30ª reunião | 23 de maio de 1957.
Presentes: Arnaldo Rocha, Ênio Santos, Elza Vieira, Laura Nogueira Lima, Geni Pena Xavier, Francisco Teixeira de Carvalho, Geraldo Benício Rocha, Edmundo Fontenele, Edite Malaquias Xavier, Lucília Xavier Silva, Aderbal Nogueira Lima, Francisco Cândido Xavier, Zínia Orsine Pereira, Waldemar Silva, Alvina Pereira e José Gonçalves Pereira.
Quando eu vivia aí na Terra não me misturava com os infelizes nem com os pobres. Evitava tudo que pudesse me afligir ou preocupar. A minha vida era muito feliz e muito calma. Mas não sei por que, nem como, certo dia fui despertada no meio de tanta gente sofredora, onde todos gritavam e ninguém se entendia. Fiquei atordoada também. O que teria acontecido? Não tinha notícias do meu lar e sabia que estava no meio só de estranhos! Quando procurava saber o que me tinha acontecido, gargalhadas estridentes e respostas irônicas atassalhavam-me o coração. Pensei então: teria morrido? Estaria jogada no purgatório? Mas a vida era tão passageira assim?… Que seria a morte? Mas aturdida, sem saber como agir, atormentada pelo desassossego, por uma noite que parecia não ter fim, cansada de chorar e de sofrer, insultada por todos os que me cercavam, fui, aos poucos, chegando à triste conclusão da realidade em que me achava. Tinha sido uma mulher egoísta, dura, indiferente ao sofrimento alheio e vivia encastelada na minha própria felicidade. Isolei-me de todos os sofrimentos, agora estava cruelmente abandonada no meu sofrer. Por meu mal, e para maior perturbação do meu Espírito, eu havia morrido repentinamente, sem o toque da dor que me poderia alertar, sem o bafejo da enfermidade que devia despertar meu coração da letargia em que me achava.
Para quem apelar agora? Como fazer?
Acovardada à frente da situação, lembrei-me da minha meninice e no auge da minha dor, num grito de amargura, lembrei-me das orações que fazia com minha mãe. Chamei-a e não tardou que, sem vê-la, ouvisse a sua voz bem perto de mim!
Aconselhou-me muita fé e humildade. Oramos juntas. Daí pra cá, mais amparada, mudei inteiramente de rumo e hoje só quero trabalhar e servir, porque conheci a minha falência.
Estou muito arrependida e quero ser útil a todos. Que o meigo Nazareno não me desampare na minha reabilitação e que eu tenha forças para trocar o repouso e o bem-estar de outrora pelo trabalho e pelo sacrifício na prática do bem. Que os espinhos da minha indolência sejam transformados pelos meus esforços em flores de carinho, para que as crianças de amanhã encontrem o aconchego maternal que tanto lhes tem faltado e a educação moral para que não venham a errar como eu errei. Que eu tenha forças para levar a paz aos lares, para que os Espíritos do Senhor possam encontrar em mim o apoio de que precisam para o grande trabalho de evangelização das almas.
Enfim, rogo a Deus para que todos os Espíritos encarnados em corpo de mulher possam ter renúncia e abnegação para não chorarem como eu, durante quase meio século. Agora quero trabalhar. O que tenho aprendido devo um pouco a vocês também, porque venho aqui sempre. Ajudemos nossas companheiras, meus amigos, com as nossas preces e com as nossas vibrações de amor, para que elas, abençoadas por Deus, enfrentem com coragem a grande luta do dever e da humildade.
Que o Senhor nos ajude sempre.
Maria da Anunciação