1 Querida mãezinha Luíza e querido papai Mival, peço me abençoem.
2 Sou trazido até aqui, com o objetivo de tranquiliza-los.
3 Tudo aconteceu de repente. Os dias correram ou se arrastaram, não sei bem, de novembro para cá, entretanto, o quadro final está fixo na memória.
4 Um leve impulso na direção da máquina e a batida contra a muralha do caminho perfeito nos colocou em situação grave que culminou naquele adeus de improviso.
5 Quem passe por semelhantes episódios, efetivamente, não saberá descrevê-los, porque tudo acontece à maneira de um relâmpago na mente da pessoa que se vê, de momento para outro, despojada de tudo.
6 O choque não dá para contar minudências.
7 Sei apenas que depois de longo desmaio, o Augusto e eu acordamos num hospital que nos pareceu alguma casa de tratamento da Grande São Paulo…
8 Tudo se mostrava diferente, mas acreditávamos ainda na continuação da nossa própria existência física.
9 Sentíamo-nos feridos ou gravemente escoriados e o corpo, a princípio, nos pareceu tão igual àquele de que nos havíamos retirado sem perceber, que foi com muita surpresa que recebemos a visita da Tia Luíza, n que me disse querer minha mãe, qual se lhe fosse filha e que, por isso, nos considerava por netos da alma.
10 A realidade nos chocou rudemente, mas não havia meio de escapar ao reconhecimento da nova situação.
11 Um médico amigo, que me ensinou a chamá-lo por vovô Almeida, n me auxiliou carinhosamente, e agora só me resta dizer que os primeiros meses foram para nós de muito choro e de muitas queixas, porquanto nos víamos sintonizados com as nossas famílias, como se estivéssemos em casa ou como se a nossa casa estivesse por dentro de nós.
12 Felizmente, o tempo é um bálsamo que alivia qualquer sofrimento, e aqui estou nestas folhas de papel trazendo presença.
13 Peço para que não me lamentem. Desejo em nosso ambiente aquela alegria que sempre foi tão nossa.
14 Roguem ao Moacir e à Glorinha n para que não me suponham morto porque, em verdade, estou vivo e procurando quebrar as pedras da estrada para aproximar-me com mais segurança de todos os corações queridos.
15 Em verdade muitos sonhos se apagaram e muitos planos ficaram frustrados, mas a vida não termina no retângulo de terra em que nos guardam por aí a vestimenta rasgada, e com a vida que é de Deus, prosseguiremos juntos.
16 Papai, peço-lhe coragem. A mãezinha necessita de sua força, e seu filho precisa apoiar-se em ambos para a justa renovação.
17 Ainda não estou muito legal para notícias. O assunto está muito verde ainda, mas espero melhorar meus conhecimentos aqui, de modo a voltar com mais proveito a novas informações.
18 Queria, de minha parte, podar a tristeza e entupir a fossa em que nós todos caímos com a separação imprevista, com o mundo de esperanças diferentes de que me sinto agora possuído.
19 Peço-lhes. Não guardem cousas para me recordarem chorando, como se Deus nos obrigasse a ficar parados na esquina da morte.
20 O tempo já modificou as nossas estradas de comunicação uns com os outros, e precisamos de transformação, para o retorno à felicidade doméstica sempre nossa.
21 Mamãe querida, agradeço-lhe as preces. Recebi seus pensamentos em luz de amor, e isso funcionou em mim, à maneira de remédio eficaz num doente.
22 O nosso amigo Augusto igualmente está em recuperação, e agradece.
23 Agora, o momento é de ponto. Ponto aparentemente final numa carta que continua na memória.
24 Estaremos sempre juntos. Não tenha dúvida. Ninguém morre. A penosa somente nos compele à mudança de corpo ou troca de roupa, e continuamos os mesmos. Entretanto, sou o mesmo, ambicionando sinceramente melhorar-me para servi-los como desejo.
25 Muitas lembranças aos queridos irmãos, e para os dois o meu abraço de filho reconhecido que deseja hoje ser melhor do que ontem, e que espera ser amanhã o que devo ser para ofertar-lhes a felicidade que merecem.
26 Muito carinho e gratidão do filho e companheiro de todos os dias,
Mival n
Mival de Almeida Filho
Por diversas vezes, tivemos o grato prazer de entrevistar o casal Sr. Mival de Almeida — D. Luiza Maciel de Almeida, a primeira delas minutos após a recepção da mensagem “Estaremos sempre juntos”, pelo médium Francisco Cândido Xavier, no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba, na noite de 3 de agosto de 1979.
