Abrindo o programa “Pinga Fogo” do Canal 4, TV-Tupi de São Paulo, na noite de 28 de julho de 1971, o apresentador Almir Guimarães colocou o médium Francisco Cândido Xavier ante as câmeras e fez a sua apresentação e a dos jornalistas que iam entrevistá-lo. Eram esses: João de Scantimburgo (católico) e J. Herculano Pires (espírita) — ambos professores universitários e comparecendo como convidados; e mais os jornalistas da equipe do programa: Hele Alves, Reale Júnior e Saulo Gomes.
Chico Xavier agradeceu as referências de Almir à sua pessoa e dispôs-se a responder, contando com o auxílio espiritual. Afirmou: “Estou confiante no Espírito de Emmanuel, que prometeu assistir-nos pessoalmente.”
A seguir, iniciaram-se as perguntas:
1 João de Scantimburgo — (Depois de um preâmbulo em que define a sua posição de católico) — Senhor Chico Xavier, Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, dá o nome de psicografia direta à escrita em que o médium, de posse de lápis ou caneta, passa a escrever, segundo o fundador do Espiritismo, por meio da comunicação de um Espírito. Admitindo-se, para iniciar a entrevista, que as obras publicadas pelo senhor tenham sido psicografadas, pergunto: quantos livros o senhor psicografou e de que autores. Peço, se possível a relação de alguns ou da maioria deles.
Chico Xavier — De 1932, ano em que foi publicado o primeiro livro mediúnico recebido por nós, até agora, meados de 1971, estão publicados 107 livros e temos 4 livros no prelo. Desses livros são autores o Espírito de Emmanuel, que nós consideramos como sendo o nosso orientador espiritual desde o término do ano de 1931, quando a presença dele chegou ao nosso conhecimento; o Espírito André Luiz, que declara ter sido médico no Brasil; o Espírito que dá o nome de Irmão X, que nós sabemos ser o pseudônimo de um dos nossos maiores escritores do norte do país; o Espírito de Casemiro Cunha, que foi poeta muito respeitado no estado do Rio; o Espírito de Meimei, uma jovem professora mineira e Espíritos diversos que constam de coletâneas, antologias, como vários poetas, trovadores que integram as equipes de Espíritos comunicantes nos livros Parnaso de Além-túmulo, Antologia dos imortais, Poetas redivivos, Trovadores do Além, Trovas do outro mundo, Orvalho de luz, Trovas do Mais-Além, e alguns outros que podemos especificar numa relação por escrito.
2 Hele Alves — Senhor Chico Xavier, muito se tem ouvido falar; principalmente da parte dos estudiosos da matéria, que o mundo espiritual é dividido em vários Planos. Inclusive fala-se também em Sub-planos. Existe realmente essa distinção de Planos de vida espiritual?
Chico Xavier — Os Espíritos comunicantes que nos instruem a esse respeito, são unânimes em declarar que esses planos existem tanto quanto também em nossa organização social na Terra, por muito grandes que sejam as teorias de igualdade absoluta. Nós estamos sempre integrando faixas de vida social diferentes, segundo a nossa cultura, as nossas atividades e sentimentos, as nossas preferências, as nossas tendências. De modo que podemos contar com muitos planos já na sociedade terrestre. Além deste mundo, a sociedade espiritual se subdivide em diversos Planos.
3 Hele Alves — Eu queria complementar. Dizem os espíritos que a vida é uma escola. Nós passamos de ano quando conseguimos uma certa evolução. Essa evolução se faz durante a nossa vida na Terra ou também durante a nossa vida no espaço?
Chico Xavier — Na vida terrestre nós temos sempre um programa de trabalho e de autoeducação a ser realizado, mas esse programa prossegue além desta vida conforme as nossas necessidades, porque todos estamos subordinados à misericórdia de Deus dentro da Justiça que nos rege os destinos. Muitas vezes nascemos na Terra ou renascemos na Terra com um determinado programa de serviços a realizar, mas realizamos esse programa de modo imperfeito. A Justiça seria, naturalmente, que fosse cassado para nós o direito da continuidade de trabalho. Mas a misericórdia de Deus impera no Universo inteiro. Portanto, há continuidade de trabalho para nós todos e continuidade de estudo na outra vida, graças a Deus.
