O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Viajores da luz — Familiares diversos


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Domingos Pignatari

A mensagem de DOMINGOS PIGNATARI, que o leitor encontra nas páginas seguintes, representa um cântico de suave beleza. É a exteriorização da grandeza de espírito de um homem que lutou heroicamente na Terra, galgando posições, mercê da sua índole criativa de lidador do progresso comunitário. Entretanto, nos derradeiros tempos de permanência na Terra, Domingos Pignatari, passando pelo abençoado cadinho da dor, encontrou-se consigo mesmo e com Jesus, através das belas páginas de renúncia e sofrimento que lhe engrandeceram a vida.

Vitimado por moléstia consumptiva, consciente da luta orgânica que sustentava, o companheiro não se dobrou.

Trabalhou e serviu sempre.

De fato, Dominguinho, como era conhecido na intimidade — e a pena mediúnica de Chico Xavier nos surpreende com tal detalhe — tão logo compreendeu que já não lhe restava muito tempo de permanência no mundo, passou a cultivar com sofreguidão os valores do espírito, concomitantemente com as suas atividades respeitáveis no campo profissional.

De tal forma identificou-se Dominguinho com a causa do amor ao próximo que ao desencarnar pôde reconhecer com naturalidade que as suas tarefas no campo físico haviam cessado e com elas se lhe cessara igualmente a dor física, difícil de suportar.

Natural de Taquaritinga, SP, Domingos Pignatari, nasceu no dia 11 de novembro de 1927 e faleceu na capital paulista, no hospital A. C. Camargo, na tarde de 14 de fevereiro de 1979.

Em sua mensagem, psicografada por Chico Xavier, 6 meses após seu falecimento, conta-nos com singular beleza as sensações que seu Espírito experimentou a partir dos últimos momentos de vida na Terra. É realmente comovedora a descrição que faz ao sentir no Hospital A. C. Camargo de São Paulo, que sua hora havia chegado: “Percebia no Camargo que minhas forças esmoreciam”.

Acostumados que estamos à análise das mensagens através de Chico Xavier, por força do nosso ideal e de nossa participação em alguns dos livros do médium, somos obrigados a reconhecer que as palavras do Domingos Pignatari nos emocionaram muito pela simplicidade, justeza e lirismo com que conversa com a esposa querida. A precisão das narrativas em torno dos momentos últimos na Terra e das horas primeiras no Plano Espiritual, quando vê o próprio corpo velado no Centro do Professorado Paulista de Votuporanga, ou quando descreve cenas de sua meninice que lhe afloram à mente, são dignos de destaque, pela sensibilidade acurada do Espírito de Dominguinho e pela exatidão da filtragem mediúnica. Chico Xavier não conhece Taquaritinga dos dias de hoje, e não a conheceu à época da infância de Domingos Pignatari. Como explicar, senão pela autenticidade da comunicação dos “mortos” com os ”vivos”, estas palavras recolhidas à mensagem:

“Taquaritinga e arredores, a meninice, os afagos de minha mãe Júlia e o trabalho árduo de meu pai Francisco a fim de manter-nos… as ruas ensolaradas, o Colégio Nossa Senhora da Consolação, as paisagens que desapareciam para dar expansão às exigências da cidade moça que crescia e crescia…”

Pois bem, os pais de Dominguinho se chamavam realmente Júlia e Francisco e Chico Xavier não o sabia. O Colégio Nossa Senhora da Consolação — onde Domingos Pignatari fez o Curso Primário — há 7 anos não mais existe. Há, em seu lugar, a Escola Comercial Dr. Aimoré Salerno.

A mensagem, no entanto, dirá mais ao leitor e depois dela voltaremos aos comentários. Domingos Pignatari era casado com a Sra. Elza Scutari Pignatari e deixou os seguintes filhos: Mirtes, Domingos Pignatari Júnior, Mirley e Elza Mara.




