1 Era um jurista dos cimos,
Lutando contra ladrões,
E morreu, legando aos primos
Quinhentos e dez milhões.
2 O homem tinha a sala escrava
De livros, do piso ao teto,
Depois, viu, no Além, que estava
No princípio do alfabeto.
3 Assinara noutra data
Leis cruéis, decretos vãos…
Mas na vida imediata
O pobre nasceu sem mãos.
4 Dizia beber um pouco
Por remédio e benefício…
Terminou, violento e louco,
Nas grades de velho hospício.
5 “Nada tenho para dar” —
Gemia a velha em tipoias,
No entanto, ao desencarnar,
Saiu dum colchão de joias.
Sylvio Fontoura
|