Aparecida não conhecia Francisco Cândido Xavier, antes da sua mudança de Pedro Leopoldo para Uberaba.
Os fatos que relacionamos aconteceram naturalmente, e fazem parte da História do Lar da Caridade, sempre com a presença de Chico Xavier, apoiando a Casa Assistencial com as manifestações sinceras de sua amizade fraterna.
Entre as assistidas do Lar da Caridade havia uma doente, vítima de uma grande obsessão. Na esperança de suas melhoras, Aparecida resolveu levá-la para receber um passe do médium Chico Xavier. Em lá chegando, numa pequena sala onde inicialmente, foram realizados os trabalhos espíritas, Aparecida não viu Chico Xavier e sim, Castro Alves de pé escrevendo.
Diante daquele fenômeno de transfiguração, disse ela ao seu acompanhante Adroaldo Modesto Gil, que naqueles dias prestava exames vestibulares para Medicina, e que hoje é um distinto médico psiquiatra, residente em Uberaba:
— Não é Chico Xavier! Pois, quem eu vejo é Castro Alves!
E, como a doente estava muito inquieta e impaciente, Aparecida foi-se embora imediatamente, sem ter falado com Chico Xavier e nem tão pouco se aproximado dele, mesmo porque, continuava afirmando que viu Castro Alves na sala de reunião.
COM SURPRESA, RECEBE ROUPAS E CALÇADOS DE CHICO XAVIER
No dia seguinte, Aparecida recebeu de Chico Xavier, dois conjuntos de roupas para cada doente: lençóis, fronhas, pijamas, toalhas de rosto e de banho. É preciso dizer, que só havia um conjunto de roupas para cada doente; depois do banho, era preciso deixá-los nus em suas camas, até lavar e passar as roupas para serem usadas novamente.
Chico Xavier ainda mandou três vestidos e um par de sapatos para seu uso pessoal. Aparecida estava com falta de roupas e andando descalço, porque não tinha sapatos.
O presente recebido muito lhe preocupou, porque não tendo revelado a ninguém a sua situação, e ainda a sua permanência tão rápida na reunião do dia anterior, como Chico Xavier poderia saber que ela não tinha roupas para vestir e nem calçados, se nada falou com ele, e não o viu naquela sessão espírita?
OUTRO DONATIVO DE CHICO XAVIER
Poucos dias depois, Aparecida estava em discussão com a firma “Produto Ceres” de Uberaba, por motivo de um débito de Cr$ 12,00 (doze cruzeiros) n, referente a uma compra de óleo de cozinha, que estava devendo. Não tinha mesmo de onde tirar aquela importância, e a casa estava totalmente desprevenida de víveres para a subsistência dos enfermos.
Naquela manhã de tanta amargura para o seu espírito, pela grande preocupação com a dívida e a sobrevivência dos doentes, eis que aparece Chico Xavier sozinho naquele momento, trazendo-lhe um envelope contendo Cr$ 300,00 (trezentos cruzeiros), o que lhe permitiu saldar a dívida, e ainda fazer um bom sortimento para a sua despensa.
Aparecida se impressionava cada vez mais, pois, sempre que estava em dificuldade, Chico Xavier aparecia trazendo o recurso necessário.
É preciso salientar que naquela época, Aparecida não acreditava no Espiritismo.
COMPRA DO TERRENO PARA O HOSPITAL DO PÊNFIGO
A aquisição de um terreno para a construção do Hospital do Pênfigo, constituía um pensamento fixo e determinado de Aparecida, visando maior conforto para os doentes.
O presidente da Instituição naquela época, conhecendo as suas intenções, ofereceu-lhe um terreno no valor de Cr$ 300.000,00 (trezentos mil cruzeiros), situado no Alto da Abadia, no mesmo local onde foi construída a sede do Hospital do Pênfigo.
Considerando a vontade de construir o prédio próprio, Aparecida não hesitou, e os doentes saíram às ruas da cidade, e até mesmo na porta do cemitério local, no dia de Finados, e angariaram os trezentos mil cruzeiros, entregando-os ao referido Presidente para o devido pagamento.
Tranquila, Aparecida tomou posse do terreno, tirando algumas árvores e abrindo uma cisterna, providências primeiras para o início da futura construção.
Passaram-se alguns meses sem outras ocorrências, mas, Aparecida sempre pensando e idealizando o prédio próprio para o Hospital do Pênfigo.
VISITA DO GOVERNADOR
Na esperança de conseguir verbas para a manutenção do Hospital, Aparecida faz um convite ao Exmº Sr. Governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, para visitar a obra assistencial.
Sendo a visita marcada para o dia seguinte, Aparecida participa ao Senhor Presidente para as providências da recepção. Nervoso, ele lhe responde que não estaria presente, pois, eram seus inimigos pessoais e políticos.
Muitas pessoas lhe aconselharam a ter cuidado, porque ele e seus companheiros afins, “eram perigosos”.
Cumprindo a sua palavra, não compareceu à recepção.
Mas, tão logo os visitantes saíram, ele bate à porta do Hospital, convidando Aparecida para que fossem juntos ao terreno. Quando lá chegaram disse-lhe que iria processá-la por ter invadido terrenos alheios, revelando naquele momento, os nomes dos proprietários: Dr. João Bichuette e Mário Arruda.
