Assistiram ontem às experiências de Chico Xavier na Federação Espírita Brasileira.
Psicografada mais uma página de Humberto de Campos!
Chico Xavier, o notável médium de Pedro Leopoldo, foi apresentado, na Federação Espírita Brasileira, aos espíritas do Rio. n Compareceram ao velho casarão da Avenida Passos mais de três mil pessoas, desejosas de conhecer, de visu, o instrumento de que Humberto de Campos, Augusto dos Anjos e outros grandes nomes das letras brasileiras se têm servido para se comunicar com a Terra.
O Sr. Manuel Quintão, vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, antes de abrir a sessão, dirigiu a palavra aos presentes, indagando se ali tinham comparecido para ver a carcaça do homem ou o espírito de Deus e auscultar a alma do irmão.
Referiu-se o orador aos excessos terrenos, quando surge um médium de sensibilidade igual à de Chico Xavier e todos se interessaram por ele, exigindo mais do que o natural e possível.
Feita a prece, o presidente comunica aos presentes que o médium Francisco Xavier estava tocado para receber algo do Além. Pedia silêncio e concentração, a fim de que a comunicação não fosse, de maneira alguma, prejudicada.
A PRIMEIRA COMUNICAÇÃO — JOÃO DE DEUS
A cabeça de Chico Xavier pende sobre o peito. Um estranho estremecimento agita-o. Segura automaticamente o lápis que o presidente lhe dá e, apoiando a fronte com a mão esquerda, faz a direita deslizar sobre o papel, com os olhos semicerrados. O lápis desliza com uma rapidez incrível sobre o papel. É uma letra grande, bastante legível. O médium, depois de escrever três laudas, descansa um pouco a mão sobre a mesa; o repórter aproveita a interrupção e lê:
SEGUNDA COMUNICAÇÃO — EMMANUEL
Chico Xavier faz o lápis correr, novamente, sobre o papel. Agora é longa comunicação de Emmanuel, o guia do médium, que faz um belíssimo estudo sobre a atual situação político-social do mundo, mostrando as causas determinantes da formação de novas doutrinas atentatórias à liberdade humana e às leis que regem o Universo.
A Espanha do momento, segundo diz Emmanuel, não é mais do que um reflexo do estado atual do catolicismo, em virtude da corrupção de seus ministros e da desvirtuação das finalidades que se propuseram cumprir em todos os séculos e gerações.
Tão grave é a situação do mundo, atualmente — diz ainda o Espírito de Emmanuel — que se torna necessária a intervenção dos mortos, cujos olhos veem onde os olhos dos vivos não podem ver, a fim de ministrar conselhos e ensinamentos.
Dada a extensão do estudo de Emmanuel, deixamos de transcrevê-lo em nossas colunas.
HUMBERTO DE CAMPOS
A crônica abaixo foi recebida por Chico Xavier na residência do Sr. Manuel Quintão. Belíssima página de literatura, vem mostrar que o grande pensador brasileiro continua tendo, além-túmulo, a mesma facilidade de expressão e maneja o português com a mesma elegância com que fazia na vida terrena.
(“Diário da Noite” do Rio de Janeiro, de 13 de junho de 1936)
[1] [Vide: O Rio ainda não é outro mundo (Reprimenda carinhosa de Emmanuel a Chico às vésperas de sua viagem ao Rio de Janeiro para uma reunião na Federação Espírita Brasileira)]