“No auge do sofrimento e do desespero, ocasionados pela dura separação do convívio amigo de meu filho, uma noite, seguindo pelas ruas de Goiânia, ao passar em frente ao Centro Espírita Amor e Caridade, localizado à Avenida Independência, tive a ideia de ali entrar, embora não fosse espírita.
“O presidente desta instituição, Amir Salomão, acolheu-me com simpatia, e vendo-me profundamente abatido, providenciou para que eu iniciasse um tratamento espiritual naquele mesmo dia.
“Foi um socorro que chegou na hora certa, pois havia perdido recentemente o meu filho Lúcio Germano Dallago, com 21 anos de idade, em acidente automobilístico.”
Assim, o Sr. Lúcio Dallago, residente na capital goiana, em carta datada de 24 de agosto de 1980, narrou-nos, atendendo nosso pedido, sua duríssima, mas proveitosa experiência, como veremos a seguir, no desenrolar de suas notícias:
“O acidente ocorreu na madrugada do dia 25 de novembro de 1977, na BR-153, quando uma carreta chocou-se com o Opala em que ele viajava com seus amigos Hermilon e Waldir, todos falecidos no local.
“Acredito que foi a carreta que os colheu, ocasionando o acidente. Mas, quem sou eu para julgar? Entregamos o caso à Justiça Divina, pois o que nos adiantaria qualquer ação?”
Um sonho revelador
“Três meses após o acidente, aconselhados por amigos e estimulados pela leitura de várias mensagens de pessoas falecidas, recebidas por Chico Xavier, eu e minha esposa fomos a Uberaba, mas não conseguimos falar com o médium.
“Retornando a Goiânia, abracei a Doutrina Espírita, passando a estudá-la cada vez mais. Nessa época falei à minha senhora que haveríamos de receber algum aviso para retornarmos a Uberaba, quando nosso filho tivesse oportunidade de nos escrever.
“Em agosto de 1978, com um grupo de amigos, dirigimo-nos às margens do Araguaia para uma pescaria. Na terceira noite tive um longo e nítido sonho com meu filho, visitando-o num hospital. Tinha boa aparência e mostrava-se disposto. No dia seguinte, despertei muito cedo, logo meditando sobre aquela “vivência espiritual”. Ansioso para contar o sonho aos familiares e confrades, consegui convencer meus amigos a interromperem a pescaria, e regressamos no quarto dia de um passeio programado para dez.
“Retornando a Goiânia, fui aconselhado pelos confrades amigos a procurar Chico Xavier, também eles deduzindo comigo, do sonho, que meu filho estava em condições de enviar-me uma mensagem.
“Assim fizemos. Em Uberaba, pela segunda vez, enfrentando uma fila enorme, conseguimos nos avistar pessoalmente com o querido médium, numa reunião pública do Grupo Espírita da Prece. Era o dia 1º de setembro de 1978.
“A nossa emoção foi grande, principalmente de minha esposa, que, mostrando-lhe a foto de Lúcio, mal conseguiu dizer que havia perdido aquele filho num acidente.
“Chico fitou-lhe a face, e mesmo sem ter o mínimo conhecimento de nossa família, perguntou:
— Quem se chama Germano? Estou vendo um senhor de idade…
“Minha esposa quase desmaiou, nada conseguindo responder. E antes que eu articulasse qualquer esclarecimento, o médium continuou:
— Não precisa responder, ele está dizendo que é avô de Lúcio, afirmando ainda que antes da encarnação do jovem, na condição de seu neto, eles já eram velhos amigos.
“E, com a orientação de que poderíamos colocar sobre a mesa dos trabalhos um pedido de notícias do nosso saudoso filho, o diálogo foi encerrado.
“Aguardamos confiantes, em meditação e preces, por horas e horas, e a resposta veio mesmo… Já avançando na madrugada do dia 2, tivemos a feliz emoção de ouvir, dos lábios do estimado médium, a leitura da esperada carta de Lúcio, psicografada naquela reunião.
“A mensagem veio trazer consolo e esclarecimento a todos os nossos familiares. Consolidou, também, a certeza da fé espírita que recentemente havíamos abraçado.
