1 Diz-me o corpo, ao findar a jornada terrena:
— Deixa-me agora em paz! Não me prendas assim!
— Tempo!… Anseio mais tempo, — exoro, vendo o fim,
Enquanto a morte ausculta a dor que me envenena.
2 Eis que o Tempo perdido, em pranto, surge à cena!…
Imploro: “Ah! Tempo amigo, abeira-te de mim,
Quero voltar contigo à estrada de onde vim,
Para amar e servir, segundo a Lei me ordena!…”
3 Ele, porém, não ouve e afasta-se em surdina…
— Vamos! — Concita a Morte, — a luta não termina,
Não me atrases mais tempo à força de teus ais!…
4 — Onde o Tempo? — Clamei, e a Morte me elucida:
— Tudo terás de novo, o recomeço, a vida,
Mas tempo gasto em vão, nunca mais! Nunca mais!…
José Cirilo das Chagas
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