1 Querido papai Hélio e querida mamãe Sayoko, estou escrevendo com o auxílio do avô Daikuara n e da tia Saito, para falar que vou indo muito bem.
2 Estou contente, porque estamos todos com outras ideias.
3 Pai, venho pedir a sua paz. Nada aconteceu de mal. Eu queria ajudar um pouco na ilusão de que já dispunha de força para movimentar o carro. n
4 Escorreguei e não vi mais nada, porque dormi. Depois, soube que o senhor e minha mãe estavam muito tristes.
5 Um amigo de coração generoso me conduziu a um lindo parque de repouso. No primeiro dia, estava tão consciente n de que estávamos todos juntos, que julguei estar em Bertioga n ou em outro local parecido, a fim de esperá-los.
6 Encontrei muitos amigos que me ensinaram a chamá-los por parentes. Por eles, fui levado à nossa casa e vi que estavam chorando. Não consegui consolá-los, mas pedi aos que me protegiam apoio e socorro para os queridos pais, para Mimi e para Tati.
7 Papai, estou muito agradecido. Sei tudo o que o senhor e mamãe conversam comigo especialmente quando estão diante do oratório com o meu retrato. n
8 Papai, não creia que poderíamos ter evitado o acidente que nos obrigou a tomar caminho de Guarujá como soube depois, n onde dormi. O vovô me esclarece que o meu tempo teria de ser muito curto.
9 Ele diz que somos companheiros da vida e que, muitas vezes, um companheiro vem ficar no mundo apenas durante o tempo necessário para fazer um ponto de ligação entre duas certezas — a certeza do amor e a certeza da vida que nunca desaparece.
10 Podem acreditar que sinto muitas saudades de casa, mas estou muito protegido e reconfortado.
11 Estou alegre porque o senhor papai, e mãezinha estão me vendo em outras crianças. Eu sei que os meninos sem abrigo e sem amor de alguém são também meus irmãos. Deus é o nosso Pai e nos socorre a todos.
12 Não sei e nem posso escrever mais. Mas estou muito feliz porque, depois de um ano, consegui aprender a ser auxiliado a lhes escrever.
13 Muito carinho às meninas e, para os dois, muitas saudades e muitos sorrisos de alegria e de esperança do filho que lhes pertence.
14 Sempre o Tiaminho
Hélio Daikuara
04 março 1981.
REFERÊNCIAS
1: Referência ao avô paterno, Torao Daikuara, falecido a 19 de agosto de 1955, em Santa Cecília, município de São Jerônimo, Estado do Paraná. — Tia Saito, ainda não identificada pelos familiares de Tiaminho.
2: Tiaminho faleceu colhido por um automóvel, já que, devido ao grande congestionamento naquele trecho da estrada Guarujá-Bertioga, saíra de dentro do veículo em que viajava e ficara próximo dele, do lado de fora. Na movimentação dos carros, a se deslocarem no trânsito, o menino se acidentou, para desespero do pai e familiares. Tiaminho em sua inocência esclarece que tentava empurrar o carro paterno, parado pelo congestionamento.
3: Com certeza, chamou a atenção do leitor o fato da palavra consciente estar grifada na mensagem do Tiaminho. Trata-se de surpreendente revelação que merece ser explicada.
Tiaminho diz que “no primeiro dia, estava tão consciente de que estávamos todos juntos…” e, um pouco antes escreve, que “um amigo de coração generoso me conduziu a um lindo parque”.
Realmente, antes mesmo da recepção desta mensagem, no dia do falecimento do Tiaminho, uma senhora budista, amiga do casal, dissera aos pais que o menino estava consciente de tudo e havia sido levado a um lindo jardim, recamado de flores, pintadas em cores muito nítidas, a ponto de chamarem a atenção do menino.
Tanto o Dr. Hélio quanto D. Sayoko interrogaram a afirmação da senhora, tomando o cuidado, contudo, de não comentarem o episódio com ninguém, sequer comentando-o entre si.
Ficaram surpresos quando em sua mensagem o Tiaminho confirma a revelação — evidente revelação mediúnica — e, além de confirmar o fato, grifa a palavra consciente, como querendo dizer aos pais, para que não tivessem qualquer dúvida a respeito, pois, a passagem para o Plano Espiritual não lhe retirou a lucidez do espírito.
4: Com muita frequência ia a família Daikuara até Bertioga, cidade litorânea paulista.
5:A propósito, após esta mensagem, apresentaremos o depoimento da mãezinha do Tiaminho, referindo-se às suas orações diante do oratório de inspiração budista.
Temos observado em livros anteriores que os depoimentos de crianças, jovens, enfim de familiares desencarnados, são bastante claros, no sentido de que eles visitam os pais em seus lares, convivendo com eles, qual se ainda estivessem encarnados.
Daí, a importância de, tanto quanto possível, os pais manterem um clima de paz e de resignação para que a sua dor e o seu desespero não se reflitam nos filhos queridos que, do outro lado da Vida, continuam necessitando do amparo, da proteção e do carinho dos genitores queridos.
Para anotar: Chico Xavier não tinha qualquer conhecimento da existência do citado oratório, com a foto do Tiaminho…
6: Após o acidente, Tiaminho foi levado ao Pronto Socorro do Guarujá, onde já chegou sem vida.
Caio Ramacciotti