MENSAGEM DE DOMINGOS PIGNATARI  n


1 Querida Elza, 
Deus nos abençoe neste grande momento.

2 Grande momento em que solicitei tanto de nossos instrutores a oportunidade de usar o chamado telefone da psicografia.

3 Estou emocionado; pela primeira vez, sinto que as letras humanas são ondas de movimento condicionado que nos expressam os pensamentos. Tudo é simples e complexo, sem que me seja possível a definição do plano emotivo em que estou penetrando, com o objetivo de transmitir a você e aos nossos as minhas notícias.

4 Vejo mãos que me auxiliam. Quero controlar os impulsos de formação da escrita, no entanto, parece-me que sou amparado a fim de ganhar tempo, expressando o máximo de meus sentimentos no mínimo de minutos.
Devo aproveitar o ensejo e prosseguir.

5 Querida esposa, não fossem as saudades que constituem problemas na Esfera nova de vivência em que me vejo, tudo estaria bem. Sinto, porém, a falta de sua presença e da presença dos filhos, dos familiares e dos amigos e isso me impede assimilar como desejaria, toda a renovação de que me reconheço objeto. 6 Ainda assim, creio que me reintegro na Vida Espiritual sem dificuldades maiores. 7 A fé iluminada de lógica, que tive o privilégio de cultivar, representa valiosa cobertura, agora, em meu favor.

8 Percebia no Camargo que as minhas forças esmoreciam. Passei o domingo dia 11 de fevereiro, pensando e repensando, conferindo por dentro de mim mesmo a gravidade de minha situação… mas não registrava qualquer sinal que se reportasse a desencarnação. 9 Orava no silêncio, sem palavras e sem quaisquer manifestações exteriores, qual se me visse obrigado a satisfazer invencível compulsão… 10 A verdade é que no dia seguinte, veio o sono de que mantinha prévio conhecimento, através de comunicações de companheiros desencarnados…  11 Um sono pesado em que as lembranças do passado me renasciam na memória.

12 Taquaratinga e arredores, a meninice, os afagos de minha mãe Júlia e o trabalho árduo de meu pai Francisco n a fim de manter-nos… As ruas ensolaradas, o Colégio Nossa Senhora da Consolação, as paisagens que desapareciam para dar expansão às exigências da cidade moça que crescia e crescia… Depois, Votuporanga e a luta abençoada e correta para firmar-nos. Tudo o que se referia aos dias de paz e dificuldade, os acontecimentos pequeninos e as grandes ocorrências que se desenrolavam em meu pensamento, como num sonho que, por fim, assumiu a forma de pesadelo, porquanto queria agitadamente retomar o corpo, sem conseguir… 13 Vozes amigas me recomendavam paciência e descanso… Procurei obedecer e dormi de verdade, porque as imagens evocadas se esvaíram na neblina em que se me afundava o entendimento e, quando acordei, me vi entre os amigos e os familiares da nossa cidade, no Centro do Professorado Paulista. 14 Vi meu corpo com segurança e fiz força para não me espantar, criando problemas.

15 O que se passou comigo nos domínios da emoção, não sei descrever. Tive a ideia de que era transportado pela força de meu próprio pensamento de um lugar para outro…

16 Onde se pronunciava o meu nome com mais calor de opinião, aí me encontrava, como que obrigado por energias desconhecidas a escutar o que se falava a respeito do pobre servidor da comunidade que eu desejava ser, na altura em que os amigos me colocavam.

17 Querida esposa, tudo foi como se devesse revisar minhas tarefas num relâmpago. 18 Aqui me dirijo especialmente ao prezado Romeu para dizer que me reconheci tão pequeno ante a grandeza daqueles companheiros de ideal e de luta! Falo ao Romeu, porque vejo na presença dele e do Alceu, n a retaguarda de tanta gente boa que me retinha nas vizinhanças do corpo que me propunha a deixar.

19 Chorei quando o Nucci, n o nosso estimado Prefeito, se referiu ao meu nome qual se lhe fosse um irmão e sensibilizei-me profundamente, quando o nosso amigo Paschoalotti n solicitou homenagens que eu não merecia.

