1 Vivera encastelado entre pepitas de ouro,
Conservava os dobrões em constante revista…
Padecera penúria, avaro e calculista,
Para afagar, sozinho, o metal frio e louro.
2 Por mais a angústia, cerce, implore, clame e insista,
Dar, lhe parece ater-se à loucura e ao desdouro;
A ambição pede mais para o tempo vindouro,
Mas o tempo galopa e a morte surge à vista.
3 Regela-se-lhe o corpo em triste pesadelo!…
Afanam-se na cova os vermes para vê-lo…
Ele acorda, estremece, agita-se, reclama…
4 Dementado, a razão, por fim, se lhe tresmalha,
Crê-se no leito antigo, ao toque da mortalha,
E vê ouro e mais ouro onde há lama e mais lama.
José Cirilo das Chagas
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