1 Em plena cova escura,
Desce a mão generosa
Do operário do pão…
2 Enquanto se faz ele
Condutor da semente,
Recebe sobre o rosto
Os borrifos do charco.
3 E vermes asquerosos
Que residem no pântano
Atiram-se-lhe aos dedos,
Tentando corromper-lhe
O sangue nobre e puro.
4 Mas, longe de temer
Os golpes da maldade,
Enxuga, forte e humilde,
Os salpicos de lama…
5 E, suando, a cantar,
Prossegue em seu trabalho,
Porque sabe e confia
Que a semente, amanhã,
Será beleza e flor,
Ramaria e alimento,
Para a vida abundante
A estender-se na Terra…
6 Assim, também no mundo,
Se procuras plantar,
No campo da virtude,
Sofrerás, com certeza,
Os assédios do mal,
Através da calúnia,
Da miséria ou da sombra!…
7 O lodo não perdoa
Quem lhe arremessa luz
Aos abismos do seio…
8 Mas, se tens clara fé,
Na grandeza do bem,
Cultiva, sem cessar,
A bondade fraterna
E o futuro feliz
Bendirá teu concurso,
Descerrando-te ao ser,
Largo e lindo horizonte,
Em cuja glória excelsa,
Encontrarás caminho,
Ditoso e resplendente,
Para o retorno ao Lar
Da Alegria Sem fim…
Rodrigues de Abreu
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