Em 1954, alguns confrades foram a Pedro Leopoldo, no mês de agosto, a fim de tomar contato com a sessão que lá se desdobrava, numa sexta-feira e também colaborar com os comentários a fim de levantar o padrão espiritual na reunião. No pequeno grupo estavam: Newton Boechat, Rubens Romanelli, Henrique Rodrigues, José Silvério Amorim, Cleone Matos, e sua progenitora Dona Vitalina Matos. Grande assistência no Centro, muitos comentários evangélicos, tendo a sessão terminado à uma hora da manhã. Chico Xavier, após a leitura da mensagem da noite, instruções de Emmanuel, envolvido pelo grupo remanescente, disse à Cleone Matos:
— Cleone, minha filha, você tem meditado nas coisas espirituais e orado com frequência, ultimamente?
Dada a intimidade e a constante camaradagem entre os dois, daquele seu jeito alegre e extrovertido, Cleone respondeu:
— Por que pergunta, Chico? Você está parecendo uma coruja agourenta! — ao que o médium retrucou:
— Faço a pergunta porque no curso das horas, alguns fatos imprevistos, desagradáveis, podem ocorrer.
Diluiu-se o grupo, a pequena comitiva voltou a Belo Horizonte e uma semana depois, na parte da manhã, de um dia ensolarado, à Rua Martito, 58, no Bairro da Graça, Dona Vitalina, acometida de um colapso cardíaco, desencarnou nos braços da filha, com quem se achava a sós, na cozinha. A perturbação, o desajuste se instalaram na jovem. Pânico. Confusão. A filha não sabia se deixava o corpo da genitora, que mal sustinha na cozinha, ou se vinha para a rua pedir socorro. Apareceram então algumas pessoas amigas, vizinhas, que se encarregaram do amparo moral e das primeiras providências. Com a situação acomodada, Cleone buscou contato telefônico com o Chico, fazendo-o diretamente para a Fazenda Modelo, a dois quilômetros daquela cidade onde o médium trabalhava.
Atendida a ligação pelo psicógrafo, embargada, a moça do lado de cá, disse-lhe numa quase exclamação:
— Ah, Chico — e ele, do outro lado da linha:
— Cleone, você quer me dizer que a nossa mamãe Talina partiu, não é?
E para perplexidade dela, continuou dizendo:
— Na reunião de sexta-feira, quando se revezavam os oradores no comentário da noite, ao me desdobrar, registrei, por vidência, quando seu pai se aproximou e dando pancadinhas nas costas de mamãe Talina me disse: — “Chico, eu estou muito satisfeito porque dentro de uma semana a minha costelinha vem para o lado de cá!” O nosso Emmanuel e outras entidades lúcidas têm várias vezes nos reafirmado que esse chamado choque humano ante o inesperado da desencarnação de reflexo tipicamente material, não tem nenhum sentido no Plano espiritual; existe, porém, um tipo de morte temível por aqueles que já se fizeram rumo aos Altos Planos da Vida Maior. É a morte da consciência; criaturas há que se enrijecem no orgulho, se mumificam na vaidade, se cristalizam no egoísmo e se põem deitadas em sarcófagos amoedados que mais cedo ou mais tarde o tempo desfaz. E, — coisa paradoxal, — ninguém lhes chora essa espécie de morte. O que se quer comumente, e este é o desejo das mentes concretas que vivem na aba exterior da vida, é que os seus parentes, amigos e conhecidos, embora enfermiços, e presos aos mais torturantes processos patológicos, permaneçam ao seu lado, egoisticamente retendo-os porque ainda ignoram, insensíveis, que a vida é uma contínua desmaterialização de formas, rumo a um centro conceptual que está no Infinito.
Elias Barbosa
[1] Depoimento prestado na residência do Autor, em Uberaba, na tarde de 20 de fevereiro de 1968. Professor Newton Boechat, eminente jornalista e lidador da Causa Espírita, residente no Rio.