4 Reale Júnior — Eu gostaria de saber como o senhor explica a morte violenta de Arigó e a própria morte tormentosa de Joãozinho da Gomeia?
Chico Xavier — A pergunta está muito bem formulada. Conhecemos, por informação, a médium Ana Prado, em Belém do Pará, que foi responsável por fenômenos de materialização dos mais legítimos e que desencarnou num acidente, incêndio das próprias vestes. O nosso ponto de vista religioso não nos isenta da execução das leis cármicas no campo de nossos destinos. Podemos realmente trabalhar muito, fazer muito por determinada ideia, por determinado setor de educação social e em qualquer outro campo de progresso humano, mas não estamos isentos. A mediunidade não nos isenta com privilégios especiais com respeito à desencarnação. Devo acrescentar também que sem aplaudir o sofrimento dos nossos irmãos que partiram de maneira tão comovedora para nós todos, perguntamo-nos: Não seria esse o processo de aliviá-los ou defendê-los contra provações que dentro da lei do carma seriam para eles muito maiores, se eles continuassem na Terra? Se eu tiver, por exemplo, um problema — vamos dizer circulatório — que me iniba de trabalhar durante alguns anos, que me transforme o corpo num tropeço para aqueles que me amam, conquanto eu saiba que todos aqueles que me amam terão muito prazer em me ajudar, não seria melhor para mim que a misericórdia de Deus, os seus emissários me cassassem essa possibilidade de permanecer muitos anos na Terra dentro de um regime de inutilidade, auxiliando-me a partir de um momento para outro? Refiro-me à minha pessoa, conquanto não deseje a morte violenta para pessoa alguma.
5 Almir Guimarães — Chico, há uma pergunta aqui sobre o Arigó e ainda dentro dessa linha traçada (de telespectador), pelo Reale Júnior. Eu vou formulá-la porque ela já fica respondida também nessa questão do Arigó. O telespectador deseja saber se o Arigó teria sido cientificado do seu fim como médium.
Chico Xavier — Conheci pessoalmente José Arigó durante três anos de convivência muito estreita, de 1954 a 1956. Sempre me pareceu um apóstolo legítimo da nossa causa espírita e, sobretudo, da mediunidade a serviço do bem, um pai de família exemplar, um amigo de todos os sofredores. Depois da nossa mudança para Uberaba, em 1959, perdemos contato mais direto com Arigó. Não temos elementos para ajuizar a atuação de José Arigó no campo da mediunidade nos últimos anos. Mas fico também a pensar por mim; depois de recebidos esses livros, mais de 100 livros, depois de 40 anos, (estamos completando quase 45 anos de atividade mediúnica com a Doutrina Espírita, porque o fenômeno mediúnico se manifestou conosco de 4 para 5 anos de idade), então eu penso: Meu Deus, se eu tiver de criar um problema de desapontamento geral para todos aqueles que creem nos bons espíritos por meu intermédio; se eu carrego tantas fraquezas a ponto de comprometer tudo aquilo que esses livros construíram através de minhas mãos, que são tão frágeis e que são tão incapazes e que eu reconheço absolutamente inaptas para realizarem um trabalho desses; durante tantos anos eu bendiria o amparo dos amigos espirituais que determinassem para mim a desencarnação violenta para que eu não crie mais problemas ou mais dificuldades para os meus irmãos da Terra, que creem em Jesus e nos seus mensageiros, por intermédio da mediunidade, que tem sido para mim uma bênção durante tantos anos. Compreendo a minha condição humana e faço esta prece, que os bons Espíritos me livrem de mim mesmo.
Francisco C. Xavier
Emmanuel