1 Não somente aos indivíduos se encontram designadas atribuições distintas no imenso cenário da vida. Também, cada povo, cada país tem a sua missão a desempenhar, uma atividade específica a desenvolver em determinados planos evolutivos.
2 Eliminadas todas as questões da geografia política, é natural que o mundo, em suas expressões físicas, nada mais represente do que o patrimônio comum da humanidade, herdeira presuntiva dos gloriosos destinos que o Criador lhe fixou na eternidade luminosa.
3 Mas na luta de todos os dias podeis observar a ação de cada uma das nacionalidades, trazendo ao edifício do progresso universal a sua colaboração particular e especializada.
4 Muitas vezes, tentando elucidar o vosso entendimento, temos asseverado que o Brasil é a terra do Evangelho. De fato, em nenhum outro país se trabalha com mais fervor pela renascença do Cristianismo, na pureza das suas origens, como nas plagas brasileiras. 5 Pelo seu caráter nitidamente pacifista, foram os filhos da antiga Santa Cruz os escolhidos para a mais grandiosa das tarefas: a de conduzir, por entre os povos esgotados pelas lutas tigrinas, oriundas de ódios raciais, o estandarte bendito da crença pura, único fator do reerguimento moral das coletividades, prejudicadas no mais íntimo das suas organizações, pelos abusos a que se entregaram muitos daqueles que vieram ao mundo incumbidos de lhe proporcionar uma parcela de evolução espiritual.
6 Nos países da Europa, os fenômenos mediúnicos, na sua generalidade, se circunscrevem aos laboratórios dos céticos, aos ambientes impenetráveis dessa ciência que descansa sobre os louros conquistados, saturada de presunção e de pseudoinfalibilidade, ao passo que, no Brasil, a Doutrina consoladora se espalha pelas camadas populares, lenindo o coração infortunado dos humildes, esclarecendo os ignorantes, confortando os aflitos, como prometeu Jesus no seu suave ensinamento, beneficiando-se, todos os que sofrem, no manancial da sua caridade inesgotável. 7 O Espiritismo, no Brasil, com a sua feição religiosa e, por isso, redentora, acode, em toda a parte, a uma ânsia de paz e regeneração. 8 Essa diversidade é eminentemente significativa e basta para vos dar a entrever a gloriosa missão coletiva do Brasil como pátria do Evangelho.
9 O mundo vive atualmente a sua hora de fogo. Incompreendidos entre si, os homens se atiram uns contra os outros, esquecidos de que ainda não se encontraram a si mesmos no torvelinho das paixões, de sorte que a sociedade humana reflete, quase que literalmente, o amargo asserto de um dos maiores pensadores da época atual, quando disse que “toda a equipagem humana está dementada: põem de vigia um cego e ao leme um maneta”.
10 Mas não! Ao leme está o amor de Jesus, pairando acima de todas as discórdias dos povos, acima de todas as questões que infelicitam o mundo, onde a existência é um lampejo fugaz. 11 Para cooperar na obra imensa da regeneração das criaturas, para colaborar eficazmente na elaboração da paz universal, facultando nova concepção da fraternidade no ideal cristão, é que o Espírito da Verdade vela carinhosamente pelo lábaro de amor desfraldado no país do Cruzeiro. 12 Ao Brasil de amanhã espera um dia lindo e indescritível. Como a Canaã prometida, é para as suas infinitas possibilidades econômicas, para o seu seio, onde todas as raças confraternizam, caldeando sentimentos e dando origem ao ouro puro da fraternidade, que as outras nações volverão os olhos amortecidos, esgotadas pelo furioso excesso das lutas mais cruentas.
13 Espíritas! Uni-vos cristãmente atentos à sublimidade do vosso mandato! Não é sem razão que os desencarnados reconhecem no Brasil a terra do reflorescimento do Evangelho! Sob a bênção das suas estrelas, ouvem-se hinos de redenção e de paz, entoados por aqueles cujos pensamentos luminosos interpretam a vontade e a misericórdia do Cordeiro!
14 Entidades boníssimas preparam, com carinhosa solicitude, o seu grandioso porvir. Que todos vós saibais corresponder à confiança daquele que derrama sobre o mundo as luzes de suas graças, trabalhando todos, mediante o testemunho da fé, para que desabrochem nos corações as flores da crença e da paz, elementos basilares da anelada concórdia humana!
Bittencourt Sampaio
Reformador — 1º de setembro de 1935.