20 Os amigos do Rotary, da Santa Casa, do Clube, n de tantas instituições outras me comoviam todas as fibras do espírito e me sentia, entre a oração e o assombro, à maneira da criança que desconhece o que lhe caiba fazer nos primeiros instantes de escola… 21 Por fim, entreguei-me à prece regada de lágrimas, porque me lembravam com tanto respeito e tanto amor e eu me via ali, à feição do homem despojado de tudo, ignorando o ponto da vida em que as minhas experiências precisavam recomeçar…

22 Queria permanecer ao lado da Esposa e dos filhos queridos, dos pais abençoados e dos irmãos, no entanto, o receio de assumir qualquer atitude inconveniente, perante a forma inanimada, me impeliu a procurar o Centro ou a Creche n para repousar… 23 Foi então que a emoção se me agigantou no peito, como se o espanto feliz me induzisse a pensar numa segunda desencarnação.

24 Na casa da Irmã Elvira, junto às crianças, vi um grupo de amigos que me abraçavam… Eram eles o Hilário, o Lidaí, o padre Vicente Ruffo, com alguns irmãos de Taquaritinga, o irmão Braghetti, o irmão Davoglio, o irmão Constantini, companheiros de meu pai que não nos haviam esquecido…  25 Amigos outros às dezenas e a própria Irmã Elvira Grisi se prontificaram a orar comigo e foi na música dessa prece comovente que me esqueci do corpo e repousei.

26 Desde então, do ponto de vista da compreensão espiritual, tudo vai bem.
Compreendo que um homem de vários instrumentos, qual fui, não poderia ter deixado a vida física sem problemas e procurei acalmar-me.

27 Querida Elza, você, a nossa Mirtes, o Júnior, a Mirley, a Elza Mara e toda a nossa gente de casa estão cada vez mais vivos em meu coração.

28 Tive o reconforto de acompanhar meus pais que vieram depois de mim mesmo.
A família por aqui está se ampliando. O meu pai Francisco, a mama Júlia, o Antônio, a Catharina, n e eu, ao lado de alguns outros, vamos aumentando o núcleo familiar.

29 Desejo a todos os que ficaram felicidade e vida longa, no entanto, a verdade é que todos passaremos pelo mesmo portão libertador.

30 Noto entre os nossos nesta reunião o sofrimento dos amigos Aranádio e Terezinha, n relembrando a separação da Sídia. Quero dizer-lhes, de minha parte, que a filhinha vai seguindo bem. Hospitais daí da Terra se continuam em hospitais mais aperfeiçoados daqui, e tratamentos não terminam assim depressa, quanto se imagina por aí, para que os egressos destes sítios, em que presentemente me encontro, se vejam plenamente recuperados. 31 Felizmente, encontramos muito amor com a ciência que nos acolhe, e, nossos amigos, estejam convencidos de que a jovem filhinha se encontra na melhor condição possível para quem retornou à Vida Maior com tanta juventude e tanta vitalidade.

32 Querida Elza, peço a você paciência e coragem.  33 A maior riqueza é aquela que se acumula no bem praticado. 34 Diga aos nossos entes queridos que continuo com as minhas ideias, fundamentadas no “servir para melhorar”  35 e que o trabalho no bem encerra em si o maior investimento que se pode efetuar em nosso próprio benefício.

36 Desejava escrever muito, no entanto, é preciso terminar.

37 Deus abençoe aos filhos queridos e aos netos que vão formando novas esperanças à frente do futuro. 38 Ao genro, à Maria do Carmo, aos irmãos e especialmente à nossa Maria do Rosário, n transmito as notícias dos pais queridos que abençoam a todos e que, unidos no mundo, que foram sempre, aqui prosseguem juntos no mesmo esforço de total restauração.

39 O mundo das notícias se amplia e não posso continuar.

40 A todos os corações amigos, na família das paredes domésticas e na família da vida comunitária, os meus agradecimentos.

