“Tomou o cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: “Bebei dele todos.” — (MATEUS, 26.27)
1 No mundo, as festividades gratulatórias registram invariavelmente os triunfos passageiros da experiência física.
2 Lautos banquetes comemoram reuniões da família consanguínea, músicas alegres assinalam o término de contendas na justiça dos homens, nas quais, muitas vezes, há vítimas ignoradas, soluçando na sombra.
3 Com Jesus, no entanto, vemos um ato de ação de graças que parece estranho à primeira vista.
4 O Mestre Divino ergue hosanas ao Pai, justamente na hora em que vai partir ao encontro do sacrifício supremo:
5 Conhecerá desoladora solidão no Jardim das Oliveiras…
6 Padecerá injuriosa prisão…
7 Meditará na incompreensão de Judas…
8 Ver-se-á negado por Simão Pedro…
9 Experimentará o escárnio público…
10 Será preterido por Barrabás, o delinquente infeliz…
11 Sorverá fel, sob a coroa de espinhos…
12 Recolherá o abandono e o insulto.
13 Sofrerá injustificável condenação…
14 E receberá a morte na cruz entre dois malfeitores…
15 Entretanto, agradece…
16 É que na lógica do Senhor, acima de tudo; brilham os valores eternos do espírito.
17 O Cristo louva o Todo-Misericordioso pela oportunidade de completar com segurança o seu divino apostolado na Terra, rendendo graças pela confiança com que o Pai o transforma em exemplo vivo para a redenção das criaturas humanas, embora essa redenção lhe custe martírio e flagelação, suor e lágrimas.
18 Não te percas, desse modo, em lances festivos sobre pretensas conquistas na carne que a morte confundirá hoje ou amanhã, mas, no turbilhão da luta que santifica e aperfeiçoa, saibamos agradecer os recursos com que Deus nos aprimora para a beleza da Luz e para a glória da Vida.
Emmanuel
(Reformador, setembro de 1957, p. 210)