O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Somente amor — Maria Dolores / Meimei


18

Verdade e amor

  1 Era ele um cristão de crença pura,
Caminhava na vida
Mostrando fé vibrante e fronte erguida,
Devoto da verdade e da bravura…


  2 Escrevia e pregava em verbo ardente,
Vergastava costumes e preceitos,
Exigia no mundo irmãos perfeitos,
Reclamava virtude em toda gente.


  3 Alentava, no entanto, antigo anseio,
Entretecido de carinho e luz,
Nas súplicas ao Céu, dia por dia,
Clamava e ansiosamente repetia
Em alto devaneio:
“Quero encontrar Jesus! Quero encontrar Jesus!…”


  4 Sonhava ver e ouvir o Mestre Amigo,
Abraçá-lo, retê-lo,
Depois, testemunhar-lhe todo o zelo
Que trazia consigo
A inflamar-se de amor…


  5 Mas ei-lo a procurar, em andanças no mundo,
Erros, falhas, defeitos, cicatrizes,
A fim de levantar o látego infecundo
Sobre os irmãos caídos e infelizes.
Páginas primorosas escrevia
Com lindas conferências de permeio,
No intuito de afastar do campo alheio
As nódoas que ele, acaso, percebia…


  6 Tempos rolaram sobre o tempo mudo
E nada mais fazia o cristão combatente…
Entretanto,
Em matéria verbal, sabia tudo,
Tudo o que fosse amargo ou deprimente.
Em nome de Jesus, erguia a frase rara,
Qual bisturi que corta, poda e apura,
Manejava a palavra fina e rara,
Em constante censura.


  7 Certa noite, porém, depois de muitos anos,
Viu-se fora do corpo, a pervagar…
De improviso, oh! surpresa!… viu Jesus
Que nele punha o generoso olhar.
8 Notava que Jesus o fitava em silêncio,
Dispondo-se, talvez, a partir sem demora,
Ele gritou: — “Senhor, abençoa-me a fé,
Espero, desde a infância, este encontro de agora…
9 Dize, amado Jesus, se estou certo em caminho,
Quero apenas fazer aquilo que te agrade,
Tenho feito da vida um combate sem tréguas,
Mostro os erros do mundo e defendo a verdade!…
10 Ao meditar em ti, vejo em franca expansão,
Os conflitos mortais que amarguram a Terra,
Paixão, intemperança, orgulho, hipocrisia
E a presença do mal trazendo a morte e a guerra!…
11 Irmãos dilapidando irmãos, estrada a estrada,
Convertem-me a palavra em chicote violento,
Grito, protesto, acuso e denuncio…
Explica-me, Senhor, se tenho estado atento!…”


  12 Mas Jesus respondeu: — “Agradeço-te, irmão,
Quanto me tens doado em franqueza e rigor,
Não olvides, porém,
Que a construção do Bem,
Solicitando, embora, a base da verdade,
Nunca se elevará no apoio à Humanidade,
Sem o teto do amor…
13 Não deixes de amparar… Anota as leis da vida,
Esclarece, corrige, ensina, mostra, fala!…
14 Mas recorda: não basta apontar a ferida,
Depois de conhecê-la, é preciso tratá-la.
15 Volta ao mundo e prossegue,
Retifica sem fel e ajuda sem impor,
Verdade que produz é aquela que auxilia,
À maneira do Sol que acende a luz do dia
E estende a vida ao chão em dádivas de amor!…”


  16 O amigo despertou a desfazer-se em pranto,
Inflamado de júbilo e de espanto,
Ergueu-se novamente para a vida…
Em seguida,
Descerrou a janela junto dele…
Fitando a rua em frente,
Viu homens construindo
A se esforçarem, afanosamente,
Doentes repousavam na calçada,
Pobre mãe desprezada
Passava carregando um pequeno enfermiço…
Tudo era petição de amparo e de serviço…
Não longe, uma criança sem ninguém
Começou a chorar…


  17 Nisso, ele ouviu de novo a voz do Mestre Amado,
No íntimo do ser
Qual se estivesse ali, respirando a seu lado,
Presente a lhe dizer:
“Escuta, meu irmão
Posso falar-te aqui na paz do coração!…”
18 Depois, disse baixinho:
— “Se queres atingir a luz do Eterno Lar,
Eis, em teu mundo mesmo, os marcos do caminho:
— Trabalhar e servir, servir e trabalhar!…”


Maria Dolores


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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