41 É impossível resumir numa carta o que sinto no intercâmbio a que me entrego. Seria o mesmo que desejar trazer um rio para dentro de um dedal.

42 O que pude transmitir, porém, me alegra e reconforta.

43 Querida companheira de meu coração e de minha vida, receba com os amigos presentes e ausentes, com todos os nossos afetos e joias do lar, o carinho e a gratidão imensa do esposo reconhecido que se sente feliz em assinar esta carta, do sempre seu Dominguinho,


Domingos Pignatari




NOTAS E COMENTÁRIOS

À mensagem de Domingos Pignatari


Além dos apontamentos anteriores, são os seguintes os dados elucidativos da mensagem de Domingos Pignatari recebida 6 meses após sua desencarnação:

1 - Júlia e Francisco — pais de Domingos, falecidos no dia 4 de junho de 1979, 4 meses após a morte do filho. Curioso destacar, que D. Júlia e o Sr. Francisco faleceram de morte natural, no mesmo dia, com diferença de 12 horas; ambos já se encontravam enfermos há algum tempo.

2 - Romeu Grisi e Alceu Sestini, amigos de Votuporanga.

3 - Nucci — Dr. João Antônio Nucci, Prefeito de Votuporanga à época do falecimento de Domingos e seu amigo de infância.

4 - Paschoalotti — Egydio Luiz Paschoalotti, então Presidente da Associação Comercial e Industrial de Votuporanga. É importante observar que realmente as duas personalidades citadas se pronunciaram no necrológio de Domingos, tal qual ele próprio menciona.

5 - Rotary, Santa Casa e Clube — Rotary Clube local de que era membro, Santa Casa de Misericórdia de que era Vice-Provedor, e o Votuporanga Clube.

6 - Centro e Creche — Centro Espírita Emmanuel e a Creche da Sociedade Beneficente Irmã Elvira, são instituições de Votuporanga, dirigidas por Romeu Grisi e às quais Domingos se achava ligado nos últimos tempos.

7 - O pai Francisco, a mama Júlia, o Antônio, a Catharina — Observar o mama Júlia, pois, segundo seus familiares, assim, por vezes, Dominguinho chamava a genitora. Antônio Pignatari, tio paterno, faleceu em dezembro de 1971 e Catharina Pignatari, tia-paterna, desencarnou em abril de 1977.

8 - Aranádio Rosa da Silva e Terezinha — amigos de Votuporanga, presentes à reunião de Uberaba; a filha, Sídia Rosa Mara da Silva, falecera aos 19 anos, em maio de 1979.

9 - Ao genro, à Maria do Carmo, aos irmãos e especialmente à nossa Maria do Rosário — Estavam os familiares de Domingos presentes à reunião. O genro é Otávio Micelli Júnior; Maria do Carmo Silveira Pignatari é nora, casada com o filho, Domingos Pignatari Jr., Maria do Rosário Pignatari dos Santos é irmã do Dominguinho.


O leitor observou certamente que nesses dados elucidativos omitimos, e propositadamente, alguns nomes. Trata-se do padre Vicente Ruffo e de “alguns amigos de Taquaritinga, o irmão Braghetti, o irmão Davoglio, o irmão Constantini”…

Julgamos muito oportuno destacar essas revelações de Domingos, aliás, como sempre, do inteiro desconhecimento do médium. O Padre Vicente Ruffo foi conhecido de seu pai, tanto quanto os outros amigos citados, e esteve em Taquaritinga apenas por 7 anos, de 1898 a 1905; nunca mais dele se ouviu falar.

Paulo Braghetti, faleceu em 1977, Evaristo Davoglio em 1973 e Paulo Constantini em 1969, todos em Taquaritinga. Não eram espíritas e não conheceram Chico Xavier.

Os fatos descritos falam por si.


Caio Ramacciotti



[5] Texto psicografado por Francisco Cândido Xavier, no Grupo Espírita da Prece (Uberaba – MG), a 18 de agosto de 1979.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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