1 … E quem é o meu próximo? ( † ) — indaguei
Ao coração da vida
E o coração da vida obedecendo a Lei
Respondeu com voz clara e decidida:
Olha em redor de ti, onde o dever te leve
Do espaço livre e amplo à senda estreita e breve.
Fita em teu próprio lar:
É teu pai, tua mãe, teu irmão, teu parente,
E mais alguém do grupo familiar,
É o vizinho piedoso e intransigente,
2 É o mendigo a esmolar que te visita a porta,
O amigo suscetível de amparar te
É aquele que padece
Privação ou problema em qualquer parte.
É aquele que te esquece
E o outro que te humilha,
A esconder-se no ouro em que se alteia e brilha
Para depois cair quando se desilude.
É aquele que se faz bandeira da virtude,
E o outro que te apoia ou te faz concessões.
3 É aquele que te furta o lugar e o direito,
Alimentando a sombra do despeito
Sem que te saiba ver as intenções.
É a mulher que te guia para o bem
E a outra que atravessa as áreas de ninguém
Avinagrando corações…
O próximo, afinal, seja onde for,
Será sempre a criatura
Que te busca onde estás
Procurando por ti o socorro da paz,
4 Rogando-te bondade, amparo e compreensão,
Amizade e calor
Dando-te o nobre ensejo,
De seguir para a luz na presença do amor.
E posso sem o próximo viver? — perguntei comovida
E disse novamente o coração da vida:
Acende sem cessar a luz do Bem,
Trabalha, serve, crê, chora, sofre e auxilia…
Sem o próximo em tua companhia
Nunca serás alguém.
Maria Dolores
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