O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Palavras do Infinito — Autores diversos


A palavra dos “mortos”

1 Pedem de São Paulo a colaboração humilde do meu esforço para a apresentação de “Palavras do Infinito” que a abnegação de um grupo de espiritistas da Sociedade de Metapsíquica do grande Estado, tendo à frente o eminente amigo Dr. João Batista Pereira, vai lançar à publicidade com o objetivo de fornecer gratuitamente, com a mensagem dos mortos, um consolo aos tristes, uma esperança aos desafortunados e um raio de claridade aos que naufragam, desesperados, na noite escura da dúvida e da descrença em meio às borrascas do oceano tempestuoso da vida.


2 Existem poucas probabilidades de eficácia no esforço dos mortos em favor da regeneração da sociedade dos vivos. Contudo as atividades de ordem espiritualista, na atualidade do mundo, constituem a derradeira esperança da civilização. Sou agora dos que veem de perto o trabalho intenso das coletividades invisíveis pelo progresso humano; sinto ao meu lado a vibração luminosa do pensamento orientador das sentinelas avançadas de outras esferas da evolução e do conhecimento e reconheço que somente das concepções cristãs do moderno Espiritualismo poderá nascer o novo dia da Humanidade. E embora a negação sistemática dos homens diante dessas realidades consoladoras, os túmulos vêm deixando escapar os seus profundos e maravilhosos segredos, falando a sua palavra tocada de conforto e de claridades sobrenaturais.


3 Na antiguidade egípcia, figurava-se o santuário da verdade ao fim de uma estrada sinuosa, rodeada de esfinges, representando os enigmas das suas essências profundas; e no seu estranho simbolismo essas imagens constituíam as esfinges da Morte, cujos umbrais de silêncio e de treva a Vida jamais poderia transpor para solucionar os problemas inextricáveis dos destinos e dos seres. O tempo, todavia, modificou a mentalidade humana, adaptando-a para um conhecimento melhor de si mesma.  4 Em meados do século passado, quando o materialismo atingia as suas cumeadas, na expressão filosófica dos pregoeiros e expositores, eis que os mortos voltam a confabular com os vivos sobre a sua maravilhosa ressurreição. A esperança volta a felicitar a mansarda dos pobres e o coração dos oprimidos na prodigiosa perspectiva da imortalidade através de todos os mundos e os desencarnados, num heroísmo supremo, volvem aos centros de estudos e aos gabinetes dos sábios com a lição piedosa das suas experiências.


5 Não obstante a arrancada gloriosa dos que já haviam partido das substâncias podres da Terra para as esferas luminosas do Céu, tentando, com os seus exércitos de arcanjos, reorganizar a sociedade humana, restaurando os alicerces do Cristianismo, poucos foram aqueles que ouviram as suas trombetas ecoando no vale das lágrimas e das provações.  6 Diante desse fenômeno universal, a religião não pôde volver dos seus interesses e da sua intransigência para identificar a espiritualidade dos seus santos e dos seus antigos reformadores; a ciência acadêmica, por sua vez, conserva-se de guarda ao seu passado e com as suas conquistas de ontem presume-se na posse da sabedoria culminante.  7 Entretanto o dogmatismo é incompatível com o progresso, e todas as concepções científicas de cada século se caracterizam pela sua instabilidade, porque os olhos da carne não veem o que existe. Nenhuma teoria pode explicar a vida à base exclusivista da matéria. Todos os fenômenos mecânicos do Universo obedecem a uma força inteligente e nada existe de real diante da visão apoucada dos homens, porque as verdades profundas se lhes conservam invisíveis.


8 Os movimentos planetários, os turbilhões atômicos no complexo de todas as coisas tangíveis, inclusive o seu próprio corpo, o mistério da força, os enigmas da aglutinação molecular, o segredo da atração, a identidade substancial da energia e da matéria, que nunca se encontram separadas uma da outra, não se mostram aos olhos humanos dentro da sua transcendência e da sua grandeza.  9 Todo átomo de matéria tem a sua gênese no átomo invisível, de natureza psíquica. n Raios impalpáveis e ocultos trazem a vida e trazem a morte. E o homem, na sua ignorância presumida, mal se apercebe de que é o fantasma cambaleante de Édipo, vivendo na zona limitada do seu livre arbítrio, mas submetido às leis de bronze do destino e da dor, cujas atividades objetivam o aprimoramento de sua personalidade; apesar da sua vaidade e do seu orgulho, todas as suas glórias materiais caminham para a morte.  10 Nietzsche arquiteta com Zaratustra a filosofia do homem superior para cair aniquilado sob o seu próprio infortúnio. Napoleão, depois das lutas prestigiosas que lhe granjearam a admiração universal, recolhe-se em Santa Helena para meditar nas célebres sentenças do Eclesiastes. Édison, após encher de conforto as cidades modernas com a sua imaginação criadora, sente o esgotamento de suas forças físicas para aguardar o gume afiado da morte. Os homens, com todos os pergaminhos de suas conquistas, viverão sempre no círculo de suas fraquezas e de suas misérias, enquanto não se voltarem para o lado espiritual do Sofrimento e da Vida.


