Continuando o seu trabalho e estando já integrada nos serviços de natureza específica do Pavilhão de Isolamento da Santa Casa de Uberaba, o internamento de um doente de Pênfigo Foliáceo, veio iniciar os alicerces da nova tarefa que lhe estava destinada. Chamava-se Josaphat Francisco Machado. Outros chegaram às portas da Santa Casa, portadores da referida moléstia, completando naquele ano de 1957, um total de vinte e dois doentes.
Mas, devido às dificuldades de tratamento do Pênfigo Foliáceo, pela sua longa duração, o elevado custo dos medicamentos e o escasso pessoal para os serviços de enfermagem, a direção do Hospital Santa Casa de Misericórdia, julgou-se incapaz de continuar mantendo os vinte e dois doentes internados que se encontravam naquela enfermaria, alimentando a grande esperança de recuperar a sua saúde.
Em face daquela deliberação, receberam “alta” pela Diretoria Clínica da Santa Casa, dez doentes que estavam melhores e outros doze enfermos foram dispensados com a fatal comunicação de que não seria mais admitido naquele nosocômio, o tratamento do Pênfigo Foliáceo.
O SOCORRO DO AMOR
Diante daquela dolorosa decisão, os enfermos deixaram a Santa Casa de Misericórdia, “sem ter para onde ir”. Faltava-lhes tudo: um abrigo, remédios, alimentos e principalmente a assistência e o apoio moral que lhes foram negados no momento mais cruciante de suas vidas!
Testemunhando aquele triste acontecimento, a enfermeira Aparecida, espírito dotado de grande sensibilidade pelo sofrimento humano, não hesitou e determinadamente, decidiu sair com os doentes, necessitados naquele instante, não só de um teto, mas essencialmente, de um coração generoso e amigo, que os auxiliasse a vencer a dor da enfermidade e as barreiras do preconceito.
Dessa forma, naquela data inesquecível de 08 de outubro de 1958, deixaram as portas da Santa Casa, os doze doentes acompanhados da protetora das suas provações e que seria daquele dia em diante, a sua segunda mãe, oferecendo-lhes o SOCORRO DO AMOR.
DESPREZO E ABANDONO
Sofrendo na profundeza de suas almas, as amarguras da indiferença, saíram sem destino, implorando da população os recursos para solucionar o grave problema que viviam, provocado exclusivamente pela ignorância dos princípios da fraternidade universal.
Os doentes, quando o seu corpo necessitava de um leito para o repouso e o medicamento para as suas dores, estavam eles a percorrer as vias públicas, suplicando a caridade “de uma casa” para resguardar e proteger as suas vidas.
Era de “cortar o coração”, depois de andar por muito tempo, olhar os seus pés que sangravam, marcando o calçamento da rua com o rastro rubro de sangue quando mudavam os passos naquela dolorosa caminhada.
Naquele dia nada conseguiram, a não ser o excessivo cansaço, com o calor do sol sobre a sua pele ferida e cor de lacre, e a dor que atingia não somente o seu corpo físico, mas, principalmente os seus espíritos golpeados pelo desprezo e pelas negativas que penetravam no âmago do seu “ser”.
Depois das tentativas infrutíferas de conseguir um lugar onde pudessem ficar abrigados, Aparecida dominada pela piedade, levou os doze doentes para a sua casa, situada na Rua do Contorno, s/n, Bairro dos Estados Unidos.
Aquela atitude reveladora da mais pura fraternidade cristã, abalou toda a cidade: os doentes de pênfigo, juntos com a sua família!
Foi considerado um absurdo e ao mesmo tempo, um gesto de coragem sem precedentes, porque imaginava-se o pênfigo como doença contagiosa! Lá permaneceram por quatro dias.
Diante daquele acontecimento, uma pessoa caridosa alugou um barracão próximo, onde ficaram por mais quatro dias.
Izabel Bueno