“Assumi, em memória de nosso filho, a direção da Casa Espírita de Meimei — Lar das Crianças (Rua Santiago, Lote 20, Quadra 219, Setor Palmito, Goiânia, GO), que hoje ampara quase 60 menores, de 6 meses a 6 anos, onde igualmente funciona o Departamento de Assistência Espiritual e uma distribuição de sopa, aos sábados, aos menos favorecidos.”
1 Querida mãezinha e meu querido papai Lúcio, peço para me abençoarem.
2 O meu avô Germano n e o meu tio Aldo n me trouxeram até aqui e me auxiliam a traçar estas linhas. Venho rogar-lhes paciência e coragem.
3 A morte não existe como pensamos na Terra. Atravessamos um choque estranho que eu não sei descrever, porque prevalece em nós, pelo menos no que me sucedeu, um sono feito de anestesia e de esquecimento.
4 Compreendo tudo agora e sei quanto choraram porque podem imaginar como eu chorei, à feição de um menino grande sequestrado, sem volta, em outro lugar que não a nossa casa.
5 O acidente me afetou qual uma explosão na qual a gente se perde por algum tempo. Disso nada sei, mas posso assegurar-lhes com os nossos daqui, que não me perdi no acontecimento. Mudei de roupagem, sem mudar a própria identidade.
6 Agora, é coragem para nós todos. Chega um momento na vida de cada um, no qual apenas a fé em Deus é a alavanca da salvação de nosso próprio raciocínio.
7 Peço-lhes para que vivam valorosamente e não culpem a ninguém se o carro foi a condução que as Leis de Deus me deram para voltar à vida espiritual, a que me vou habituando pouco a pouco.
8 Recordem os nossos queridos Hermilon e Waldir, n e creiam que se ficarem fortes, minha fortaleza se restabelecerá mais depressa.
9 Numa situação destas, em que a gente se vê noutra forma, dando notícias por intermédio de outra pessoa, como se estivéssemos numa janela aberta para uma praça repleta de amigos, não é muito fácil. Por isso, creio que dar o meu sinal de presença é bastante para que me saibam vivo, e com a mesma disposição para trabalhar.
10 Por enquanto, estou no tratamento de ideia vagarosa e vida mansa, mas tenham a certeza de que tudo comigo vai melhorar quando me derem coragem para recomeçar.
11 Meu abraço às irmãs n e lembranças aos amigos.
Do acidente nada me perguntem, porque não quero turvar a cabeça que já está ficando mais clara por dentro.
12 Auxiliem-me a deixar de lado o que não devo carregar comigo e a recordar o que preciso fazer agora: recuperar o meu equilíbrio, confiar em Deus e na vida, e reformar-me qual eu era, decidido a cumprir os meus deveres, sem reclamação e sem choro.
13 Muitas saudades que, aliás, são nossas. E, em meio das saudades que estão comigo, recebam o abraço com muitos beijos de gratidão e carinho do filho muito grato que, mais uma vez, lhes pede a bênção,
Lúcio Germano Dallago. n
IDENTIFICAÇÕES
1 - Avô Germano — Germano Dallago, avô paterno, desencarnado em Barra Fria, SC, em 1941, aos 51 anos de idade.
2 - Tio Aldo — Aldo Dallago, tio, desencarnado em Ibaiti, PR, a 12/11/1966.
3 - Hermilon e Waldir — Hermilon Pereira Gonçalves e Waldir Ramos Siqueira Filho, amigos inseparáveis de Lúcio Germano, desencarnados no mesmo acidente.
4 - Meu abraço às irmãs — Irmãs: Sandra Maria, Sônia Cristina e Selma Regina Dallago.
5 - Lúcio Germano Dallago — “Filho de Maria de França e Lúcio Dallago, nasceu em Goiânia a 23/9/1956. Sua breve e saudosa passagem terrena foi caracterizada por uma personalidade carinhosa e alegre, marcada por um espírito caridoso, deixando um grande círculo de amigos na sociedade goianiense. Quando desencarnou, a 25/11/1977, preparava-se para o vestibular no Colégio Carlos Chagas.” (Dados biográficos divulgados juntamente com a sua carta mediúnica, em impresso feito pela família.)
Hércio Arantes