O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Sementeira de luz — Mensagens familiares do Prof. Arthur Joviano (Neio Lúcio) e outros


Arthur Joviano

(1º artigo)

Artigo de Nestor Massena


Participando de família tradicional em Barbacena, foi Arthur Joviano barbacenense de projeção na vida de sua cidade, na do seu Estado e na do nosso país.

Arthur Joviano começou a trabalhar, para prover a sua subsistência, como tipógrafo. Da tipografia passou à redação do periódico, em cujas oficinas era operário, e da redação passou à direção do jornal e à sua propriedade. Em Barbacena, editou ele a “A Folha”, hebdomadário que logrou grande destaque na imprensa mineira, onde Francisco Mendes Pimentel iniciou as suas atividades no Jornalismo. Em Belo Horizonte, fundou e dirigiu, tendo por companheiros de trabalho Mendes Pimentel e Azevedo Júnior, o “Diário de Minas”, o “Jornal do Povo” e a “Folha Pequena”.

Arthur Joviano casou-se com Francisca da Rocha, carioca, descendente de Alfredo Rocha e contraparente dos Laet, com quem ele travou conhecimento em Barbacena, quando a família de sua consorte aí veraneava. Desse consórcio resultou prole em que se prolongam as qualidades de espírito e de coração dos que a formaram.

Foi Arthur Joviano abolicionista e propagandista da República, em Barbacena, continuando, depois do advento do regime político implantado no país, em 1889, a ser um dos seus evangelizadores e dos seus mais abnegados apóstolos. Em 1893, foi ardente florianista e, por ocasião da revolução de Canudos, foi um dos organizadores da Centúria Barbacenense, instituição cívico-militar, destinada a colaborar na manutenção do regime democrático liberal da República, de 1889 e de 1891.

Em 16 de julho de 1907, foi Arthur Joviano um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

Arthur Joviano iniciou-se no magistério como professor de Português no Colégio Nossa Senhora da Piedade, da fundação, em Barbacena, de Eduardo Barreiros e Maria Barreiros, tendo sido, com Alfredo Paes, um dos vice-diretores desse estabelecimento de ensino. Ainda nessa cidade, Arthur Joviano participou, como catedrático de língua vernácula, das congregações da Escola Normal e do Internato do Ginásio Mineiro, tendo conquistado esses lugares em memoráveis concursos.

Tendo transferido residência para Belo Horizonte, Arthur Joviano continuou a se dedicar, na capital do Estado, ao estudo dos problemas pedagógicos, nos quais se tornou autoridade do mais alto valor, ocupando, na Escola Normal Modelo, a cadeira de Português e, mais tarde, a sua direção, e exercendo as funções de membro do Conselho Técnico de Instrução do Estado. No Governo João Pinheiro, foi o principal orientador da reforma do ensino primário, feita por Carvalho Brito como secretário de Estado. Em colaboração com Mendes Pimentel, Juscelino Barbosa e Leon Renault, foi Arthur Joviano iniciador do Instituto João Pinheiro na capital do Estado de Minas.

De Belo Horizonte, Arthur Joviano transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde, como inspetor técnico do ensino, teve o maior destaque entre os que mais conheciam os problemas de instrução. Por ocasião dessa transferência, em 1918, um grupo de representantes do professorado carioca, tendo à sua frente Cizina Nascimento, diretora da Escola Deodoro, foi levar ao professor Arthur Joviano, na sua residência, o decreto do governo municipal do Distrito Federal, adotando como oficial o seu “Primeiro Livro de Leitura”. No dia seguinte, a professora Corina Barreiros realizou na Escola José de Alencar a última conferência de uma série sobre o método preconizado por Arthur Joviano para o ensino da leitura, no qual se substituíram os processos de soletração e de silabação, ou fonotípico, pelo de sentenciação. Por essa ocasião, em plenário de quatrocentos professores, o Dr. Manoel Cícero Peregrino da Silva, então diretor da Instrução Pública do Distrito Federal, teve oportunidade de verificar que crianças com apenas vinte e duas aulas, em que se ensinava a ler pelo método “Arthur Joviano”, liam, com toda a facilidade, quaisquer frases por ele escritas no quadro negro, causando isso extraordinária impressão a quantos participavam da reunião. Do trabalho de divulgação desse método em todas as escolas do Distrito Federal encarregou-se, então, aquela distinta professora, Corina Barreiros, conterrânea de Arthur Joviano e filha de Eduardo Barreiros, seu grande amigo na mocidade.

Da vasta bagagem de trabalhos didáticos de Arthur Joviano constam estas publicações: “ Primeira Leitura”, “Ler e Escrever”, “Língua Pátria”, em três volumes — “Primeiro Livro”, “Segundo Livro” e “Terceiro Livro” —, “Composição”, em cinco volumes, “Prática do método analítico da sentença”, “Ginástica respiratória” (em colaboração com Lúcia Joviano).

Os livros de Arthur Joviano foram adotados oficialmente pela Instrução Pública do Distrito Federal em consequência de parecer em que se acentuou que “divorciando-se e afastando-se por completo dos atuais processos, em voga ainda hoje em nossas escolas, onde se persiste na velha rotina didática, que faz anteceder, no ensino dessa disciplina, a análise léxica à lógica, ou sintática, o autor, invertendo essa ordem, adota a verdadeira orientação, a única que se coaduna com os princípios da intuição analítica, método capital de todo ensino. De fato, não se compreende, observa um eminente pedagogo, “essa prática generalizada de se começar o estudo da expressão verbal do pensamento pela análise gramatical, por abstração, como são as palavras desarticuladas, sem sentido completo. O abandono da sentença, como ponto de partida, tem gerado o mais estranhado horror aos estudos de linguagem”. Dessa prática nociva, condenada pela moderna pedagogia, afastam-se os livros do professor Joviano.”