Aparecida responde que já havia feito o pagamento, entregando-lhe os trezentos mil cruzeiros, angariados pelos doentes. Disse-lhe ainda, que os doentes passaram por grandes humilhações, como por exemplo, de serem atendidos lá fora no portão, e mesmo assim, na saída deles, deixando-os perceber, despejavam álcool nas grades e no chão que eles pisavam.
Foi para ela uma grande surpresa e ao mesmo tempo, uma triste decepção, porque tendo efetuado o pagamento dos terrenos, nada havia que o comprovasse, a não ser os doentes que não foram reconhecidos como testemunhas, pela sua situação de dependência.
MEDO DA JUSTIÇA
Ficando com medo da Justiça, Aparecida resolveu falar com Chico Xavier. Este lhe aconselhou a procurar o Prof. Antônio Fonseca, que logo lhe apresentou o Sr. Eustáquio Tarquínio Júnior, Gerente da Caixa Econômica Estadual e corretor de imóveis, para solucionar o problema. Dirigindo-se aos proprietários dos lotes, o Sr. Tarquínio trouxe a proposta de venda: Dr. João Bichuette, duzentos mil cruzeiros (sendo cem mil cruzeiros, â vista,e o restante a combinar). E por parte do Sr. Mário Arruda, sessenta mil cruzeiros, a vista.
Voltou então a falar com Chico Xavier. Relatando o fato, ele lhe pergunta o que pretendia fazer.
— Desejo ir a São Paulo, pois segundo dizem, lá é só estender a mão, que o povo dá!
Chico lhe indaga se conhecia São Paulo, ao que responde:
— Não, só sei que fica prá lá! Respondeu com naturalidade, indicando a direção.
Com essa resposta; Chico Xavier lhe dá um cartão endereçado ao radialista Moacir Jorge.
Pedindo a proteção de Deus, Aparecida viajou para São Paulo, alimentando grandes esperanças de conseguir os recursos que desejava para o pagamento dos terrenos.
Chegando em São Paulo, Aparecida dirigiu-se aos Diários Associados, na Rua Sete de Abril. Logo na entrada, encontrou o Senhor Dr. Assis Chateaubriand, que lhe abraçando, disse com alegria fraternal:
— Nega, esta Casa é sua!
E, a partir daquele instante, sempre encontrou apoio integral de todas as emissoras de rádio, televisão e jornais, para as suas campanhas beneficentes. E, o Dr. Assis Chateaubriand, se tornou um grande amigo e benfeitor da Instituição.
O resultado da campanha feita pelo rádio alcançou a importância de Cr$ 720.000,00 (setecentos e vinte mil cruzeiros) que lhe trouxe grande tranquilidade. Com esse dinheiro, os terrenos foram pagos à vista, obtendo um abatimento de cinco mil cruzeiros, por parte de Dr. João Bichuette. Incluindo o pagamento total dos lotes aos proprietários, e ainda os impostos e despesas de escritura, restou mais da metade da quantia angariada.
A CONSTRUÇÃO DO HOSPITAL
O ideal era a construção do Hospital que Aparecida julgava inadiável.
Consultando o nosso irmão Chico Xavier, ele lhe disse:
— Virá muita tempestade, ainda não é o momento.
Aguardemos a hora, para iniciar a construção!
Mas, Aparecida não aceitando a ideia daquela afirmativa, comprou vinte e dois mil tijolos, iniciando a compra do material de construção.
Mas, na semana seguinte, pediram-lhe os tijolos emprestados. Passou o tempo. Não se falou mais nos tijolos, e também, nunca foram restituídos!
Chico Xavier fazia frequentes visitas ao Hospital, trazendo recursos e muitos amigos que sempre deixavam donativos, e principalmente, a demonstração de sincera amizade e apoio moral.
Por muito tempo, nos sucessivos encontros, Chico Xavier nada dizia sobre o início da construção, o que muito contrariava Aparecida.
ENFIM, O MOMENTO DE INICIAR A CONSTRUÇÃO
Em janeiro de 1962, Chico Xavier em visita ao Hospital, participa à Aparecida que era chegado o momento de iniciar a construção, dizendo-lhe bem humorado:
— Você pode pôr os ovos para chocar, que agora saem os pintinhos! Não espere pelos Poderes Públicos. São Paulo é quem vai ajudar!
Então, foi lançada a pedra fundamental no dia dois de fevereiro do mesmo ano, e iniciada em seguida, a construção do prédio. Todos com muito entusiasmo e esperança de melhores dias.
SEMPRE A PRESENÇA DE CHICO XAVIER
Como sempre, está presente o nosso querido irmão e amigo Chico Xavier, essa personalidade que nos impressiona pelo respeito ao ser humano, no atendimento habitual ao ouvir e orientar a multidão triste e angustiada que o procura, naquele gesto de bondade e paciência, de fraternidade e amor. Acompanhado de seus amigos, oferecendo a sua contribuição material e especialmente, apoiando todas as iniciativas da Instituição.
Os seus conselhos nunca haveremos de esquecer, pela ponderação de suas palavras e pela grandeza de suas afirmações, que para todos nós, constituem um excelente roteiro que percorremos com grande segurança.
Izabel Bueno
[1] Essa importância, na época, representava uma dívida elevada.