1 A sepultura não é a porta do Céu, nem a passagem para o inferno. É o bangalô subterrâneo das células cansadas — silencioso depósito do vestuário apodrecido.
2 O homem não encontrará na morte mais do que vida e, no misterioso umbral, a grande surpresa é o encontro de si mesmo.
3 Falar, pois, de homens e de Espíritos, como se fossem expoentes de duas raças antagônicas, vale por falsa concepção das realidades eternas. As criaturas terrenas são, igualmente, Espíritos revestidos de expressões peculiares ao planeta. Eis a verdade que o Cristianismo restaurado difundirá nos círculos da cultura religiosa.
4 Quanta gente aguarda a grande transição para regenerar costumes e renovar pensamentos? Entretanto, adiar a realização do bem, é sempre menosprezar patrimônios divinos, agravando dificuldades futuras.
5 O deslumbramento que invadiu as zonas de intercâmbio, entre as Esferas visível e invisível, operou singulares atitudes nos aprendizes novos.
6 Em círculos diversos, companheiros nossos, pelo simples fato de haverem transposto os umbrais do sepulcro, são convertidos, pelos que ficaram na Terra, em oráculos supostamente infalíveis; alguns amigos, porque encontraram benfeitores na zona espiritual, esquecem os serviços que lhes competem no esforço comum; médiuns necessitados de esclarecimentos são transformados em semideuses.
7 A alegria da imortalidade embriagou a muitos estudiosos imprevidentes. Dorme-se ao longo de trabalhos valiosos e urgentes, à espera de mundos celestiais, como se o orbe terrestre não integrasse a paisagem do Infinito.
8 É necessário, portanto, recordar que a existência humana é oportunidade preciosa no aprendizado para a vida eterna. 9 Ensina-se-nos, aqui, que Espíritos protetores e perturbados, nobres e mesquinhos, podem ser encontrados nos Planos visíveis e invisíveis. 10 Cada criatura humana tem a sua cota de deveres e direitos, de compromissos e possibilidades. 11 Zonas felizes e desventuradas permanecem nas consciências, na multiplicidade de posições mentais dos Espíritos eternos. Tanto na Terra como no Céu, a responsabilidade é lei.
12 Neste quadro de observações, o Consolador é a escola divina destinada ao levantamento das almas. 13 Urge, pois, que os discípulos se despreocupem do Espiritismo dos mortos, para colocar acima de todas as demonstrações verbalísticas o Espiritismo dos vivos na eternidade.
14 Dentro de cada aprendiz há um mundo a desbravar.
15 A Terra é também a grande universidade. Ninguém despreze a luta, o sofrimento, a dificuldade, o testemunho próprio. A luz e o bem, a sabedoria e o amor, a compreensão e a fraternidade, o cérebro esclarecido e as mãos generosas dependem do esforço pessoal, antes de tudo.
16 O Sol ilumina o mundo, a chuva fecunda a terra, a árvore frutifica, as águas adoçam a aridez do deserto; mas o homem deve caminhar por si mesmo. As maravilhas e dádivas da Natureza superior não eximem a criatura da obrigação de seguir com o Cristo, para Deus.
17 Quando tantos companheiros dormem esquecendo o serviço, ou contendem por ninharias copiando impulsos infantis, trago-te, leitor amigo, estas reportagens despretensiosas — lembrança humilde de humilde noticiarista desencarnado.
18 As experiências relacionadas, nestas páginas singelas, falam eloquentemente de nossas necessidades individuais. Não devemos continuar na condição de meros beneficiários da Casa de Deus, reincidentes nas dívidas e falhas criminosas. 19 A Providência nos oferece tesouros imperecíveis. O Pai repartiu a herança com magnanimidade e justiça. Não há filhos esquecidos e todos somos seus filhos.
20 Trazendo-te, pois, meu esforço desvalioso, feito de coração para corações, termino afirmando que todas estas reportagens são reais e que, se os nomes das personagens obedecem à convenção da caridade fraternal, aqui não há ficções nem coincidências. Cada história representa um caso individual, no imenso arquivo das experiências humanas, para compreensão da vida eterna.
Pedro Leopoldo, 8 de dezembro de 1942.
Humberto de Campos
(Irmão X)