnas, atuando sobre as criaturas e coisas que nos cercam e sendo por elas constantemente influenciados.
14 Toda vez, contudo, em que nos tresmalhamos na cólera ou na crueldade, contrariando os dispositivos da Lei de Deus, que é amor, exteriorizamos correntes de enfermidade e de morte, que, atingindo ou não o alvo de nossa intemperança, se voltam fatalmente contra nós, pelo princípio inelutável da atração que podemos observar no ímã comum.
15 Em nossas crises de revolta e desesperação, de maledicência e leviandade, provocamos sobre nós verdadeira tempestade magnética que nos desorganiza o veículo de manifestação, seja nos Círculos espirituais em que nos encontramos, ou, na Terra, enquanto envergamos o envoltório de matéria densa, sobre a qual os efeitos de nossas agressões mentais, verbais ou físicas, assumem o caráter de variadas moléstias, segundo o ponto vulnerável de nossa usina orgânica, mas particularmente sobre o mundo cerebral em que as vibrações desvairadas de nossa impulsividade mal dirigida criam doenças neuropsíquicas, de diagnose complexa, desde a cefalalgia à meningite e desde a melancolia corriqueira à loucura inabordável.
16 Toda violência praticada por nós, contra os outros, significa dilaceração em nós mesmos.
17 Guardemo-nos, assim, na humildade
e na tolerância, cumprindo nossos deveres para com o próximo e para
com as nossas próprias almas, porque o julgamento essencial daqueles
que nos cercam, em verdade, não nos pertence.
18 Desempenhando pacificamente as nossas obrigações, evitaremos as deploráveis ocorrências da autoflagelação, em que quase sempre nos submergimos nas trevas do suicídio indireto, com graves compromissos.
19 Preservando-nos, pois, contra semelhante calamidade, não nos esqueçamos da advertência do nosso Divino Mestre no versículo 41, do capítulo 26, das anotações do apóstolo Mateus: — “Orai e vigiai, para não entrardes em tentação.”
Dias da Cruz