1 Querida mãezinha Sonia e querido papai David, recebam com os meus irmãos e nossos amigos os meus votos de paz.
2 Estou emocionado e reconhecido.
Não sei de que modo configurar com palavras o meu reconhecimento.
3 Um natalício comemorado no amor que nasce do Amor Supremo. Nada fiz por merecer a festa que me doaram na pessoa de nossos irmãos em problemas e provas maiores do que os nossos.
4 Para ver um sorriso no papai David e na mãezinha Sonia, repetirei uma anedota que colhi no humorismo idish. n
— Certo Snorrer n depois de descer de um comboio no qual fizera longa viagem, disse a um amigo:
— O que mais me impressionou na excursão foi ver que o chefe do trem me fitava de modo extremamente particular…
— E que há nisso demais, disse o outro? Porque o chefe o fixaria desse modo?
O Snorrer explicou:
— Ele supunha que eu viajava sem passagem…
— E que fez você à frente disso?
O outro esclareceu:
— Eu respondia, fitando igualmente o homem, como se a tivesse!
5 Falo no assunto, porque me tratam do pobre natalício com tamanho carinho que estou na mesma posição do viajante desvalido. Estou na alegria de quem realmente merecesse a festividade que me trazem.
6 Sou grato aos pais queridos, aos queridos irmãos, Rachel, Renato, Ricardo, Rosana e Moises, por todas as bênçãos e sacrifícios que fizeram para que a felicidade e o estímulo ao trabalho estejam comigo.
7 Mãe querida e querido papai David, estou muito grato e repetindo a música do Shalom em meu coração, a fim de agradecer-lhes.
8 E hoje peço ao nosso grupo aqui, a devida permissão para um pequeno apontamento. Acontece que estão aqui muitos pais e muitas mães à espera de que os filhos queridos se comuniquem, quando parece que lhes tomo o lugar.
9 Com muito respeito e veneração a todas as lições que se explicam neste salão acolhedor, preciso dizer aos queridos amigos cristãos aqui presentes que meus pais e meus irmãos não se encontram conosco na ideia de comprarem as minhas palavras com o preço da beneficência.
10 Acontece que estamos dispostos a transformar as nossas saudades em bênçãos para os nossos semelhantes.
11 Por organizarmos uma pequena festa de amor ao próximo, memorizando o meu natalício, isso não quer dizer que estejamos pretendendo direitos dos quais nos sentimos ainda tão longe!
12 Creiam nossos irmãos que a minha despedida apressada do Plano Físico nos deixou a todos marcados de profundo sofrimento.
13 Meu pai é médico de muita dedicação ao trabalho e minha mãezinha Sonia é instrumentadora para serviços de cirurgia e enfermeira devotada e eficiente. Não somos ricos de metal, mas ricos de serviço e de amor.
14 Entendemos que o pão doado a uma criança ou um brinde entregue a um doente valem muito mais que uma flor sobre a pedra ou mais ainda do que uma festa do mundo, a caráter, com guloseimas e bebidas de que não necessitamos.
15 Perdoem-nos os amigos cristãos que respeitamos e estimamos tanto, se a poesia da oração, transformada em bolos de alegria à gurizada, está em nossos pensamentos. Nada fizemos demais, diante da Lei que nos determina amar ao próximo, tanto quanto a nós mesmos. ( † ) n
16 E estamos agradecidos pela compreensão que nos possam doar. Acreditamos que noventa por cem das solenidades em andamento no mundo poderiam ser transformadas em utilidades e bênçãos para os nossos irmãos infelizes e continuaremos nessa prática de solidariedade humana.
17 Mãezinha Sonia, agradeço a sua decisão de se dedicar aos enfermos sem ninguém, asseando-lhes o corpo fatigado, e esperamos para breve a fundação e funcionamento da nossa cantina de fraternidade em que toda criança de qualquer procedência possa encontrar conosco o pão e o leite que se fazem bases simples da vida.
18 Agora terminarei, rearticulando a todos os nossos agradecimentos.
19 Vejam os nossos amigos, aos quais me dirijo, que se meu pai surge bem trajado, por dentro ele carrega uma fonte de lágrimas ao recordar o filho supostamente morto e que, se a mãezinha Sonia nos aparece vestida de alegria, no íntimo, saibam todos que ela se apresenta no mesmo figurino de outras mães que se acham aqui raladas de saudade e sofrimento.
20 E, se os meus irmãos se mostram sorridentes, quero contar, sem o consentimento deles, que cada um sacrificou a aquisição dessa ou daquela utilidade para que a poupança feita fosse transformada em amor aos que sofrem.
21 Nada digo por espírito de reclamação ou de crítica, mas sim para sermos perdoados, se aparecemos com tanto júbilo, embora chorando e sofrendo, para homenagearmos a Providência Divina com tudo o que possamos ter para dar e dividir.
22 Somos gratos a todos e meu pai David e minha mãezinha Sonia dirão como nos sentimos felizes aqui na companhia de todos.
23 Pais queridos, com os queridos irmãos e nossos amigos, recebam o coração feliz e reconhecido do filho, irmão e companheiro sempre agradecido.
Roberto
Roberto Muszkat
13 de novembro de 1982.
NOTAS
1) Idish — Idioma judaico-alemão que surgiu provavelmente no século XI. Tem sua raiz na palavra alemã “judich” (judaico).
2) Snorrer — Mendigo, pedinte.
David Muszkat
[1] [Na versão de Almeida de Levítico 19.18: “… mas amarás a teu próximo como a ti mesmo.”]