1 Juca Monteiro, no sítio,
Estava octogenário,
Sempre alegre e acolhedor,
Muito embora solitário.
2 Preso à cadeira de rodas
Depois de grave acidente,
Não lastimava a velhice
Nem se dizia doente.
3 Cedo ficara viúvo
E as duas filhas casadas
Residiam longe dele,
Amigas e dedicadas.
4 Mantinha, porém, consigo
Os seus próprios defensores:
Quatro cães policiais
E um casal de servidores.
5 No dia em que fomos vê-lo
Em serviço de assistência
Mostrava-se qual criança…
Chegara um dos netos dele,
O jovem Paulinho França.
6 Monteiro muito contente
Conversava em voz segura,
Admirava no moço
A gentileza e a cultura.
7 Em certo instante, Paulinho
Comunicou ao doente
Que cedo viajaria,
A fim de seguir à frente…
8 E acentuou constrangido:
— “Rogo ao senhor me releve
Vou ver contas de meu pai,
Mas voltarei muito em breve.”
9 O avô disse concordar
E explicou que ele sabia
Que o genro necessitava
De pôr as contas em dia.
10 O neto voltou à carga,
Consultando, apreensivo:
— “A pedido da mamãe,
Preciso eu de levar
As fotos do mano Altivo.
11 Rogo ao senhor emprestar-me
A chave do quarto dela,
É aquele muito abafado
Pela falta de janela…”
12 O avô atendeu, de pronto.
Retirou a dita chave
De um molho com laço forte
E disse-lhe: “Achar retratos
Com tanta pressa, meu filho,
Seria ter muita sorte.
13 Procure entrar no aposento,
Entretanto, acenda velas,
Pois o quarto é muito escuro…
Caminhe lá com cuidado,
Aqui, há sempre monturo…”
14 O rapaz, incontinente,
Toma a chave e eis que se apruma;
Vai ao quarto, a pé ligeiro,
Mas sem levar luz alguma.
15 Fechando-se lá por dentro,
Tateia caixas em pilha
Retira logo a terceira
Por saber que ela guardava
Os brilhantes da família.
16 Mergulha as mãos entre as pedras,
A ambição lhe surge e cresce,
Levaria do tesouro
Os brilhantes que pudesse…
17 Agitando as pedras todas
O moço geme e se estaca,
Sem tirar pedra nenhuma,
Tocado de dor aguda,
Caiu no piso, gritando,
Mordido de jararaca.
Jair Presente
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