Osório Duque Estrada escreveu, por essa ocasião, que “o método do Sr. Joviano, que é a aplicação inteligente do que já se faz em outros países, tem a grande vantagem de não anular a individualidade intelectual da criança, que nas escolas vulgares se habitua a receber todas as noções do professor, sem investigação própria e sem esforço mental”. Para Tristão de Ataíde “mostra o Sr. Joviano ter a primeira virtude de um bom mestre, “argúcia psicológica”, acrescentando que “trata-se, como vemos, de obra modelar para o estudo da língua e de todo o ponto recomendável”. Augusto de Lima referiu-se, então, à obra de Arthur Joviano como “obra extraordinária de método, de clareza, de erudição e de irresistíveis atrativos para a curiosidade infantil de aprender, e para a leitura de adultos amantes das letras”.

O “Jornal do Comércio”, do Rio, que recebeu o primeiro trabalho de Arthur Joviano, iniciando o ensino da leitura pelo processo da sentenciação, como “um livro de audácia bem entendida”, referiu-se, depois, ao segundo trabalho do saudoso barbacenense declarando que “o Sr. Arthur Joviano, professor mineiro, tem sido, na pedagogia da língua nacional, um pioneiro dos métodos científicos”, considerando “muito feliz” o esforço despendido por esse professor em benefício do ensino.

A “Revista da Língua Portuguesa” saudou o aparecimento do trabalho do professor Arthur Joviano com a afirmação de que “é digno da leitura dos entendidos e dos mestres, que nele encontrarão bastantes coisas que aprender”, acentuando que o seu autor “com ele se alista galhardamente entre os que mais têm contribuído para a vulgarização da língua, da sua correção e pureza, do bom dizer que tem vinculado perpetuamente o seu nome às tradições da nossa fala e do nosso patrimônio literário”. O professor José Coelho, inspetor geral de ensino e professor da Escola Normal da Paraíba, proclamou que “na didática brasileira, de nenhuma obra que se lhe compare na excelência do método, que é audaciosamente vazado na ordem psicológica da aquisição de conhecimentos, hei notícia ou simples referência”. O professor José Piragibe escreveu, em “A Escola Primária”, que “quem manuseou os livros do professor Joviano não os deixará de amar e muito, porque sente quanto lhes deve. A dívida de gratidão aumentará se o aluno quiser avançar no estudo da sua língua, porque há de perceber a facilidade com que assimila as obras de Mário Barreto, de Said-Ali, de Alfredo Gomes, de Gonçalves Viana, de Leite de Vasconcelos e dos grandes mestres”.

Ao falecer, em dezembro de 1934, Arthur Joviano, que era, então, Superintendente da Instrução Pública do Distrito Federal, o “Estado de Minas”, em sua edição de 15 daquele mês, assinalava que “em Arthur Joviano perde nosso Estado uma das figuras de mais relevo e de grande projeção em seu cenário educacional”, pois “educador emérito, conhecedor profundo de pedagogia, a ele se devem grandes e proveitosas reformas do ensino primário e agrícola em Minas”. Por essa ocasião, em crônica de Belo Horizonte, publicada no “Jornal do Brasil”, do Rio de Janeiro, em seu número de 22 daquele mês, Mário Casasanta assinalava, sobre a morte de Arthur Joviano, que “esse eminente professor, que acaba de rodar para a eterna noite, tem muito mais influência em nossos destinos do que a grossa maioria dos nossos homens públicos do passado e do presente” porque “Arthur Joviano predicou a vida inteira a boa doutrina, forcejou, quanto em si coube para a transformar em realidade, importou novos processos e adaptou-os com habilidade, escreveu livros didáticos de primeira água, deu as melhores aulas que era possível dar-se em nossas primeiras escolas públicas, rasgou novos caminhos para o ensino da língua na Escola Normal de Belo Horizonte, e, na direção dessa Escola, educou uma geração que constitui, nesse momento, a falange central da educação pública em Minas”, e, depois, “retirando-se para o Rio, permaneceu fiel à sua boa estrela, porque continuou a trabalhar, como inspetor de ensino, a escrever livros didáticos e a lecionar, com suas filhas, numa escola particular que os técnicos reputam muito acima do seu meio, se não pela novidade dos processos, sem dúvida pela fartura e beleza dos frutos”.

Em homenagem à memória de Arthur Joviano, a prefeitura do Distrito Federal deu o seu nome à escola primária municipal, sita à rua Bom Sucesso.

Dentre os filhos de que Barbacena legitimamente se envaidece está Arthur Joviano, que se impôs pelo seu alto valor individual, como alta expressão de inteligência profícua, ao apreço dos que lhe conhecem as atividades benfazejas. Pelo seu esforço e pelo seu talento, Arthur Joviano foi nome de grande projeção na sua terra, na capital de Minas e na capital da República, com atuação que lhe assegurou o relevo que teve na vida nacional.

Arthur Joviano é um barbacenense que se não pode esquecer quando se lembram os barbacenenses de prol.


Nestor Massena



Nota da organizadora: artigo publicado no jornal “Cidade de Barbacena”, em 9 de novembro de 1943.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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