1 Querida mamãe, n Minha querida mãezinha, abençoe seu filho em preces a Deus, rogando por nós.
2 A oração favorece a palavra que meu coração anseia trazer e agradeço a paz do ambiente que a oração tranquiliza e ilumina.
3 O nosso doloroso Dez de Janeiro n já se foi e agora, volvidos dezoito meses, posso voltar a fim de afirmar ao seu carinho que a morte é uma saída oculta na direção da vida verdadeira.
4 A princípio, depois do golpe inesperado, n a perturbação me tomou a cabeça. Eu daria tudo o que eu tivesse, para dizer em casa que eu não desaparecera para sempre.
5 Fiz tudo, mãezinha, para superar o desequilíbrio e explicar-lhe que o desastre fora apenas um ponto de mudança… Só mudança, nada mais.
6 Vi-me de coração descompassado, aflito, e a cabeça em fogo…
7 Uma nuvem me tomara os olhos e imaginava enxergar, sem realmente ver o que eu pensava…
8 O que houve depois do choque, do qual me desprendi do corpo, realmente não sei.
9 Fiquei assim na posição de alguém que sofresse longo tempo de anestesia, para despertar de improviso, reassumindo o controle de si mesmo, com muito vagar…
10 Escutava choro, gritos e lamentações. No meio de todas as vozes, a sua era diferente, diferente de todas, como sempre…
11 E via suas mãos postas, perto de mim, e ouvia suas palavras de aflição:
“— Ah! Meu Deus, Meu Deus, por que, Meu Deus! por que meu filho? Por que o desastre para meu filho?”
12 Como me doíam no coração as suas queixas… Era como se as suas lágrimas escorressem sobre o meu rosto, alagando minha alma e sufocando minha capacidade de pensar.
13 Meu pai, via meu pai, agoniado, vencido. n
14 E todos os nossos como que a me buscarem para o lar, sem que eu pudesse atender.
15 Minha angústia era tanta que, embora chumbado ao leito que me retinha, pedi a Deus que me enviasse alguém que pudesse abençoar e fortalecer… Foi então que notei, por fim, vovó Thereza ao meu lado. n
16 Ela consolou-me com carinho, pedindo-me calma. E esclareceu que a morte na Terra é um sofrimento que muito poucos até agora conseguem controlar, que eu esperasse que meu coração amoroso seria guiado para a verdade, que eu recebesse as exclamações da família com paciência e que, um dia, eu, com a bênção de Deus, lhes poderia falar.
17 Tranquilizei-me como pude e aqui estou, querida mamãe, para afirmar que a vida é boa e que tudo acontece para o bem.
18 Não se entristeça, não se abata, cuide da felicidade de todos os nossos, especialmente de nossa Christina n querida. Viva e viva muito, servindo, amando, ajudando os outros, compreendendo e abençoando.
19 Voltei aparentemente cedo para cá, porque isso era necessário. José Roberto n e eu estávamos atados numa dívida que o acidente resgatou.
20 Mas… esquecemos a dor, para só pensar na esperança. Estou alegre — muito alegre mesmo, ao vê-la num agrupamento de corações dedicados ao bem do próximo.
21 Trabalhe, mãezinha, pelo bem dos semelhantes.
22 Na Terra, a pessoa costuma construir com pedras, mas no Céu só se constrói com amor.
23 Sei que o seu olhar me procura nos jovens de minha idade, buscando auxiliá-los. Faça assim sempre.
24 E quando me fite nas lembranças de casa, não chore mais. Acalme-se e trabalhemos.
25 Julgam aí que perdi o curso de Direito n que me achava disposto a conquistar, mas aqui igualmente existem escolas e estudarei com entusiasmo, desde que em nosso lar tudo esteja bem.
26 Mãezinha, como seria bom se eu pudesse continuar escrevendo, escrevendo… Entretanto, não posso continuar.
27 Continuarei escrevendo em seu coração querido, dando ao seu carinho a certeza de que estamos juntos sempre e para sempre.
28 Para os nossos, com as minhas preces a Deus pela felicidade de meu pai, as minhas muitas lembranças.
29 Para sua ternura, querida mamãe, agradecendo as nossas amigas que a trouxeram até aqui, todo o coração de seu filho que não morreu,
Sérgio n
De nossa segunda entrevista com a Sra. Alice Decenço, em Uberaba, na tarde de 2 de fevereiro de 1980, já que a primeira se deu logo após a recepção da mensagem, na noite de 11 de julho de 1970, colhemos os seguintes dados sobre a página que foi impressa com o título “Do Mundo Espiritual”:
1 — Querida mamãe: D. Alice Teresa Dias Decenço, residente em Jaboticabal, Estado de São Paulo.
2 — O nosso doloroso Dez de Janeiro: Sérgio Roberto Decenço nasceu em Jaboticabal, a 11 de fevereiro de 1949.
Fez o Curso Técnico de Contabilidade, e trabalhava em escritório de despachante, com o pai.
Era caridoso e católico.
O desastre automobilístico que lhe resgatou uma dívida cármica, juntamente com o colega José Roberto, ocorreu a 8 de janeiro de 1969, na estrada que liga Jaboticabal a Ribeirão Preto, Estado de São Paulo.
Sérgio, na Santa Casa de Ribeirão Preto, chegou a se submeter à intervenção cirúrgica, mas, com o fígado rompido, veio a desencarnar a 10 de janeiro.
Detalhe importante este do Dez de Janeiro, porque o médium desconhecia, por completo, o que pudesse ter acontecido com o jovem Decenço.
3 — “A princípio, depois do golpe inesperado, a perturbação me tomou a cabeça.” — Os que testemunharam o acidente, afirmam que o Volks no qual Sérgio e José Roberto viajavam, foi de encontro a um caminhão que se encontrava com os faróis apagados, no acostamento, ao estourar um pneu.
4 — “Meu pai, via meu pai, agoniado, vencido.” — Trata-se do Sr. Sérgio Decenço.
5 — “Foi então que notei, por fim, Vovó Thereza a meu lado.” — O Espírito se refere à bisavó materna, D. Thereza Pierrotti Talarico, desencarnada há 47 anos, e natural da Itália.
6 — Christina: Maria Christina, irmã. Agora, Maria Christina Decenço de Camalho.
7 — José Roberto: José Roberto Damasceno, colega de curso (Pré-vestibular para Direito), que desencarnou logo após o acidente, a 8 de janeiro de 1969.
8 — “Julgam aí que perdi o curso de Direito que me achava disposto a conquistar, mas aqui igualmente existem escolas e estudarei com entusiasmo, desde que em nosso lar tudo esteja bem.” — Tanto Sérgio quanto José Roberto chegaram a fazer a inscrição para o Vestibular de Direito, em Ribeirão Preto, mas a morte os colheu na viagem de volta aos penates.
Avisada em sonho, cerca de quinze dias antes do acidente sobre o que viria acontecer, D. Alice, por diversas vezes, pedira ao filho o máximo de cuidado, ao volante, e talvez seja por isso que ele tenha alertado todas as mães que passam por experiências semelhantes, ao afirmar, a certa altura da mensagem:
“Não se entristeça, não se abata, cuide da felicidade de todos os nossos…”
“Viva e viva muito, servindo, amando, ajudando os outros, compreendendo e abençoando.”
“Voltei aparentemente cedo para cá, porque isso era necessário.”
“Trabalhe, mãezinha, pelo bem dos semelhantes.”
“Na Terra, a pessoa costuma construir com pedras, mas no Céu só se constrói com amor.”
“Acalme-se e trabalhemos.”
Elias Barbosa