11 A manifestação das atividades dos mortos não lhes tem fornecido as conclusões de ordem moral que se fazem necessárias ao aperfeiçoamento coletivo; com algumas honrosas exceções, despertou apenas o sentimento de suas análises, nem sempre orientadas no propósito de saber, para serem filhas intempestivas das vaidades pessoais de cada um.  12 Disse Ingenieros nos seus estudos psicológicos, que a história da civilização representa apenas o desenvolvimento da curiosidade humana. Se isso é um fato incontestável, não é menos verdade que essa sede de revelações deve possuir uma bússola espiritual nas suas longas e acuradas perquirições do invisível. Muita experiência trouxe do mundo para acreditar que as teorias, só por si, possam operar a salvação da humanidade. Elas constituem apenas o roteiro de sua marcha onde os espíritos de boa vontade vão conhecer o caminho. São acessórios do seu esclarecimento sem representarem a compreensão em si mesmas.  13 Toda a civilização ocidental fundou-se à base do Cristianismo; todavia o que menos se vê, no seu fausto e na sua grandeza, é o amor e a piedade do Crucificado. A atualidade está cheia de exemplos dolorosos. Povos considerados cristãos preparam-se afanosamente para as lutas fratricidas. A Liga das Nações, que alimentava o sonho da paz universal está hoje quase reduzida a uma abstração de ideólogos. A Itália e Alemanha expansionistas empunham a espada do arrasamento e da destruição. Ainda agora o general Ludendhorf acaba de entregar à publicidade o seu livro terrível sobre a guerra total.


14 A crença e a fé não procedem de combinações teóricas ou do malabarismo das palavras e dos raciocínios. É no trabalho e na dor que se processam e se afinam. Para a fé não há melhor símbolo que o toque de Moisés sobre as rochas adustas, fazendo brotar o lençol líquido das águas claras da vida. Só a dor pode tocar o coração empedernido dos homens e é por isso que a lição dos mortos servirá somente para constituir a base nova da sociologia de amanhã. A fé, por enquanto, continuará como patrimônio dos corações que foram tocados pela graça do sofrimento. Tesouro da imortalidade, seria o ideal da felicidade humana se todos os homens o conquistassem, mesmo nos desertos tristes da Terra.


15 Um grande astrônomo francês, inquirido sobre as recompensas do Céu, acentuou:

“Mesmo aqui podem as criaturas receber as recompensas do paraíso. O Céu é o infinito e a Terra é uma das pátrias da Imensidade; todos os homens, portanto, são cidadãos celestes. É aqui, na superfície triste do mundo, que as almas realizam a aquisição de suas felicidades. Estamos em pleno céu e em toda a parte veremos cada um receber segundo as suas obras…”


16 Sobre as frontes orgulhosas dos homens pairam os órgãos invisíveis de uma justiça imanente e sobre a Terra pode o Espírito fazer jus aos prêmios do Alto. A crença, com os seus esplendores subjetivos, é um desses maravilhosos tesouros.

17 Que as palavras do infinito se derramem sobre o entendimento das criaturas; cooperando com a dor, elas descobrirão para o homem as grandezas ocultas de sua própria alma, a fim de que ele aceite, em seu próprio benefício, as realidades confortadoras da sobrevivência. A voz do Além pode ficar incompreendida, mas os mortos continuarão a falar para os vivos, comandados à ordem de Alguém, que está acima das opiniões de todos os cientistas e escritores, encarnados e desencarnados. Foi a piedade de Jesus que abriu as cortinas que velavam os mistérios escuros e tristes da morte e o Divino Jardineiro conhece o terreno fecundo onde germinam as sementes do seu amor.

18 Os homens aprenderão à custa das suas dores, com todo o fardo de suas misérias e de suas fraquezas e as palavras do infinito cairão sobre eles como a chuva de favores do Alto. Que elas se espalhem nos corações e nas almas, porque cada uma traz consigo a claridade de um sol e a doçura de uma bênção.


Humberto de Campos

(Irmão X)

(Recebida em Pedro Leopoldo a 27 de março de 1935)



[1] “natureza psíquica” — Psique: alma, espírito, mente (por oposição a corpo).


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