1 Meu querido papai, minha querida mãezinha, estou forte, tranquila, quase feliz se não fosse o sofrimento natural da grande separação.
2 Rogo abençoem a filha que realmente não morreu.
3 Venho até aqui amparada por muitos amigos, mas especialmente por tia Maria, a fim de pedir-lhes coragem e paciência.
4 Não pensem na morte. Não aceitem desânimo no coração.
Pensemos na vida, na beleza da vida, com fé em Deus.
5 Estou melhor, menos abatida, menos aflita.
6 Nós temos agora uma família maior, os que sofrem mais do que nós.
7 Não se acreditem sozinhos.
Sei que lastimam agora fosse eu uma filha só em casa.
Não chorem por isso, porque Jesus nos dá por filhos as crianças sem lar.
8 Não suponham que poderiam ter tido mais filhos, que teria sido melhor a família maior, a casa mais cheia. Não, mãezinha, tudo está certo.
9 A senhora fez o melhor.
Quis juntamente com meu pai que a sua filha estudasse e crescesse para uma nobre tarefa.
10 Deram-me tudo, em nossa felicidade familiar.
Mas o Senhor por suas leis resolveu de outro modo.
11 Isso não impede nosso trabalho de amar as crianças menos felizes daí, vamos acrescentar a felicidade onde estivermos.
12 Não chorem mais.
É verdade que a primeira série de meus estudos estava firme e sinceramente eu queria ter ficado, viver com vocês dois…
13 Sonhava também ajudá-los, retribuir as dádivas de amor com que me enriqueciam as horas…
Mas a leucemia no corpo estava no programa.
14 Ao vê-los aflitos, desconsolados, fiz tudo para aproveitar os remédios, entretanto, mãezinha, a minha cura tinha de ser espiritual e não física.
15 Hoje sinto-me renovada e quero que se renovem. Auxiliem-me com a paz.
Lembrem-me viva, satisfeita, estudando com alegria.
16 As lágrimas com que me recordam caem no meu coração por chuva de fogo.
17 Desculpem-me ser assim tão franca.
Mas é verdade, o que digo, o pensamento é uma ligação, que ainda não sabemos compreender.
18 Quando estiverem com as nossas lembranças mais vivas, comemorando acontecimentos, não se prendam à tristeza.
19 Embora separados estamos juntos em nosso íntimo.
Explicar isso ainda não sei.
20 Posso, porém, dizer-lhes que estou com vocês dois, assim como alguém que carregasse no ouvido um telefone obrigatório.
Não estou em casa mas ouço e vejo quanto se passa.
21 Nossos amigos daqui me esclarecem que isso passará quando a saudade for mais limpa entre nós.
22 Saudade limpa!… Nunca pensei nisso. Mas dizem que a saudade que se faz esperança no coração, é assim como um céu claro, mas a saudade sem paciência e sem fé no futuro é semelhante a uma nuvem que prende com sombra e tristeza aqueles que lhe dão alimento na própria alma.
23 Agradeço as preces e as vibrações de ternura com que me ajudam, mas não percam a confiança.
24 Quando vier o Natal não chorem mais como fizeram da última vez. Sofri muito ao vê-los em aflição.
25 Há quase um ano estou aqui na vida diferente e desejo melhorar-me, aprender, progredir.
26 Não acusem a leucemia não.
O que houve, conforme aprendo agora, foi resgate em mim mesma.
27 Vim a saber que em outro tempo, confiei-me ao veneno, extenuando a vida em mim própria.
Renascendo, passei pelos resultados.
Tudo está bem, se compreendermos que Deus só nos deseja o Bem.
28 Não posso escrever mais.
Agradeçam à tia Maria e ao vovô Joaquim, o que fazem por mim.
29 Agora vocês podem fazer isso. Orem, e na prece, falem a eles do bem que nos trazem.
30 Papai, mãezinha, a saudade pode ser grande, mas a esperança é maior.
Confiemos na Bondade de Deus e recebam o coração da filha que lhes pede a bênção,
Marilda
Elias Barbosa
[1] “Mensagem Espírita”, Porto Alegre, Rio Grande do Sul Ano I, nº 4, agosto de 1969, págs. 3-4. Mensagem recebida na noite de 20-6-1969, em Uberaba, Minas, dirigida aos pais da jovem comunicante, Sr. Walter Menezes e D. Cândida Menezes, residentes na cidade de Igarapava, Estado de S. Paulo.