Como terá o leitor oportunidade de observar, procuramos fixar de preferência as palavras de D. Luíza, numa tentativa de veicular consolo para as senhoras mães que nos honram com a sua atenção.
Por itens, vejamos alguns pontos altos da mensagem, no que se refere aos elementos comprobatórios de sua autenticidade, antes de transcrever, na íntegra, dois excelentes depoimentos.
1 — Mival de Almeida Filho nasceu em São Paulo, Capital, a 14 de setembro de 1960, aí desencarnando, em consequência de acidente automobilístico, a 21 de novembro de 1978.
Categorizado funcionário do BRADESCO e integrante de distinto conjunto musical, era Mival Filho, apesar de apenas com dezoito anos de idade, professor de violão, no Conservatório Musical de Osasco.
Sempre cercado de amigos e admiradores, representantes de todas as classes sociais, sua desencarnação provocou em seu largo círculo de amizade profundo abatimento.
2 — Tia Luíza: Trata-se de D. Luíza Soares da Silva Maciel, tia da genitora de Mival de Almeida Filho, nascida em 1887, e desencarnada a 19 de agosto de 1973.
3 — Vovó Almeida: Bisavô paterno de Mival Filho. Trata-se do Dr. Ursino José de Almeida, que nasceu em Salvador, a 12 de agosto de 1860, e desencarnou em São Paulo, Capital, a 2 de janeiro de 1916.
4 — “Roguem ao Moacir e à Glorinha para que não me suponham morto porque, em verdade, estou vivo e procurando quebrar as pedras da estrada para aproximar-me com mais segurança de todos os corações queridos.” — a) Moacyr de Almeida Netto, nascido em São Paulo, Capital, a 28 de abril de 1957, o mais velho dos irmãos de Mival de Almeida Filho; b) Maria da Glória de Almeida (Glorinha), irmã caçula, nascida a 23 de abril de 1970.
5 — Agora, leitor amigo, sem quaisquer outras considerações, passemos aos depoimentos a que nos referimos acima, que colhemos de D. Luíza Maciel de Almeida, em Uberaba, respectivamente, a 14 e 16 de setembro de 1979.
1º) — “Estávamos eu e meu marido no Hospital de Fraturas da Lapa, onde estava hospitalizado nosso outro filho — Maurecir, de 21 anos de idade —, também acidentado juntamente com o César Antônio Salvi, falecido no local do acidente, quando tivemos a notícia do falecimento do nosso querido Mival.
Nosso filho Maurecir sofreu diversas fraturas — numa das mãos, do fêmur —, e escoriações generalizadas.
Jamais esperávamos a notícia alarmante, devido às informações do médico no sentido de que nosso filho Mival estava reagindo satisfatoriamente ao tratamento.
Depois do impacto, meu marido foi medicado no próprio hospital, uma vez que a pressão arterial dele se elevou, bruscamente.
Como que apoiada por forças outras que no momento não sabia interpretar, pedi aos parentes e à minha sogra que não se revoltassem contra os desígnios de nosso Pai Celestial, entendendo que não éramos os únicos a passar por semelhante situação, devido ao estado de saúde do Maurecir ter piorado, começando a ter febre alta, e só conseguindo dormir abraçado a mim.
Era com muito esforço que eu conseguia conter as lágrimas, enquanto meu marido chorava pelos corredores do hospital.
Eram cerca de 3 horas da manhã, quando meu esposo me perguntava onde se encontraria nosso filho. Pedi a ele muito cuidado para que o Maurecir nada soubesse.
Nesse instante, me desprendi do corpo, encontrando-me num hospital, num quarto cujas camas eram um tanto parecidas com as do nosso, porém, seus pés eram mais altos do que o habitual, o piso era cinza e dotado de um brilho extraordinário, e as portas eram um tanto quanto maiores do que as dos nossos hospitais.
Vi perfeitamente meu filho deitado numa das camas, dormindo de lado, sem cobertas.
Havia outro paciente deitado, nas mesmas condições, e não consegui ver-lhe o rosto.
Observei quando uma enfermeira chegou na entrada do quarto, e examinou os pacientes.
A paz era total.
Pude ver também um imenso corredor, sem ver-lhe o fim e nem tampouco outras portas, e o piso era dotado de um brilho irradiante.
Ao lado do quarto, isto já fora do hospital, existia uma espécie de bosque muito verde, cujas árvores eram copadas, e do alto delas desciam como que pêndulos dispostos perfeita e simetricamente.
