1 Não aceites por ventura
Prazer que te desconforte.
O peixe nada à procura
Da isca que o leva à morte.
2 A cantiga sem cautela
Desce a abismo inesperado.
Alçapão abre a janela
Ao pássaro descuidado.
3 Trabalha e atende ao porvir.
Contudo, pensa primeiro.
Formiga vive de agir
Mas não sai do formigueiro.
4 Não uses a liberdade
Gozando a inércia do bruto.
Se queres a eternidade
Não desprezes teu minuto.
5 Faze o bem. Não sejas louco,
Aprende no amor cristão.
Inteligência é bem pouco
No dia da salvação.
6 Sem Deus, não busques na Terra,
Luz e paz em parte alguma,
Há mais angústia e mais guerra
Quando a mentira se esfuma.
7 Evita o abono e a licença
Em que a preguiça se escuda.
Ferrugem é a recompensa
Da enxada que não ajuda.
8 Dos males que andam na estrada,
Aquele que mais domina
É a mente desocupada
Que vive sem disciplina.
9 Despreza a ciência avessa.
É dolorosa irrisão
Ter mil livros na cabeça
E gelo no coração.
10 Perdoa a mão que te prende
A tropeços escarninhos.
Muita rosa se defende
Pela abundância de espinhos.
11 Foge aos gozos aparentes.
Toda flor cai ao monturo,
Mas o fruto dá sementes
Que seguem para o futuro.
12 Mas a glória que se inflama,
Sem Jesus-Cristo no fundo,
Quase sempre é treva e lama
Nos caminhos do outro mundo.
13 Não te exponhas ao perigo
Da tentação que te agrade,
Mas se tens Jesus contigo
Não temas a tempestade.
Belmiro Braga
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