1 Não se soube de onde vinha.
Seu nome — Tuca Tinteiro.
Vendia tintas na rua
E tinha muito dinheiro.
2 Dava conselhos aos pobres,
Buscando escolher a quem,
Mas do dinheiro no cofre,
Não amparava ninguém.
3 — Seu Tuca — disse Ana Clara,
Sou viúva de João Xisto.
Tuca, porém, replicava:
— Não tenho nada com isto.
4 — Seu Tuca, preciso tempo,
Rogava Dona Ziúra.
No entanto, ei-lo que lhe arranca
A máquina de costura.
5 — Seu Tuca, empreste-me cem…
Pagarei quando voltar.
— Diz Tuca: você falhando,
É mais cem para acertar.
6 Tuca se via tristonho,
Faltava-lhe um companheiro;
Entretanto, era seu lema:
Dinheiro, dinheiro e dinheiro.
7 Declarava-se usurário
E dizia: — Quem não é?
Sem dinheiro no meu bolso,
Não tomo nem um café.
8 — Pobreza não é meu fraco,
Detesto a vida na roça;
Quero dinheiro comigo,
Papel ou moeda grossa.
9 — O meu regime de vida ,
É necessário a qualquer,
Filosofia de todos
Seja homem ou mulher.
10 E assim vivia Tinteiro…
E a falar palavras feias
Cobrava um simples tostão,
Tomando terras alheias.
11 Num domingo, entre os amigos,
Pitando e contando casos,
Quando viu certa mulher,
Falando-lhe em conta e prazos.
12 Ele ia responder
Mas tombou com dor tão forte,
Que a mulher veio abraçá-lo.
Era ela a própria Morte…
Jair Presente
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