1 Disse a Alma, chorando, ao Corpo aflito:
— Por que me prendes, triste barro escuro,
Se busco o Espaço imenso, se procuro
O império resplendente do Infinito?
2 Por que me deste a dor por sambenito
No caminho terrestre áspero e duro?
Por que me algemas a sinistro muro,
O coração cansada, ermo e proscrito?
3 Mas o Corpo exclamou: — Cala-te e ama!
Eu sou, na Terra, a cruz de cinza e lama
Que te serve de ninho, templo e grade…
4 Mas dos meus braços partirás, um dia,
Para a glória celeste da alegria,
Nos castelos de luz da eternidade!…
Anthero de Quental
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