1 Alma querida, às vezes, no caminho,
Indagas a chorar, de coração sozinho,
Como atingir, por fim, o Lar Celeste,
Pelas ásperas sendas do dever…
Também eu isso mesmo interroguei à vida
Em caminhada longa e indefinida,
E hoje posso afirmar-te,
De alma fortalecida,
Que a vida me informou, em toda parte:
— Se quiseres vencer
Eleva-te, louvando as pedras da subida,
Procurando servir, ajudar e esquecer.
2 Por isso, perguntei ao coração da rosa
Como aguentar, tão linda e cetinosa,
Os espinhos cruéis em que a vira nascer
E a rosa me explicou que Deus a estruturara
Num misto de perfume, brilho e cores
Para mostrar que as dores,
Quando bem suportadas,
São lâminas e pontas aguçadas,
Lembrando espinhos produzindo flores;
E, portanto, devia,
Desabrochar e agradecer,
Deixar-se decepar, entregar-se e esquecer…
3 Fui ao campo e indaguei de uma enorme pedreira
Como tolera sem que grite
Assaltos de martelo e dinamite
Sem jamais se ofender…
Ela disse que a fim de oferecer aos homens
Moradia segura, forte e alegre,
É indispensável que se desintegre,
E, por esta razão, lhe compete saber
Aceitar o progresso, ajudar e esquecer.
4 Fui consultar os rios, fui às fontes
E perguntei por que motivo,
Sendo as águas sustento do homem vivo,
Tão-somente no chão poderiam correr…
E todos responderam com bondade
Que na missão do auxílio ao mundo todo.
Precisam abraçar o anonimato e o lodo,
Aceitando viver, em baixo nível
Para estender na Terra o conforto possível,
Cabendo-lhes, assim, compreender,
Perdoar e servir, ajudar e esquecer…
5 Desse modo, igualmente, alma fraterna e boa,
Por mais que o mal nos fira e a provação nos doa,
Qual se um punhal de fel nos arrasasse o ser,
Não te percas do amor, na aflição que te invade…
A lei divina da felicidade
Será sempre servir, amparar e esquecer.
Maria Dolores
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