Esses acontecimentos foram narrados por mim ao meu marido, logo que retornei ao meu estado de vigília normal.
Depois de cerca de cinco minutos, novamente me desprendi do corpo e tornei a ver meu filho, no mesmo hospital.
Após esse desdobramento-visão, não tive dúvidas de que meu filho continua vivo, só que em outro plano que nós, os mortais da Terra, aparentemente não conhecemos.
Disse ao meu marido categoricamente, que nosso filho não estava mais no mundo físico, e que continuava vivo num lugar cuja paz eu tinha tido a ventura de sentir, graças a Deus, nosso Pai de Amor e Bondade.
(a) Luiza Maciel de Almeida
Uberaba, 14-09-1979.”
2º) — “Minhas irmãs de jornada,
Depois de dizer a vocês que estive com meu filho, no hospital do Plano Espiritual, na noite de 21-11-1978, noite de sua partida, venho agora, mais uma vez, confirmar e reafirmar que a vida continua.
Na noite de 14-09-1979, data em que meu filho completaria 19 anos de vida material, tive a felicidade de receber o presente que todas as mães saudosas como eu gostariam de receber, a alegria de rever o filho amado.
Mas antes de narrar o acontecido, minhas irmãs, quero tranquilizá-las.
Não nos preocupemos com os nossos filhos, pois o plano em que eles se encontram é um ambiente de tanta paz, que tenho a certeza de que se Deus permitisse que eles retornassem ao corpo material para viver ao nosso lado, não iriam querer trocar um lugar de tanta suavidade e beleza por um ambiente tão grosseiro quanto o nosso.
Uma coisa, porém, é certa: eles jamais esquecem seus entes queridos da Terra, e vibram muito em nosso favor.
É por isso que nós nunca devemos ficar chamando com insistência por seus nomes, e tampouco sentir revolta pela sua súbita partida.
Podemos chorar, é claro, porque nosso pesar não conseguiria secar as lágrimas dentro de nós.
Mas que nossas lágrimas sejam daquelas que banham nossas almas e aliviam os nossos corações ulcerados pela dor.
Evitemos articular qualquer palavra negativa, a fim de não lhes atrapalhar a evolução espiritual, no Plano onde se encontram.
Vamos aceitar essa provação como sendo um chamamento de Deus para a nossa preparação espiritual, que tenho certeza ser a maior preparação do mundo.
Mas vamos à narrativa:
Estava eu e meu marido no Grupo Espírita da Prece, na noite de 14 de setembro, noite em que fiz questão de passar ao lado do irmão Chico Xavier, porque se ficasse em meu lar iria sofrer muito.
Sentados num banco, à maneira de todo aquele povo que ali se aglomerava, apreciávamos o trabalho do médium amigo, psicografando mensagens, sob um fundo musical que me tocava profundo o coração, e aumentava ainda mais a vontade de rever meu filho.
Encostei a cabeça no ombro do meu marido, e olhando para as mãos do Chico, senti uma vontade imensa de que aquela psicografia fosse uma cartinha do meu filho.
Foi então que me desprendi do corpo físico, e, de repente, eu me encontrava diante de uma porta fechada.
Fui abrindo-a devagar, e vi meu filho tão perfeito como se estivesse em seu corpo denso.
Estava deitado numa cama, coberto até o pescoço com um cobertor marrom bem claro, e ainda pude ver que os lados do cobertor chegavam quase a atingir o piso.
Mesmo sem permissão para chegar até ele, dali da porta pude sentir meu filho muito perto de mim.
Pude observar-lhe os olhos e a boca claramente fechados, ressonando.
Ficamos ligados por um fluido tão agradável, que senti aquele calor aconchegante que sentimos quando abraçamos nossos filhos.
O quarto irradiava uma paz tão grande, que na hora me senti conformada com a sua morte material, por ver o maravilhoso lugar onde meu filho vive agora.
Mas isso foi tudo coisa de segundos, porque logo me senti novamente sentada ao lado do meu marido, ainda com a cabeça sobre o seu ombro.
Levantando minha cabeça, perguntei-lhe se ele tinha, ainda, esperança de doar-nos nova mensagem. Mais do que depressa, disse-me que sim.
Foi quando eu lhe respondi, absolutamente convicta, de que nós não a teríamos naquela noite, uma vez que nosso filho estava dormindo.
Luíza Maciel de Almeida
Uberaba, 16-09-1979.”
Elias Barbosa