1 Não me bastou, Senhor, velar atento
A misteriosa luz com que, à procura
De um luminoso céu em miniatura,
Vivi sonhando em meu deslumbramento!
2 Dentro do meu ideal supus, que, isento
De toda a dor, de toda a mágoa obscura,
Alcançasse o castelo da Ventura
Na glorificação do Pensamento.
3 Mas, ai de mim! meu barco pequenino
Perdeu-se em meio à torva tempestade
Sem divisar a luz de qualquer porto;
4 E as minhas esperanças de menino
E os anelos de amor e mocidade
Naufragaram no grande desconforto.
SONHO INÚTIL
1 Em minha juventude estive à espera
De um malogrado sonho superior.
Esperança divina que eu quisera
Ver aureolada, por um grande amor!
2 Mas não pude esperar quanto devera
Nos carreiros aspérrimos da dor,
Sem fé, que era aos meus olhos a quimera
Do pensamento mistificador.
3 Meu erro foi descrer, porque, deserto
O coração, somente acreditei
Na Morte, o grande abismo, o nada incerto!…
4 Oh! o maior dos enganos perpetrados!
Pois no meu sonho altíssimo de rei
Achei a dor dos grandes condenados!
Hermes Fontes
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