1 O Coronel Minervino
Era rico fazendeiro,
Segundo a fala do povo
Guardava muito dinheiro.
2 Ao perder a esposa morta,
Dona Libânia Maria,
Caiu em doença grave
Entrando em paralisia.
3 A clamar e a lamentar-se
Sozinho num casarão,
Tomou por filho adotivo
O órfão Sebastião.
4 O menino que era pobre,
Mas, pobre a mais não poder,
Não mostrava a inclinação
De servir e obedecer.
5 Na escola era mau aluno,
Preguiçoso e respondão,
Quase todos os colegas
Tinham medo do Tião.
6 O coronel evitava
Falar-lhe em renúncia e paz,
Queria encontrar no filho
Um atleta forte e capaz.
7 Muito em breve fez-se moço
Bonitão e gastador.
Usava as notas do pai
Como papéis sem valor.
8 Não aceitava conselhos
De estudar ou de parar,
Tinha ele um pai tão rico
Para que se incomodar?
9 Mas, ninguém foge a mudanças
Que aparecem ano a ano;
O coronel via no filho
O seu pior desengano.
10 Estava pobre e doente
Pagando agora os juros
Das quantias emprestadas
Para resgates futuros.
11 Piorando, piorando…
Nada mais tinha de seu…
Numa noite triste e fria
O coronel faleceu.
12 Tião chorou, mas, lembrou-se
Dos seus tempos de criança;
De certo receberia
Do pai morto grande herança.
13 No outro dia, forte e ansioso
Mantendo o seu sonho inglório,
Foi chamado para ajustes
Registrados num cartório.
14 O escrivão plantonista
Informou-o, num momento,
Que o pai morto não deixara
O mínimo testamento.
15 Deixou uma carta apenas
Com cuidado e distinção,
Documento dirigido
Ao filho Sebastião.
16 O rapaz abriu-a logo,
Era algum informe enfim…
Quem sabe maneava herança?
A carta dizia assim:
17 “Tião, terminam agora
Meus dias atribulados,
Todos os bens que me restam
Estão hoje hipotecados.
18 “Não lhe deixo herança alguma,
Estou pobre e sem valia,
Meu filho, tudo lhe dei
E agora chegou meu dia…
19 Nada mais tenho a lhe dar
Mas se você quer dinheiro,
Muito dinheiro a gastar,
Busque o bem, fazendo amigos
E comece a trabalhar.”
Jair Presente
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