Pessoalmente, eu não conhecia Aparecida Conceição Ferreira.
Naquela ocasião, eu era responsável pela Inspetoria Seccional do Ensino Secundário de Uberaba, Regional do Ministério da Educação e Cultura, sendo a titular daquela repartição pública.
A Inspetoria Seccional de Uberaba exercia as atribuições de orientação e fiscalização dos estabelecimentos de ensino secundário nas seguintes regiões de Minas Gerais: Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba, Urucuia e do Oeste de Minas.
Pela descentralização dos serviços de inspeção do o secundário do país, a Inspetoria Seccional desempenhava um intenso trabalho com a responsabilidade da instalação e funcionamento das escolas em todas as cidades sob sua jurisdição.
Lembra-me muito bem, daquele dia muito claro de abril de 1965, quando Aparecida compareceu na Inspetoria Seccional acompanhada de dois meninos, seus filhos do coração, para relatar e pleitear um direito que lhes assistia — o de poder continuar os seus estudos do curso ginasial. Os dois meninos eram aqueles mesmos, que haviam cursado a primeira série ginasial e promovidos à segunda série, conforme citamos, e que tiveram os seus pedidos de matrícula indeferidos, por imposição preconceitual dos pais dos outros alunos que frequentavam o Colégio “Dr. José Ferreira” de Uberaba.
Durante a sua exposição de motivos, Aparecida contou-nos que um daqueles meninos estava tão apaixonado por não poder continuar os seus estudos, que há três dias chorava constantemente, não se alimentava e também não dormia.
Estavam eles amargurados, com os seus semblantes tristes e os espíritos apreensivos, pela impossibilidade de usufruir do princípio constitucional “de educação para todos”, que o preconceito humano violava, não permitindo que os doentes de “Pênfigo Foliáceo” pudessem fazer parte da comunidade estudantil, frequentando as aulas nos colégios da cidade.
Naquele dia, a autoridade do Ministério da Educação e Cultura que representávamos, não poderia fechar os olhos e nem cruzar os braços, diante daqueles dois adolescentes, irmãos nossos, cuja inteligência se revelava na vivacidade dos seus olhos e nos argumentos que eles próprios apresentavam juntos com a sua Mãe protetora, que ali estava de “corpo e alma”, para defender seus diletos filhos.
Foi assim, que naquele momento, espiritualmente assumimos o compromisso perante Deus e Aparecida, afirmando que os meninos não deixariam de estudar, “não sabendo como”! A afirmação foi tão espontânea e categórica, que somente a força superior do Poder Divino, poderia nos induzir a tal decisão apriorística, diante do grave problema social que nos foi apresentado na esperança de uma solução satisfatória.
De fato, após dois dias, com a nossa visita ao Hospital do Pênfigo, no Pavilhão do Asilo “São Vicente de Paulo”, para as formalidades legais, autorizamos uma semana depois, “ad referendum” da Diretoria do Ensino Secundário — Ministério da Educação e Cultura, o funcionamento do curso ginasial dentro do próprio Hospital, como Classes Anexas do Colégio “Dr. José Ferreira” de Uberaba.
Justificamos o nosso ato de autorizar a abertura do curso ginasial no Hospital do Pênfigo, como Anexo do Colégio “Dr. José Ferreira”, devido não haver condições materiais para a instalação do estabelecimento, de propriedade da Instituição. E, como curso anexo, seriam supridas as deficiências, especialmente quanto aos aparelhos e reagentes para o estudo de Ciências Físicas e Biológicas com a utilização de laboratórios exigidos para o ensino secundário.
A autorização para o funcionamento do Ginásio no Hospital do Pênfigo foi logo referendada pelo Exmº Sr. Diretor do Ensino Secundário, Prof. Gildásio Amado que entregou à Inspetoria Seccional de Uberaba, a orientação e execução da nossa proposta de experiência pedagógica — “Escola dentro de hospitais”, para que os enfermos metidos de moléstias com longa duração, aproveitem o tempo, estudando e participando da comunidade.
Com a verificação da validade da experiência, posteriormente, a Escola foi reconhecida pela Portaria número 02, de 25 de julho de 1971, publicada no Diário Oficial da União, em 24/10/1972.
Logo após a resolução da abertura da Escola dentro do Hospital do Pênfigo de Uberaba, bem explicada anteriormente, oferecemos o nosso serviço desinteressado de remuneração, para dirigir e lecionar naquele mais novo estabelecimento de ensino secundário, sob nossa jurisdição. Houve aquiescência por parte do Setor Local da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, mantenedora do Colégio “Dr. José Ferreira” e de Aparecida Conceição Ferreira, responsável pela Instituição.
Devido as nossas relações de amizade com os administradores de ensino e professores uberabenses, pelo nosso convívio na Inspetoria Seccional através de Cursos, Encontros, Seminários e outras atividades educacionais, solicitamos o seu trabalho assistencial para compor o quadro do magistério e do serviço de secretaria do estabelecimento.
E, durante dezoito anos tive a feliz oportunidade de trabalhar na direção dessa abençoada Escola, e também lecionar matemática e português, minhas habilitações no MEC, durante quase todo esse período. Sempre lecionei Educação Moral e Cívica nas referidas Classes Anexas, cujas aulas muito me satisfaziam, por considerar a disciplina de maior importância para a formação do educando.
Isso porque, pelas aulas de Educação Moral e Cívica, na aprendizagem da — programação onde destacamos: “Existência de Deus”; “Espírito e Matéria”; “A Valorização da Vida” e outros assuntos educativos, muitos foram os casos de alunos nossos, que se livraram do suicídio e outros que tiveram modificações profundas de comportamento, resultando num melhor aproveitamento da existência.
Não podemos ampliar as citações, mas em outras oportunidades, desejamos escrever sobre “o estudo de casos” que o ensino da Educação Moral e Cívica, nos permitiu experiências válidas na Escola do Hospital do Pênfigo.
COLABORAÇÃO GRATUITA DOS PROFESSORES
Durante quinze anos tivemos a colaboração gratuita dos professores, encontrando muita facilidade para a composição do corpo docente do estabelecimento.
Seria o nosso maior desejo relacionar aqui, o elevado número desses nossos amigos, professores que prestaram os serviços de magistério nessa Escola, com dedicação e responsabilidade, durante esse longo período.
Mas, não havendo possibilidade, cumpre-nos o dever de gratidão, apresentar a todos, os nossos agradecimentos pela manifestação sincera desse divino sentimento de caridade cristã.
Izabel Bueno