1 Antônio Homero de Souza,
Professor e cientista,
Dizia com seriedade
Ao amigo João Batista:
2 — “João, dê amparo às crianças…
Nossa vida ruralista
Chega a ser calamidade.
Observe e fique certo,
Os nossos males extremos,
A meu ver, mais da metade,
Vem daquilo que bebemos.
3 “Conheço muitas famílias,
Formadas por gente nossa,
Que se servem de água impura,
De poço perto de fossa…
4 “Há pessoas que consomem
Venenos de água parada,
Meninos soltos nas ruas
Sorvendo grossa enxurrada!
5 “Noto pessoas distintas,
Que tomam banho em lagoa,
Na cultura de micróbios,
Pensando que é cousa à-toa…
6 “E os alcoólicos? Nem sei
O que se vê por aí.
É licor de jenipapo,
De araticum e pequi…
7 “São muitos os imprudentes,
Passo vão, cabeça oca,
Que morrem, antes do tempo,
Qual o peixe pela boca…
8 “Precisamos de campanhas,
Fazê-las inda não pude,
Alguém deve proteger
A defesa da saúde.”
9 João, que estava impressionado
Por tudo quanto escutara,
Dirigiu-se ao professor,
Perguntando, cara a cara:
10 — “E o senhor, Doutor Antônio,
Preservando a própria vida,
O que usa com frequência
Em matéria de bebida?”
11 O professor respondeu,
Sem qualquer tom de chalaça:
— “A fim de que eu viva bem,
Só bebo a nossa cachaça…”
12 À pressa, porém, pensou
Na grande malícia humana,
E falou para Batista:
— “Mas a cachaça que eu bebo,
Tem sementes de umburana.”
Jair Presente
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