1 Querido papai Hélio e querida mãezinha Sayoko, estamos aqui, mais juntos e compreensivelmente mais ajustados uns com os outros, pela redescoberta de mim mesmo.
2 Sei que os entraves do presente merecem nossos comentários, pela situação difícil que as condições de trabalho estabelecem para quantos se dedicam ao trabalho, sob a legenda da ordem, mas é preciso me volte na direção do passado para clarear os nossos problemas que, de começo, pareciam insolúveis.
3 Nestes últimos meses, tenho adquirido crescimento mais amplo. Não digo isso, com referência a tamanho, mas sim com relação ao domínio de minhas lembranças de vidas anteriores, nas quais estivemos unidos.
4 Papai Hélio, o avô Torao tem me auxiliado sempre, desde a minha chegada ou regresso à Vida Espiritual. E agora o meu avô Kinjiro nos compartilha dos estudos e lições. n
5 Nada tão belo como rememorar os nossos tempos felizes em nossas ilhas fabulosas. Aqueles mares inesquecíveis coalhados de pequenos continentes, cobertos de flores, não me saem das reminiscências.
6 Atualmente, em companhia de meus avós, tenho voltado vezes frequentes, a todos aqueles santuários da Natureza, reverenciando os nossos antepassados e arquitetando planos de trabalho que nos façam um futuro sempre melhor.
7 Dói-me recordar que, um dia, fui obrigado em outra veste física a determinar que o senhor praticasse o Hara-kiri, depois de um processo rude em que a verdade não apareceu no tempo devido.
8 Sucede que um desfalque de proporções enormes havia surgido em nossos negócios que abrangiam filiais em várias cidades.
9 Desinformado pela insegurança de quantos agiam tentando a nossa separação, não vacilei em aplicar-lhe pena assim tão amarga, mas creia que pela amizade fiel que nos entrelaçava os corações, depois de vê-lo desaparecer em tão lamentável acontecimento, passei, de minha parte, a ser um chefe igualmente morto, conquanto ainda vivesse para morrer vagarosamente, nas garras do remorso, mormente, quando vim a saber que o endereçara a sofrimentos injustos, porque o suposto desfalque atribuído ao seu nobre caráter fora praticado por um irmão, companheiro de minha própria consanguinidade, que soubera se ocultar de tal modo que o meu gesto, contra o seu caminho irrepreensível de homem de bem, se tornou a causa de minha própria desencarnação, desprestigiado que me sentia, por minha própria consciência, pouco tempo depois da sua volta a Vida Espiritual.
10 Envergonhado fui socorrido por seus próprios braços de amigo, ao me desvencilhar do corpo vencido por pesados desgostos e eu que nunca havia chorado na existência de que provinha, aprendi a derramar aquele pranto de remorso que se assemelha a gotas de vida, a nos desfazerem a própria alma.
11 Pedir-lhe perdão pela minha atitude agressiva e imperdoável, foi tudo o que pude fazer em nosso reencontro, mas, ali mesmo, ante os céus de Kioto, n implorei aos nossos antepassados me doassem, um dia, a mesma sentença ao seu lado, de modo a me sentir exonerado do arrependimento que me feria todas as fibras do Espírito.
12 O seu amor de amigo recolheu-me com carinho as manifestações de sofrimento e passamos a trabalhar de forma inversa. Eu que lhe dirigia as atividades, passei à subalternidade, acatando-lhe as instruções.
13 O tempo se desdobrou sobre o tempo, os dias se desfizeram no parcelamento das horas, até que vi muitos de nossos amigos criando, com a futura mãezinha Sayoko o seu reingresso na experiência física.
14 Acompanhei-lhe o retorno, segui os seus passos vacilantes de pequenino que recomeçava a lutar para consolidar-se no campo terrestre e, quando se deu o reencontro do papai Hélio e da mãezinha Sayoko, na Terra, reconheci que a minha oportunidade havia chegado.
15 Com o auxílio dos que nos amam, renasci para amá-los cada vez mais, na condição de filho, e nessa mesma figuração, com a aprovação de nossos avós, sofri a pena igual a que lhe impusera.
16 Desde o instante em que me vi liberto do corpo material, uma alegria imensa se apoderou de mim e aqui estou, depois desta digressão, para dizer-lhes que a nossa vida obedece a leis que se cumprem para a nossa felicidade real.
17 Decretara a morte de um amigo que muito amava, enganado por um irmão que, decerto, foi entregue ao mesmo império da lei, no entanto, passei pela mesma prova com o amor do companheiro transformado em pai amoroso e sensível, sob o carinho da mãezinha Sayoko que hoje tenta compreender a solução do nosso problema que passou aos arquivos do tempo.
18 Agora, papai Hélio, os horizontes se me abriram e estamos entrosados um com o outro na mesma continuidade do trabalho que retomamos sob o céus do Brasil.
19 Louvada seja a Providência do Senhor que nos perdoa, permitindo-nos resgatar as contas da vida com o amor e fé nos princípios que nos governam.
20 É por isso que hoje não estou escrevendo sob o aspecto do Tiaminho que se reconscientizou na Espiritualidade. 21 O amor cobre os erros humanos ( † ) e a prova disso é que me encontro aqui, agradecendo o ensejo que me foi concedido para esta confissão clara e certa.
22 Que minhas queridas irmãs se desenvolvam cada vez mais para cumprirem na Terra as mais belas tarefas de que se façam capazes, são os meus votos e ambos, meus pais queridos, recebam a alma toda, com todo o jubiloso reconhecimento do filho, sempre muito feliz e muito grato.
Tiaminho.
Hélio Ossamu
27 abril 1983.
[1] Avô materno Kinjiro Yoda, falecido a 11 de março de 1981 em Taboão da Serra, SP, aos 69 anos.
[2] Kioto, antiga capital do Japão.