1 O companheiro recém-desencarnado, após o natural período de refazimento que se segue à liberação do corpo físico, analisava as suas próprias condições no Mundo Espiritual.
2 Havia militado no Espiritismo. Orador fluente, arrebanhara corações para a fé. Escrevera artigos substanciosos. Possuíra vasta biblioteca. Polemizara em defesa da Causa. Fizera-se admirado e aplaudido por muitos.
3 No entanto, experimentava agora certa angústia e uma estranha sensação de vazio impreenchível na alma…
4 É verdade que não se considerava um fracassado, de vez que colaborara ativamente na propagação da Doutrina, mas sentia que algo importante lhe faltava por dentro de si mesmo.
5 Deliberou, então, solicitar a conhecido Benfeitor da Vida Maior que lhe auxiliasse a entender o seu caso.
6 Depois de ouvi-lo com paciência e carinho, qual se já lhe conhecesse de velho as lutas na existência terrestre, o Instrutor esclareceu.
— Filho, não resta dúvida de que, até certo ponto, soubeste aproveitar a parcela de tempo que a Misericórdia Divina te concedeu na última romagem pelo mundo, mas não podemos negar que se não fosse, digamos, por um esquecimento de tua parte, estarias agora, com a aprovação da consciência, desfrutando de uma situação mais favorável aos teus anseios…
7 — Diga-me, por favor, de que foi que me esqueci assim que tanta falta me faz? — indagou o amigo vertendo lágrimas copiosas.
— O esquecimento a que nos referimos, infelizmente, é o esquecimento da maioria dos homens que se consagram na Terra aos assuntos teóricos da religião… Esqueceste, meu filho, de manter contato direto e diário com a dor do próximo, distanciando da caridade o concurso insubstituível de tuas próprias mãos!…
Hilário Silva