O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A Vida Conta — Maria Dolores


14

Súplicas maternas

1 Foi num átrio de luz, adornado de flores,
Que acompanhei a cena.


2 Seguida por amigos e instrutores,
Uma assembleia reduzida
De mães que vinham da aflição terrena,
Após vencer no imenso mar da vida
Lutas de amor em bases de humildade,
Receberia certidão
Para elevar-se a mundos de eleição
Em plenitude de imortalidade.


3 Era um grupo de nobres heroínas
Pela fidelidade às Leis Divinas.


4 O Emissário do Alto, dirigente
Da bela promoção
Tomou voz e falou, fraternalmente,
Com palavras seguras
Da vida luminosa das Alturas,
Na qual toda a assembleia encontraria
Os tesouros da paz e da alegria
Em sublime ascensão.


5 Terminada que foi a mensagem ouvida,
Certa mulher ergueu-se enternecida
E rogou, inflamada de esperança:
— Mensageiro de Deus, tenho um filho a lutar
Num presídio do mundo…
Como seguir, além, buscando o Excelso Lar,
Se o tenho na memória a me chamar,
De segundo a segundo?
Se posso receber algum favor da Lei,
Permite-me voltar à casa em que morei;
Quero tornar à Terra… Necessito
Balsamizar-lhe o peito enfermo e aflito…


6 Outra pediu a desfazer-se em pranto:
— Preclaro Mensageiro do Senhor,
De que modo olvidar a filha que amo tanto,
A implorar-me socorro, em preces de amargor?…
Pobre filha estirada
Em medonha cilada
De treva, luta e lama!…
Como pode haver céu para a dor de quem ama?
Anseio regressar aos meus antigos laços
Porque, acima de tudo,
Quero a filha que Deus me colocou nos braços!…


7 O Embaixador ouvia triste e mudo,
Quando outra mulher se ergueu a reclamar:
— Anjo do Bem, sou mãe… Tenho um filho a chorar…
Não posso recolher-me a descanso ilusório…
Se tenho o meu rapaz num sanatório,
Não me cabe envergar os louros da subida,
Devo tornar à Terra e amenizar-lhe a vida…


8 Outra rogou ainda, em tom comovedor:
— Emissário Bendito do Senhor,
Ampara-me o problema,
Tenho um filho a sofrer, sob penúria extrema…
Creio que a Lei de Deus é a própria Lei do Amor.
Como largar meu filho encarcerado e louco,
Suportando remorso e a morrer pouco a pouco?
Sei que faliu e errou… É um pobre delinquente,
Pobre filho doente…
É minha obrigação aliviar-lhe as penas,
Não posso abandoná-lo às provações terrenas.


9 Ergueram-se outras mães, quais estrelas cativas;
Formulando, em comum, as mesmas rogativas.


10 Umas assinalavam filhos sob o peso
De trabalho violento,
Outras lembravam filhas em desprezo,
Escravizadas pelo sofrimento.


11 Concluídas as preces, o Emissário
Explicou-se, tomado de emoção:
— Irmãs, o vosso amor é aquele do Calvário,
Que nasceu do Senhor, nos tormentos da cruz,
Amor que imperará na Terra do porvir,
Que sofre sem dever e se dá sem pedir,
Bênção do coração a converter-se em luz!…
Alma que conquistou esse poder divino
Pode escolher na vida o seu próprio destino…
A vossa promoção é mantida, porém,
Não podeis alterar a Eterna Lei do Bem…
Já não mais sereis mães, sereis anjos da guarda,
Junto aos entes que amais na grande retaguarda…
Deus vos guarde e ilumine a divina missão
De renúncia e de paz, de socorro e perdão.


12 Companheiros na fé que nos governa,
Considerai conosco esta nota fraterna:
— Ante os irmãos que o mal espancou em caminho,
Estendei vosso amparo com carinho,
Seja por vossas mãos ou a vosso mando…
Nunca vos esqueçais de que, ao pé da criatura,
Que se atirou na prova em que se apura,
Um anjo maternal está velando…


Maria Dolores


Texto extraído da 2ª edição desse livro.

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