1 Você deseja notícias,
Meu caro Juca Simões,
Sobre o que existe no Além
Ante a luta das paixões.
2 O assunto do seu pedido,
Quanto ao que busca saber,
É tão fácil de sentir,
Tão difícil de escrever!…
3 Reconhecemos: o amor
É luz em todo ser vivo,
Mas quando vira paixão
É processo obsessivo.
4 Há paixões de toda espécie,
Por encargos, por dinheiro,
Por mando, posse, vingança,
Rolando no mundo inteiro.
5 Mas a paixão propriamente,
Tal qual é justo supor,
É aquele calor que surge
Por labareda do amor.
6 No começo é uma faísca,
Com clarão vago e miúdo,
Depois é fogo crescendo,
Incêndio que arrasa tudo.
7 A pessoa nessa prova
Vagueia tonta e insegura,
Pode enrolar-se no crime,
Quanto cair na loucura.
8 Veja a tragédia de Alvina,
Apegou-se ao Filomeno,
O moço quis Nominata,
Alvina foi-se a veneno.
9 Eugênio amava Tintina,
Tintina escolheu João Massa,
Só por isso o pobre Eugênio
Vive hoje de cachaça.
10 Contrariado no amor,
Dedicado à Gabriela,
Excitado, o Longimano,
Deu dois tiros no pai dela.
11 Você recorda decerto,
O nosso Quinquim da Areia,
Matou Ziziu por ciúme
E afundou-se na cadeia.
12 Recusado por Tininha,
Irvalmo arrasou Clemente,
Depois disso, exasperado,
Enlouqueceu de repente.
13 Outra cousa, veja esta:
Nessas mortes por paixão
Aparece grande parte
Dos casos de obsessão.
14 Ninita por desprezar,
Matou Gil de Saramenha,
Mas sem corpo Gil a segue
Como fogo atado à lenha…
15 Sertório morreu aos poucos,
Envenenado por Zuma,
Sertório desencarnado
Não a deixa hora nenhuma.
16 Joana desfez-se de Antero
Para entregar-se ao Fontana,
Mas o Espírito de Antero
Vive ligado com Joana.
17 Segundo todos sabemos
Cada qual vive por si,
Cuidado!… Foge à paixão
Que a paixão é isso aí…
18 Se você gosta de alguém,
Recorde: amor não reclama,
Não prende, nem sacrifica
E ampara sempre a quem ama.
19 Não procure ser amado,
Ame e abençoe por dever,
Mantenha sinceridade
E deixe a vida correr.
20 Paixão é cousa da sombra,
Dor que a si própria maldiz,
Mas o amor é luz de Deus,
Amor é a vida feliz.
Cornélio Pires
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