1 Você procura notícias,
Meu caro Nuno Serrão,
Do que se diz no outro mundo
Em torno à condenação.
2 Na luta em que vamos indo,
Seu pedido, caro Nuno,
Encerra assunto excelente
Para debate oportuno.
3 Num mundo assim qual o nosso,
Onde a luta nos cativa,
Ninguém pode dispensar
A crítica construtiva.
4 Se erro e se muitos erram,
É preciso aparecer
Quem nos aponte verdade
Quem nos convide ao dever.
5 No entanto, a crítica nobre
Que ampara, esclarece e guia,
Traz consigo a segurança
Dos golpes de cirurgia.
6 O médico em plena ação,
Não corta, nem fere à-toa,
Trata ou suprime a doença
Sem desprezar a pessoa.
7 Nesse sentido assinalo
Que aprendi desde menino,
A saber o que é melhor
Pelo socorro do ensino.
8 Mas censura por si só,
Vertendo verbo infeliz,
Lembra pedrada sonora
De quem não sabe o que diz.
9 E já que a vida devolve
Aquilo que se lhe oferta,
Toda pedra que atiramos,
Volta a nós rápida e certa.
10 Note o caso de Nhô Fábio,
Moral de conversa brava,
Morreu buscando prazer
Na rua que detestava.
11 Nicota falando às soltas
Acusava a mãe doente,
Um dia fugiu de casa
Para morrer delinquente.
12 Laurentino reprovava
A trilha de Felisbela…
Foi-se o tempo e ele finou-se
Apaixonado por ela.
13 Jacó censurou o irmão
Por desposar Nhá Siluva;
Finou-se o irmão de repente…
Jacó ligou-se à viúva.
14 Falava Artur que o cigarro
É só veneno em consumo;
Depois de tanto fumar
Morreu no excesso de fumo.
15 Pregava contra a riqueza
Nosso amigo Zé Romão,
Ganhando na loteria,
Desertou da pregação.
16 Perseguido injustamente
Por jogo morreu Quim Cota…
E o filho que o acusava
Morreu na frente da sota.
17 Quirino Almeida zombava
Dos passes de Nhá Mariana…
Hoje, ele mesmo procura
Vinte passes por semana.
18 A vida é assim, caro Nuno…
Condenar não vale a pena,
Porque a gente sempre cai
Naquilo que mais condena.
19 Irritação e azedume
Criam angústia e pesar;
Perante qualquer ofensa
O melhor é perdoar.
20 Julgar exige cuidado
Pelos outros e por si.
Não condene, ajude sempre,
Que este assunto é isso aí.
Cornélio Pires
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