1 Minha abençoada amiga: Deus nos ampare!
2 … E este é o caminho da ressurreição — o caminho que vences, palmo a palmo, centímetro a centímetro, sob a cruz redentora da provação.
3 Sentimos, sobre as pedras que forram o chão, a glória solar dos cimos…
4 Jesus, de braços abertos, à espera de nosso triunfo espiritual…
5 A contemplação da eternidade, por prêmio sublime aos pés sangrentos…
6 A paz da comunhão com a luz divina, por céu fulgurante na própria consciência…
7 A alegria silenciosa do coração que se uniu para, sempre ao amor e à verdade…
8 E nossa alma inquieta suspira por transportar, ao preço da própria renunciação; no ramo desse paraíso de vitória íntima, todos aqueles a quem nós devotamos no campo agreste do mundo…
9 Mas o Mestre Divino, o condutor infalível de nossos passos, do alto do próprio madeiro que lhe serviu de trono à imorredoura exaltação, nos reafirma, sem palavras, que a passagem estreita do calvário não admite mais de um coração.
10 Cada companheiro terá o seu dia e a sua marcha, para o grande entendimento…
11 Os tesouros adquiridos com a experiência e com a dor são intransferíveis.
12 Seria necessário que a fonte viva da compreensão deslizasse por todas as criaturas, ao mesmo tempo. E isso, realmente, é impossível. Por essa razão, peço-te, ainda e sempre, coragem e calma.
13 É nessa solidão interior, que por vezes experimentas com tanta intensidade, que chegamos a ouvir a voz do Excelso Pastor.
14 A felicidade terrestre é como que anestesiante ruído para a consciência. Distrai-nos. 15 Desintegra-nos os impulsos da fé. Impõe o adiamento indefinido da nossa viagem para o melhor. 16 Obriga-nos a esquecer a bênção das horas e, quase sempre, hipnotiza-nos nas sombras da inutilidade. 17 Contudo, o sofrimento guarda a virtude da visão, despertando-nos para as realidades edificantes da vida.
18 Sem dúvida, muitos lhe temem o contato, procurando a fuga de suas renovadoras lições; mas o tempo é o químico milagroso da Eterna Sabedoria, que nos governa os destinos, e, na estrada infinita, que nos cabe percorrer, surge invariavelmente o dia de nossa transformação..
19 Louvemos, desse modo, a luta que nos convocou à subida, e confiemos nossos amados ao Senhor.
20 Nesse ato de rendição de nossa alma, não reside a desistência de nossos deveres.
21 Continuaremos ajudando-os com todos os recursos ao nosso alcance, mas centralizando nossas esperanças no Amor Maior. 22 Permaneceremos ao lado de quantos foram situados pela Bondade celestial, junto de nosso carinho, mobilizando possibilidades e energias em favor deles, mas prosseguindo, intimamente, em nossa sublime romagem para o Alto, superando temporais de lágrimas e espinheiros de sacrifício, porque, além de tudo o que representa o mundo de nosso “eu”, resplende o devotamento de Jesus — o único sol capaz de reaquecer-nos o Espírito fatigado, revigorando-nos para a definitiva ascensão aos Planos superiores.
23 Auxiliemos sem apego. Ensinemos no silêncio.
24 Amparemos, na medida de nossas forças, a quantos se acercam de nós; mas aguardemos o socorro do Alto, em se tratando de nossas necessidades.
25 Não te prendas na teia da angústia. A única finalidade da aflição é a de deslocar-nos da Terra para o Céu, do débito para o resgate, da sombra para a luz.
26 Não temas. Diante de nós, segue aquele Amigo Imortal que, em se entregando ao martírio e à morte, traçou, para nós mesmos, o trilho estreito que nos conduzirá à salvação.
27 Aceitemos os instrumentos com que o Escultor da Eternidade se propõe reajustar-nos.
28 Pranto, soledade, amargura, incompreensão nos que amamos, sede espiritual, feridas, pesadelos, vigílias dolorosas, tempestades morais e golpes de senda representam o serviço do Divino Buril sobre nós. 29 À maneira da pedra que obedece, com segurança, das profundezas de nossas imperfeições Jesus retirará, mais tarde, a obra prima do Universo — nossa alma — acrisolada para o esplendor da perfeição.
30 Não te sintas sozinha. Somos uma grande família no espaço e no tempo; em busca de nosso lar imperecível — o lar que nos espera, mais além, para a integração com todos os nossos afetos.
31 Confiemos em Jesus. Ainda que tudo conspire contra nós, busquemo-lo. Através do próprio sacrifício, aprenderemos, com ele, a estrada real para a verdadeira vitória.
32 Continuemos juntas, no santuário do trabalho e da oração e, contando com a tua firmeza de ânimo em todos os lances de nossa jornada para a frente, abraça-te a velha amiga e irmã reconhecida.
Isabel Cintra