1 Quando desci chorando, desatento,
A garganta cruel da sepultura,
Cria abraçar, na morte, a noite escura
Que me desse consolo e esquecimento.
2 Ai de mim, relegado ao desalento,
Preso à triste ilusão que não perdura!…
Desvairado encontrei, nessa aventura,
O remorso medonho e famulento…
3 Aterrado, gritei: — “Monstro, recua!”
E o monstro, em gargalhada horrenda e nua,
Bradou: — “Eu sou agora o irmão que levas…”
4 E, misto de morcego, gralha e aborto.
Atirou-me a sinistro desconforto,
Mergulhando comigo em densas trevas.
Anthero de Quental
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