1 Guardo-te, mãe, a voz suave e mansa:
“Fala o nome de Deus, minha querida!”
Repete: “Deus é a luz de nossa vida!…”
Como choro ao rever-te na lembrança!
2 Beijavas-me, depondo-me na rede…
Depois corrias ao fogão de brasa.
Sopa era o pão de sempre em nossa casa
E eu te olhava a chorar com febre e sede.
3 Mandaste-me ao estudo com mesada,
Pedias mais serviço aos teus clientes
E nunca vi teus braços doentes
De tanto costurar na madrugada.
4 Entrei no clima da cidade grande…
Quanta humildade no que me escrevias,
Narrando-me tristezas e agonias,
Entretanto, a secura se me expande.
5 Vieste ver-me e comentando a viagem,
Reprovei-te o roupão de seriguilha…
Eu vestida de seda — tua filha —
Corrigia-te os erros de linguagem.
6 Ficaste triste, andando a passo lento,
E regressaste logo ao teu recanto.
Notando que saías, vi-me em pranto,
Alma ralada no arrependimento…
7 Hoje, mãe, quero ouvir o teu perdão!…
E por mais que te chame, chore e brade,
Só vejo em mim a sombra da saudade
Que me oprime e retalha o coração!…
Maria Barreto
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