1 Foge o século da Luz.
Escoam-se dois milênios
De santos, heróis e gênios
Com Cristo ensinando o Amor;
Mas o ódio continua
E agarra-se ao chão da Terra, n
No torvo dragão da guerra
Por monstro devorador.
2 A Inteligência remoça
A ideia da Liberdade,
Sem que o poder a degrade,
Tombam mitos, caem reis.
No entanto, quando se esboça
A união de povo a povo,
Explode a guerra de novo,
De novo quebrando as leis.
3 Desde Atenas se promove
Um mundo claro e perfeito;
Roma estatui o Direito,
Mas varrendo a floração
Da França de Oitenta e Nove, n
Rugem na grande chacina
O terror, a guilhotina
E as batalhas da opressão.
4 Aos clarões da Nova Era,
Milhões de cérebros agem;
A Ciência quer passagem
Para acender o Porvir;
O Tempo ávido espera,
O atrito vibra no ar,
O mundo roga: “Avançar!…”
Clama a guerra: “Destruir!”
5 Tanto progresso se espalha,
Agiganta-se a Cultura,
A Terra sofre, insegura,
No temor do próprio fim.
Contudo, sobre a metralha,
Cristo, na luz que ele encerra,
Repete às nações da Terra:
“Amai-vos e vinde a mim.!…”
6 Espíritos Benfeitores
No Brasil, perante o mundo,
Tocados de amor profundo,
Retornam do Grande Além
E, entre ocultos resplendores,
Dissolvem taras primevas,
Rompendo os grilhões das trevas
Na forja viva do Bem!
7 Por isto, agora, ante a luta
Que em fogo se reinicia,
Sonhando nova harmonia
Na fé que se nos refaz,
De pólo a pólo se escuta,
Onde a voz dos Céus alcança,
Que o futuro da Esperança
Pertence ao Brasil da Paz!…
Castro Alves
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